segunda-feira, 29 de março de 2010

Note to myself

Aluna-"Stôra, não estou a conseguir dar as respostas".

Eu-"Talvez não estejas a fazer as perguntas certas".

sábado, 27 de março de 2010

Validade...

Outro dia estava à entrada de uma sala de teatro e fui levantar um bilhete para ver a peça em cartaz. Perguntaram-se era um convite, ao que respondi negativamente, em seguida perguntaram-se se eu era estudante, se estava ligada ao mundo do espectáculo e, visto que a todas as gentis perguntas eu respondia de forma negativa ainda me lançaram a pergunta que é a pièce de résistance nestes casos que é se tenho menos de 25 anos (a mística do “Cartão Jovem” a pairar no ar).
Não, não tenho a idade, pelos vistos, adequada, (qual iogurte fora de prazo), já não sou, formalmente, estudante e não pertenço a nenhum grupo ou lobby das Artes e Espectáculos, sendo que como tal não fui convidada para assistir.
Visto não preencher os pré-requisitos, não passei com distinção no exame de admissão e tive mesmo de pagar. Apenas me assistiu a Vontade, o genuíno gosto pela Arte de Talma e, pensava eu que isso bastava.
Descontamos ou queremos descontar. preços, produtos, impostos, taxas (estes últimos, nem por isso). Descontamos até no tempo. No que passamos com os que mais nos são queridos, descontamos no(s)espaço(s) pois “sai mais barato”.
E vamos assim, vida fora, com “kitchnettes”, compartimentos dentro de nós para (nos) poupar(mos).
Queremos poupar mas queremos receber. Criamos as nossas próprias leis de mercado afectivo, profissional e de lazer. Esperamos sempre algo em troca afinal não há almoços grátis e se pudermos ter o mesmo descontando um pouco mais, ninguém se importará e, quem sabe, se formos muito generosos até poderemos ser reembolsados.
Vidas reembolsadas, planos poupança e, provavelmente, muito pouca Reforma...em nós.
Volto às tábuas e ao palco. Queria apenas ver a peça. Queria tanto que nem pensei em descontos, “talões e outras complicações”. Apenas eu e a minha Vontade.
Sem reembolsos, descontos ou “vales-oferta”. Somente a gratidão de poder observar o que Outros me queriam mostrar. Sem regateios abri os cordões à minha própria bolsa de mercado. Mãos largas sem prazo de validade.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de 27 de Março de 2010.

terça-feira, 23 de março de 2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

Ao 21 de Março...

"A vida completa e bela e terna

está aqui já

mas não é desnecessário

escrever poemas"


6 poemas,
Adília Lopes




A partie de agora, todo o poema que fale de amor, fora.

Todo o poema que não revolucione, fora.

Todo o poema que não ensine, fora.

Todo o poema que não salve vidas, fora.

Todo o poema que não se sobreviva, fora.

Vou deixar um anúncio no jornal:

Procura-se poeta. Trespasso-me".


Diário, Ana Salomé.

sábado, 20 de março de 2010

(More) Comic relief



in Revista 365, de Fernando Alvim.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Terminologia

Howard- "As pessoas nunca nos odeiam por sermos fracos, odeiam-nos por sermos fortes.

Carol- "Sam, tu enganaste-me - disseste-me que me amavas.

Sam - "Não, nunca".

Carol- "Dissste, sim".

Sam- "Tive sempre o cuidado de não usar essa palavra".

Phyllis- "Nunca fod*** com um advogado. Eles dão-te a volta com a terminologia".


in "Infidelidades - Três Peças e Um Acto, Central Park West", Woody Allen.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Bricolage...

Saber a pouco. Verbos conjugados. Gerúndios de mim.

Bricolage avassaladora e um Mr. Whitman no meio.

Origami de palavras, cadáver esquisito no peito.

Tão bom.

domingo, 14 de março de 2010

Promessa...

Apanhei o barco da noite. Branca, como as palavras por escrever.

O barco partiu à hora atrasada. Tal como previsto.

É sempre assim na margem sul.

Saiu e e mergulhou na água fria.

Teve frio. Queria a Terra.

Chegou a tempo mas também não havia cronómetro,

Apenas as mesas dos cafés junto ao cais,

Promessas de memórias por criar.

sábado, 13 de março de 2010

Misfit (ou da categorização)



No teatro:

- Eu: "Boa noite, eu vinha aqui levantar um bilhete em nome de...".

- Empregado: "Com certeza, é um convite?".

- Eu: "Não".

- Empregado "Está ligada a alguma associação artistíca?".

- "Não".

- Empregado: "É estudante?".

- Eu: "Não."

- Empregado: "Tem menos de 25 anos?".

- Eu: "Também não".

- Empregado: "Então, são 10 euros".

- "Aqui tem".

sexta-feira, 12 de março de 2010

Gula...



(Andy Wharhol)


Ontem comi o dia
Soube-me a pouco.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Menu do dia

- Entrada(s): Burocracia pela manhã.

- Salto para perto do mar com vista para museu e (boas) obras a metro.

