terça-feira, 29 de maio de 2007

Pas de deux

(Coração de Voh, do projecto, a "Terra vista do céu", pelo fotógrafo Yann Arthus-Bertrand)



"às vezes o nosso amor adora morrer

p´ra voltare voltar a correr

às vezes o nosso amor evapora,

ora parece que o ar do lar o devora

às vezes o nosso amor tropeça só

para que o chão lhe peça – “levanta-te depressa”



às vezes o nosso amor adora sangrar

p´ra esvair e voltar a estancar

às vezes o nosso amor adora lamber

a cicatriz que insiste em conceber

às vezes o nosso amor desflora só

para que o céu lhe peça – “Benze-te depressa”



às vezes o nosso amor acalora

para que a água estale a pele a ferver

às vezes o nosso amor decora,

ora parece que o ar do lar o estupora

às vezes o nosso amor descola só

para que peça a peça se junte numa peça



o nosso amor adora suster

o ar que inspira e sorve só p’ra verter

às vezes o nosso amor demora a crescer

parece que tem medo de não caber, de não caber.... "



Clã, Pas de deux.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

"Ó Patrão!!"

(Lauren Graham e Scott Patterson ou "Lorelai" e "Luke" da série Gilmore Girls, no diner do segundo).


“Ó patrão!!”


Quantas vezes ouvimos já esta expressão nos mais variados locais? Patrão, patroa, chefe…
Os portugueses sofrem do chamado síndrome de subalternidade aguda (facto cientificamente comprovado, bom…ainda não, visto que acabei de o inventar… ora deixa cá ver… agora. Contudo, depois desta crónica sê-lo-á sem qualquer margem para dúvidas).
Num restaurante não sabemos o que chamar ao garçon (os franceses é que a sabem toda… ou então… não) o que fazemos nós? Chamamo-lo de… chefe. E porquê? É chefe de quê ou de quem? Do copo de água que carrega (e ser de água foi propositado, numa espécie de campanha antiálcool mas sem a maçada do balão), chefe das batatas fritas? Não me parece.
Numa conversa entre amigos, um fala da sua legítima. Qual o título com que se refere à dita? Ah pois é, já estão a ver também, não é? “A minha patroa”. Como disse, é a subalternidade em todo o seu esplendor(?). É já algo de inconsciente e incontrolável. Experimentem como tratar o empregado que simpaticamente vos atende no restaurante. Se não o brindarem com o termo “chefe” irão (muito) provavelmente utilizar a alternativa onomatopaica “psssttt”, que, convenhamos, em nada nos engrandece.
Oscilando entre o puro paternalismo ou a cândida subserviência, todos, somos (à boa portuguesa) patrões e empregados, dos outros e de nós. Remato apenas com uma sugestão: visto que se celebra o dia da família este mês, e imbuídos deste espírito “empresarial”, por que não oferecer um perfume aos vossos entes queridos. A marca… obviamente: Boss, Hugo Boss.
Vanessa Limpo, in Correio de Setúbal, edição de 22 de Maio de 2007.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Escolhas...

("Meredith Grey" e "Derek McDreamy Sheperd, de "Grey's Anatomy", foto: Google imagens)
MEREDITH: "Okay, here it is, your choice... it's simple, her or me, and I'm sure she is really great. But Derek, I love you, in a really, really big pretend to like your taste in music, let you eat the last piece of cheesecake, hold a radio over my head outside your window, unfortunate way that makes me hate you, love you. So pick me, choose me, love me."

quarta-feira, 23 de maio de 2007

ABC... the adventure continues...

(eu a Cátia no dia do nosso 6º aniversário)
ABC...part II
N- de Nancy, uma das rivais da Barbie mas em verão muito menos fashion….digamos que a Nancy está para a Barbie como a Ruth Marlene está para a Dulce Pontes….

O- Onda choc. Eu sei, eu sei, nem o deveria sequer pensar, quanto mais verbalizar. Mas naquela época era do melhor “rock” para a “canalha” de 11 ou 12 anos. (os Black eyed peas que me perdoem mas para mim naquele tempo, Onda choc ruled).

