quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Onde sempre esteve...

Importadinho de fresco:

"O que é o amor, em concreto? Não perguntes o que é sem este «em concreto», acabarás com arbitrariedades verbais, piedades, coisas vãs. O que é o amor em concreto, concreto como cimento, como betão, concreto como uma pedra, imagem tão diferente do complicado e impudico coração? O verbete «amor» fala em emoção, estética, ideologia, doença, e nada disso interessa agora mas apenas o amor em concreto, corpos, cortinas, cheiros, cães, o amor que com ou sem aspas mostramos aos outros para que acreditemos também, vejam a minha felicidade, a minha normalidade, a minha desistência. Com o teu amor concreto o mundo encontra uma base estável no meio dos vendavais. E agora suportas todas as decepções. O amor é um vício, uma gangrena, faz mais falta um amor concreto, hábitos, fotos, impostos, torneiras, é contra o amor que o amor concreto triunfa, onde estavas, amor, quando foste preciso, quando ela precisava, ao passo que eu estive sempre aqui ao seu lado? Que importam as tuas escaladas, os teus mergulhos, que tristes acrobacias são essas, que escusado espectáculo, quando eu dou (diz o amor concreto) a desculpa, o descanso, os domingos? O amor perdeu porque é seu costume, saiu para a rua com a roupa errada, enquanto o amor concreto trouxe agasalho, é prudente e precavido, tem botões, chaves, ferramentas. O amor diz que ama mas desconhece o tempo e o tédio, é por ser banal que o amor concreto o humilha, não há amor mais forte que o amor em concreto, o amor que te toca, protege, exaspera, o que é o amor ao pé disso, simples hipótese rabiscada num guardanapo, devaneio de asténicos, vida alternativa. Vinhas com os teus exércitos, amor, mas foste dizimado, o amor em concreto é o único, escondo-me agora na vergonha dos indignos enquanto em concreto o amor concreto está onde sempre esteve, tranquilo no inverno com o teu amor nos braços."

Pedro Mexia in "Lei Seca"

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

domingo, 5 de dezembro de 2010

A este filme que "tanto tardou a chegar"...



Tão grata a ti estou, meu querido P. que através do teu maravilhoso blogue me instigaste a ver este poema ao (e de) amor, esta viagem ao coração de um humor inusitado e um hino ao pulsar de uma vida única.
Há filmes de visionamento obrigatório. Os nossos olhos ainda não o sabem mas ficar-nos-ão imensamente gratos.
"Ideias para romances. Ideias para a vida." Quais delas a mais importante?
Cabe-vos a vós decidir. Uma questão de prioridade(s).

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dia Internacional das Pessoas com deficiência



O som e a imagem não são de grande qualidade, mas creio valer a pena ouvir (e ver) este Mr. Holland's Opus.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

The gift...

Derek to Amy - "I can't tell you about the pain I felt,
I don't want you to know that pain exists".

Grey's Anatomy, série 7, episódio 3.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Da felicidade...

Numa conversa outro dia com colegas da área em que trabalho, a discussão girava em torno de casamentos, divórcios e uniões de facto.
Uma das pessoas presentes escandalizou-se quando outra se mostrou feliz pelos seus pais se terem divorciado quando ainda era criança. A seu ver, não é comum os filhos ficarem felizes com os divórcios dos pais. A que respondeu, afiança-lhe que essa terá sido a melhor decisão que alguma vez tomaram.
Esta pessoa não teve tempo de explicar à primeira que a principal razão que a levou a responder assim foi a pura convicção de que os casamentos, como qualquer outra relação, existem porque e enquanto nos fazem felizes. O maior objectivo dos pais quando se casam, tendo ou não filhos, é conseguirem criar uma relação feliz. Algo que nasce, cresce e sofre as mutações que são intrínsecas à própria condição humana e ao crescimento enquanto pessoas.
Os pais, os casais, sabem que relações felizes não são sinónimo de relações perfeitas. Essa ilusão cabe aos filhos, que não possuindo o mesmo grau de experiência de vida, constroem ideais de amor e relacionamento que os ajudam a edificar-se enquanto gente.
Os pais são heróis, as mães são perfeitas, as melhores. Os filhos amam tanto os pais que juram a pés juntos nunca se quererem casar quando forem “grandes”. O amor dos pais basta-lhes, pois, nessa altura, os pais são o (seu) mundo.
Para os pais - os que se respeitam e crêem na relação enquanto construção diária equitativa, negociação permanente e espaço de desenvolvimento interior e exterior - a tarefa mais árdua será a de manter a noção de responsabilidade que essa sua função de arquitectos tem para os seus filhos.
Os filhos, esses, crescerão, e se a lição tiver sido bem ensinada, serão os primeiros a reconhecer que se o casamento dos seus pais tiver culminado em divórcio, a decisão dessa ruptura terá sido feita a pensar naquilo que foi a sua prioridade enquanto casal e sobretudo enquanto seres humanos: a de serem felizes, de gerarem um ambiente equilibrado para os seus filhos e permitirem-lhes perceber que no amor, como na vida, há alternativas quando o fim da relação gera como resultado subtracções na felicidade e não somas.


Vanessa Limpo, in "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Novembro de 2010.