quinta-feira, 25 de setembro de 2008

There's no place like home...

Neste “querido mês de Agosto” que é sinónimo de férias e de viagens, proponho (se não para este últimos dias, então para o ano que vem) a verdadeira experiência de Verão, a viagem de referência, algo que nunca mais será esquecido e a preços de amigo.
Não me refiro a uma ida ao Algarve (santuário de peregrinação para, no mínimo, meio milhão de ingleses, uns bons milhares de alemães, franceses, italianos e demais europeus), mas antes a algo muito mais “em conta” e que não deixa de ser uma fonte in loco de conhecimento sobre os hábitos e tradições portugueses.
Falo, obviamente, de uma viagem na nossa Rede de Expressos. Viajar nesta conhecida rede transportadora é um desafio a várias das nossas capacidades Todos os trâmites comuns a qualquer viagem (comprar o bilhete, dirigir-se à pista de transporte, a viagem em si e depois a saída) constituem uma aventura única da qual jamais se esquecerá e fa-lo-á descobrir níveis de paciência nunca antes imaginados.
Uma vez na bilheteira ficamos espantados com a rapidez e eficiência com que somos atendidos. Quando pensamos que afinal até estamos num país de primeiro mundo eis que começam a surgir os sinais exteriores de “portugalidade”: um bar com mesas mas sem cadeiras (as mesas são de pé alto, o que para mim e muito bom português menos dotado no que a centímetros de altura diz respeito, em nada facilita a degustação de um pão de leite com um galãozinho quente), ausência da noção de fila para esperar pela vez, o que cedo nos leva a ir para outras bandas.
Ora, sem café mas com vontade de me sentar no meu lugar, dirijo-me à pista onde supostamente o autocarro deverá estar. Com a diferença que não, não está nem agora, que deveria partir, nem nos próximos 20 minutos. Levanto a cabeça e penso que o meu país não me traiu. Quando finalmente o autocarro chega, e separada a bagagem por diferentes destinos de paragem, sento-me e viajo até ao primeiro destino (sim que viagem portuguesa que se preze não pode passar sem a noção de transbordo).
Chegada ao meu destino de transbordo, não transbordo de alegria pois não só não consigo localizar a pista do autocarro que me está destinado (tal como os meus companheiros de viagem), como quando finalmente se descobre a almejada pista, a viatura não está lá… de novo. Tendo de esperar mais uns 10 minutos, o autocarro surge, e, postas as bagagens, procuro o meu lugar que tardo em encontrar, visto que, entretanto, foi ocupado por outros passageiros, porque lhes fora dito pelo motorista que os lugares que estão marcados no bilhete são para ignorar. No entanto, e porque noblesse oblige, retiraram-se e foram procurar o seu lugar por direito.
Após tanto percalço, espera e descoordenação chego ao meu destino, desço do autocarro e qual Dorothy (mas sem estrada de tijolos amarelos) penso: “there’s no place like home”.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de 20 de Setembro de 2008.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Higiene a quanto obrigas

Eu sei, eu sei, já aqui falei sobremaneira de transportes e muitos dos hábitos, insólitos, rituais e demais comportamentos a eles associados mas não consigo, pura e simplesmente não consigo deixar de mencionar mais um.
Começo esta reflexão com uma pergunta (que pode ser lida retoricamente se se preferir pois por muito que pense não vejo resposta ou até solução possível para esta “problemática”). Por que razão não há casas de banho nos transportes públicos de pequeno (ou mesmo minúsculo) curso? Se os comboios, aviões, autocarros de longo de curso os têm, então por que motivo não os têm os outros?
A pergunta parece imbecil, pois se os transportes são de curtas distâncias não será de todo necessário a colocação de instalações sanitárias (eufemismo chiquíssimo para casas de banho, diga-se de passagem) pois as pessoas não precisarão dos serviços que estes oferecem.
Engano, puro engano. Ao fim de mais de uma década a utilizar variados transportes em diferentes pontos do país, constato que os passageiros necessitam com elevada premência destas instalações. E por que digo isto? Porque estou absolutamente cansada de ter de partilhar uma intimidade não desejada, inconveniente e até um pouco nauseante com os meus “colegas” passageiros: ora desde o recorrente barulho do corta-unhas a tentar eliminar restos mortais de queratina, ao escovar de cabelos, ao colocar do batom, ou ao sôfrego retirar de substâncias “naso-mucais” não identificadas (passe o neologismo), a tudo tenho eu assistido com pasmo e aflição.
Pasmo por pensar que em pleno século XXI ainda não se percebeu a diferença entre espaço público e privado e aflição por não poder sair na paragem seguinte.
Já não basta haver sempre fila quando vou ao Multibanco (e a pessoa que está à nossa frente tem sempre as contas todas do mês para pagar, incrível não é?) ao banco e demais serviços, ainda me deparo com estes pequenos rituais que desafiam qualquer lei higiénica em que qualquer semelhança com civismo é pura coincidência.
Pelo sim pelo não, começo cada vez mais a usar uma velha máxima de infância que agora aplico a este contexto e aqui a deixo para vós à laia de aviso: quando entrar num transporte público, faça como eu: “Pare, escute e olhe”.


Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de dia 30 de Agosto de 2008