P- de "Porcina", de playmobill e claro de Pin y pon. A primeira, personagem fabulosa da novela “Roque Santeiro” (nos idos meados dos eighties…que saudades) que era pura explosão de kitsch com vernáculo ali de Chelas (não que tenha algo contra Chelas ou qualquer outra parte da cidade). Tudo nela era exagero: do batôm ao sapato de salto alto (se o João Rôlo a visse, dava-lhe um tratamento total e ainda lhe fazia desconto). Os segundos: os bonequinhos da Playmobill, apesar de não ser grande “utente” dos mesmos, adorava ficar a ver os seus“reclames”, pelos cenários que tinham (aliás, confesso que muitas vezes invejava mais os cenários que a publicidade usava que os produtos que anunciava). E claro os Pin y Pon…tinha a quinta, os bonequinhos com cabelos coloridos todos e sei lá mais o quê. Só o nome dá vontade de começar a falar à bebé, pois no reino Pin y pon, tudo é tão “-inho”.


R- de “Roda da Sorte” do grande “tio Herlander” José, nos tempos áureos em que o seu humor era puro génio (e honra lhe seja feita, que se os Gatinhos hoje fazem o sucesso que fazem a ele lhe devem, pois foi o percussor da escrita humorística neste país numa época em que o lápis azul ainda tinha partido o bico há pouco tempo…). “R” de “Roque Santeiro”. E homens que leiam isto: podem-me dizer que não viam novelas e tal mas esta não me venham dizer que não viam…marcou toda uma geração (nem que fosse pela viúva Porcina da Silva eh eh).


S- de Sandra Kim e o seu “J’aime j’aime la vie”. Irresistível!! Nos tempos em que o Emanuel ainda não escrevia letras para o festival Eurovisão da canção (e se calhar o facto de nem termos tido votação não deve ser alheio ao letrista…eu não sou cá de intrigas mas…). “S” também do sapo da canção da Maria Armanda “eu vi um sapo… num guardanapo…”, coisa mais linda, a doce ternura da rima emparelhada; naqueles tempos era um autêntico hit.


T- de “Tragabolas”…o famoso jogo dos hipopótamos a comer bolas num jogo que fazia as delícias (e preenchia as horas vagas) da minha pré-adolescência. “T” de Topo Gigio, o ratinho fofinho que nos dizia as boas noites antes do one and only “Vitinho” (mas sobre ele já falarei mais adiante). Era puro mel ver aquela figura doce a convidar-nos a deitar... o verdadeiro “recolher obrigatório”. “T” de…Tom Sawyer…”tu andas sempre descalço, Tom Sawyer, junto ao rio a passear..” (saudade boa não é? Quem disse que toda a saudade é má?) ele, Joe – o índio, a tia Polly, a Becky, todos juntos a maravilhar-nos junto ao Mississipi… quem diria que anos depois eu o revisitava em algumas das obras estudadas na Faculdade…? A vida é mesmo feita de (re)encontros. “T” ainda de “Tulicreme”. E devo dizer que nunca mas nunca gostei deste creme para barrar, então porque o tenho aqui? Porque a minha irmã era (e ainda reage “pavlovianamente”) absolutamente louca por “Tulicreme”… poderia mesmo alimentar-se do produto. O pão para ela era já um prolongamento do “tuli” (com direito a nickname e tudo). Portanto, senhores fabricantes do Tulicreme, esta homenagem foi também para vocês. E pronto este “fantasma” já exorcisei eh eh. “T” ainda do “Tal canal”: mais uma vez, a gratidão é muito bonita e tio Herman, muitas gargalhadas lhe devo, e todas com muita mas muita “papikra”.
Finalmente, “T” de telenovelas… confesso que era soap-opera dependente… via todas, sem qualquer triagem ou espaço para (bom) gosto. Mas a infância não é caprichosa logo era tudo visto, decorado e imitado. Ainda bem, hoje estou vacinada contra elas. Total imunity.


U- de Uma aventura: uma aventura na praia, no castelo, na escola…eu sei lá mais onde, creio que a imaginação das autoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada era (e é) de tal modo profícua que conseguiriam até escrever Uma aventura num alfinete-dama ou numa caixa de fósforos. A elas devo –indirectamente – o gosto da leitura, que é como todos os outros (bons) hábitos… deve começar cedo. “U” de Um bongo: “o sumo rei da selva…em cada pacotinho uma festa de oito frutos” (dá vontade de agora escrever o resto não é? E cantar ao som da música que neste momento já passa “em rodapé” nas nossas mentes). Creio que todos bebíamos o dito sumo não tanto pelo sabor (que não era mau de facto) mas pelo apelo imenso que o anúncio publicitário tinha em nós. Dos mais bem conseguidos de sempre. “U” de “Um, dois, três”: horas e horas a rir com o Carlos Cruz com uns óculos garrafais e cabelinho à Paulo Bento em versão cro-magnon ainda (lembram-se que tinha a franga mas divida em dois?) e o gesto mítico de contar até três com os dedos? Pois é… ficou cá tudo. E claro, a bota Botilde (que já aqui teve o seu momento de epifania) e o “Zé sempre em pé”. “U” ainda de “Usrinho teddy”…outro caso de amor à primeira vista.