- Almoço:
(sugestão do chefe)
Sushi regado a wasabi, gengibre e risos solares de rostos familiares.

- Digestivo pós-degustação:
Todos os dedos de conversa que a ementa apresentava, polvilhados de torrada e para beber chá de jasmim com infusão da Tarde.

- Jantar:
Sopa de legumes servida em loiça de Expectativa. Que é agora.
Que é já.

E por fim, sobremesa quente de Humor.
Prata da casa.


quarta-feira, 10 de março de 2010

Casa...



Coração Independente Vermelho 2005, Coração Independente Dourado 2004, Coração Independente Preto 2006, Joana Vasconcelos.



"(...) Abre bem os olhos / escuta bem o coração / se é que queres ir para lá morar (...)".


Terra dos sonhos, Jorge Palma.

terça-feira, 9 de março de 2010

Sílaba.

Descobrira da pior forma.
Entre telas de lápis, canetas, amontoados de papel e giz bolorento.
Há dias assim.
Começou a apontar, a escrever. Escrevia rabiscos e dias.
Não estava só. O Sol das 4h da tarde fazia-lhe companhia. Talvez não seja o melhor Sol para se acompanhar com palavras, daquele que se rega com textos, todavia era o Sol possível.
Não se fez de esquisita. Continuou a escrever. Trabalhos de casa, pequenos relatórios, ensaios em atraso. Partos serôdios.
Fez-se tarde, fez-se noite. Mas ainda era cedo. A luz da rua, a das outras casas era agora a sua testemunha. Escrevia ainda. Rente ao papel. Rente à Noite. Tomou um trago de chá. De tília. A vizinha do segundo diz que é bom. A(calma).
Ouvia o barulho do escuro lá fora. Escrevia mais. Afinal tudo estava por fazer.
E sabia que ainda se havia de esquecer do que era suposto estar a fazer.
Seguiu em frente, folhas dentro, e rasgou sílabas e consoantes fechadas. São as mais difíceis de abrir.
Era tarde. Seria cedo?
Ainda.
Só mais uma linha.
Falta-lhe um parágrafo.
A carne da sílaba.

domingo, 7 de março de 2010

sábado, 6 de março de 2010

Combate

Uma conhecida apresentadora de televisão diz numa entrevista que se considera uma “pessoa positiva”, apologista de uma linha de pensamento “positivo” e concomitantemente, há palavras que nunca usa.
Há palavras que nunca saem do seu armário discursivo, portanto. Não as veste, pura simplesmente. Não diz “lutar” pois a seu ver, “lutar” é um verbo cuja conotação é altamente negativa, acarreta consigo uma carga muito pesada e que passa, eventualmente para os espectadores.
Não poderia discordar mais disto. As palavras são a nossa pele verbal, dela transpiram as nossas ideias, pensamentos, convicções ou até os nossos erros e enganos. As palavras são o nosso último reduto identificativo e, por isso, todos temos o nosso ideolecto. Como que a nossa colecção individual de palavras, as que gostamos mais de usar, de trocar e ouvir. Não foi à toa que o Poeta fez delas punhal e beijo.
Não tenho medo de Palavras. As palavras, mais ou menos arbitrárias, são embainhadas como espadas quando queremos ofender ou somos ofendidos, são sorvidas a colheradas de mel quando são de bem-dizer. Mas não são as palavras que nos ferem. O que nos fere é o contexto em que são proferidas e o seu sujeito.
Gosto das palavras: das más, das boas, das duras, das ternas, das fortes, das fracas, das que são átonas e tónicas em mim. Uso-as, escrevo-as. Às vezes , combato-as. Outras, elas a mim. Mas não as temo. Quanto muito, enfrento-as.
“Lutar” é verbo negativo? Quando se luta pelo o que se quer? Quanto se luta pelo o que gosta? Não creio. E até quando “lutar” é sinónimo de “guerrilhar”, os dividendos dessa contenda poderão, a longo termo, ser bons. “Positivos” como se quer e se gosta.
Não temo as palavras e o seu valor. Elas são boas exactamente porque as há para todos os (des)gostos e situações. É reconfortante saber que há um “doce” para um “amargo”.Que um “feio” para um “belo”. Esta “bipolaridade” é o que enriquece o nosso discurso. E, a meu ver, os nossos dias.
Não quero discursos unicamente “positivos”, “optimistas”, bordados com rendas de chavões e “pseudo confortos”. Gosto até dos espaços desconfortáveis que as palavras deitam quando saem da sua casca de letras. Quero uma “guerra” para cada “paz”. Anseio uma “aurora” para cada “crepúsculo”. E é tão bom saber que cada nuvem escura traz consigo uma promessa de arco-íris.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de 06 de Março de 2010.

terça-feira, 2 de março de 2010

"Girl interrupted"

Tanya: "I was so prolific when I was a child. I had such a fertile imagination when I was a teenager. I had hemorrhage of words".

Pierce: "So...what stopped the bleeding?".


Hung, série 1, episódio 7.