V- de Vitinho: “Está na hora da caminha, vamos lá dormir, vê lá fora as estrelas… dormem a sorrir”. Que delícia… ainda o estou a ver a descer pelo lençol e a vestir o pijama que já o esperava, depois apagar a luz e apagava-se também a nossa alegria diária de o ver. Era já encontro marcado (e ansiado). Criança que se prezasse não se deitava antes de o ver. Dos poucos casos nas nossas vidas em que as despedidas tinham o sabor das chegadas.
“V” de “Vicky” a menina-robot Com o seu vestido vermelhinho e o seu ar sempre bem-comportado. Adorava ver.


“W” – de “Wanda” ou a “A fish called Wanda”… continua a ser um dos meus filmes preferidos. E na altura mal sabia eu (aliás, desconhecia por completo) que os Monty Python integravam o elenco deste genial filme. O que me ri com a célebre cena dos caniches (e não vou aqui descrevê-la sobre pena da União Zoófila vir atrás de mim, o que parecendo que não, seria chato) e da gaguez (representada) de um dos actores. Jamie Lee Curtis prometia tanto naquela altura… let’s wait and see what miracles are left.

X- Ora deixem-me que vos diga… após horas intensas de pesquisa e de consulta com amigos, conhecidos e com… os meus botões, não consegui absolutamente nada com esta letra…pelo menos não que remetesse para a minha infância…lamentável mas verdade. Aceitam-se sugestões. Senão funciona sempre o neologismo “xiça!”

Y- de “Yoggi”que “dá mais vida à tua vida…” não sei se a vocês deu mas a mim de cada vez que o vida dava, pelo ritmo da música do anúncio, pela letra apelativa e claro pela inovação do conceito de iogurte liquido. Num tempo inocente e puro em que ainda não tínhamos sido invadidos por L-Casei Imunitas ou Bifidus activos, era delicioso ver apenas um anúncio bem feito a um alimento que naquela época, era bom e comia-se (ou bebia-se) apenas porque, vejam lá vocês bem, era à base de leite e fazia bem. Tout simple.


Z- de “Zimbra”. A maioria não a conhece mas não faz mal pois as coisas que geralmente mais gostamos não são do conhecimento geral. “Zimbra” era uma bruxinha simpátca que me ensinou a dizer “Hello”, “Goodbye”ou “What’s your name?”. Era a personagem fulcral do meu primeiro livro de inglês. Obrigada “Zimbra”… se não fosses tu, estava no desemprego.
“Z” ainda de “Zé da Viúva”. Remember? O Carlos Cunha, que na altura ainda era o senhor Marina Mota e tinha graça com as suas rábulas no “Um, Dois, Três” e que levava o Carlos Cruz (e a nós) às lágrimas. Da sua cantilena constavam as “doutas” palavras: “ se o Zé da Viúva morresse, ficava a viúva sem o Zé”. E ainda pensavam que a “grande” filósofa Lili Caneças é que tinha descoberto a pólvora com a sua máxima “Estar vivo é o contrário de estar morto”… nah... falta de memória.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

God bless America(?)

in Destak, edição de quinta-feira, 17 de Maio de 2007
Sem grandes comentários a fazer...as palavras "falam" por si...

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Beyond the obvious...

(Quadro: René Magritte, Ceci n'est pas une pipe).


Prémio "Beyond the obvious":
"Quantos milénios serão necessários para amarmos pessoas e não apêndices dos órgãos sexuais?".
in, Tempo dos espelhos, Júlio Machado Vaz, Texto Editora.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

ABC da minha infância...

(imagem, fonte: Google imagens)
A – de “Ana dos cabelos ruivos” (aquelas tranças eh eh), de “Arca de Noé”: desafio-vos a trautear a canção que tenho a certeza que todos sabem… mesmo que digam que não viam os desenhos animados… não se mintam, sublimem lá isso e cantem “Vamos fazer amigos entre os animais”… nem preciso de dizer o resto… todos sabemos, pelo menos os que têm mais de 23 ou 24 anos). "A" também de “Anita”, os livros da Anita (que lidos agora cheiram tanto a “Estado Novo” que impestam). Como não podia deixar de ser o mítico “Agora escolha” também entra nesta lista. Com a Vera Roquette que hoje é mais Coquette que Roquette, não fosse ela a digníssima Sra T-Club .Remato esta primeira letra com isto: “O Areias… é um camelo…tem duas bossas…e muito pêlo.” (Sim, eu já contava com momentos kleenex).

B- de Bayard..os iensqueciveis rebuçados Dr. Bayard, da série “Bonanza” (e o anjo Michael Landon como “Little Joe”.), de Bota Botilde no “Um, dois, três”…"B" também de Barbie... claro, the one and only, a boneca das bonecas. Muito brinquei eu. Se bem que também não sou exemplo pois tanto brincava com as Barbies como me deliciava a fazer os jeeps que o meu pai tinha, pelo corredor fora.

C- de "Clube Amigos Disney”. As tardes domingueiras passadas a ver o programa. Cheira tanto a infância que deveria haver um feriado nacional em sua honra. “C” ainda da “Cinderela” do malogrado Carlos Paião que nos pôs a todos a cantar qualquer coisa como isto: “Então, bate bate coração, louco louco de ilusão…”. Justiça ainda não foi feita a este grande compositor e letrista.

D- da Dora com o seu inenarrável “Não sejas mau para mim”…(também já estão todos aí a cantar “eu só te quero a tiiiiii” (é kitsch do puro mas está-nos na massa do sangue televisivo).

E- de E.T (“phone home”) e do medo que eu tinha do boneco que o representava, tanto que um dia imbuída da coragem dos meus 6 anos, lhe arranquei ferozmente a cabeça (eu sei, matar o E.T é como matar o Bambi…shame on me…), de EPA, o gelado de leite da Olá, e confessem aqui e agora….vocês também só o pediam para ter a pastilha, ah pois é.

F- de Filipa Vacondeus e as suas receitas económicas e rápidas à hora do almoço. Vinha eu da escola e já sabia que antes da minha “rica” novela veria a Pipinha, loirissíma e com aquela voz rouca que só ela tinha.

G- de “Gaspar”, de “Os amigos de Gaspar”, lembram-se? “etoiosoioloio”…como é possível? O que era aquilo? Nunca o saberemos mas por isso mesmo fará sempre parte do nosso baú de memórias. De “Gorila”, as pastilhas que fizeram as nossa delícias (e às vezes quando as pós-modernas “Bubaloo” (ou coisa que o valha) falham, lá se pede uma gorilinha, com ela sabemos sempre com o que contar.

H- de Hélène…Marie Hélène, a minha primeira professora de francês. Esta letra é muito pessoal mas já agora também tenho direito, visto que o blogue é meu. Oito anos, menos uns 20cm (o que para quem me conhece sabe que é muito mau…ou melhor…muito pouco) e um pânico a bordo de cada aula e de cada ida a um quadro ao qual ainda não chegava (bem, hoje ainda não lhe chego lá muito bem, pelo menos… ao topo… some things never change!). "H" também de Homem-Aranha, o meu super-herói preferido de sempre (hoje o 3º filme não lhe faz a devida justiça mas enfim), não perdia cada novo número nas bancas. Ia era perdendo a cabeça (literalmente) ao ler uma das edições… os malditos postes nas ruas quando decidem mexer-se e vir ter connosco… é uma maçada!!

I- Isabel. Ou melhor Dª Isabel, a minha professora primária. Como diria o meu professor de Filosofia do 12º ano (Dr. Rogério Carrola, se me estiver a ler, os meus mais sinceros cumprimentos e honra lhe seja feita, um dos meus melhores professores de sempre) “ninguém é grande perto do seu professor primário”. Foi ela que me ensinou as duas coisas mais importantes que temos (além do que é natural no ser humano claro: família e saúde) ler e escrever. Esses dois milagres que são as nossas bússolas quotidianas.

J- de Júlio Isidro. Não se pode falar de infância sem mencionar este (grande) nome. Desde o "Clube Disney" ao "E.T" ou ainda, posteriormente, ao “Outro lado da lua”,(já para não falar do mítico "Passeio dos Alegres", embora não seja já do nosso tempo) é um nome que rima com companhia, ternura e respeito pelas crianças. Num tempo em que a T.V. ainda era eminentemente pedagógica, este senhor brindou-nos com momentos eternos. Puro deleite.

L- de Lego...quem não brincou com as peças Lego? Quem nunca fez um castelo, uma torre, uma estrada ou um boneco mesmo que atire a primeira peça. E "L" de "Lecas"...o original José Jorge Duarte que todos os Sábados, estoicamente, lá apresentava o programa dos desenhos animados das manhãs. Sempre divertido, bem-disposto (se bem que na altura faltava-me era a maturidade para perceber o bom actor que ele era).

M- de “Maria”, bolachas Maria…tão simples e tão mas tão boas… com manteiga, sem manteiga, com doce ou sem doce… gula é o único condimento que é pré-requisito. E “M” de Mini-stars…com aqueles laços pavorosos no cabelo e os sapatos de verniz, ‘irmãos-gémeos’ das meias de renda. Ainda bem que não conservo qualquer registo fotográfico desse tempo.
P.S. Hoje ainda foi apenas até ao "M"...mas da próxima vez vem o resto. Aguardem as cenas dos próximos capítulos.

domingo, 13 de maio de 2007

Era um palitinho e um digestivo, se faz favor...



Um palitinho e um digestivo, se faz favor…

Estava eu aqui há uns dias em amena cavaqueira (expressão mais fiel ao espírito Portuga será difícil de arranjar) num almoço e eis que surge aquela frase que todos nós esperamos ouvir sempre quando nos encontramos num restaurante. Um dos convivas dirige-se ao empregado de mesa e brinda os meus ouvidos como o já tradicional e obrigatório:«_ Ó chefe, trazia uns palitinhos e depois era um digestivo».
Ora há aqui que salientar duas coisas: o tom intimista e quase afectuoso com que se retrata um pequeno utensílio em madeira cuja finalidade – limpar os dentes das impurezas trazidas de uma refeição – poderia ser perfeitamente substituída por uma boa pasta de dentes. Não se trata apenas disso na óptica do utilizador do palito, este é um «palitinho», uma espécie de mimo, de bónus que a refeição traz. A cereja no topo não do bolo mas do pernil.
Não ainda plenamente satisfeito com as maravilhas higiénicas personificadas no «palitinho», o cliente pede ainda o seu «primo afastado»: o indispensável(?) digestivo. Por mais voltas que dê, nunca conseguirei entender de que forma ajuda efectivamente à digestão (será que no interior de todos os whiskeys há uma pastilha Rennie?). Digere o quê e para quê? A digestão é, até ver, um processo autónomo, fabricado por mecanismos próprios, sem precisar de qualquer ajuda exterior. O digestivo tem em quem o bebe uma espécie de efeito placebo...sabemos que não ajuda de facto, mas o seu sabor reconforta, alivia. Como diria o outro: «é como o Melhoral, não faz nem bem nem mal». Enfim, um fenómeno difícil de «digerir».


Vanessa Limpo, Correio de Setúbal, edição de 8 de Maio de 2007.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Sad but...true...

(excerto de uma ficha de gramática de uma explicanda minha do 6º ano)
Estava eu em pleno processo de explicação de um tempo verbal que agora não vem ao caso (não quero fatigar os leitores com o chamado "inglês técnico" que como sabem tanto mas tanto tem vindo a dar que falar) com uma aluna minha do 6º ano da escola de 2º ciclo onde eu, ironicamente, fui aluna há...ora deixa cá ver..noves fora nada...e vai um...(é melhor nem tentar finalizar a conta senão corro o risco de ter espamos ou uma virose aguda de saudades)...bom fui lá aluna há uns bons pares de anos. Ora, a explicação até era uma boa explicação, a aluna até era uma boa aluna (e é) e não "havia nexexidade" daquilo com que me deparei.
Um dos so called TPC (sim, caso seja o leitor/a seja um daqueles casos de desfasamento total com as novas teminologias académicas, fique descansado/a...a miudagem ainda chama TPC aos trabalhos de casa, pronto, pode respirar fundo, ainda não está assim tão velho) continha esta verdadeira "pérola" da pedagogia, a saber: ima frase que traduzida para português dá qualquer coisa como ( e vou dar o meu "melhor" dado que isto do inglês "técnico" não ser para qualquer um...) "Eu sou a Jean Evans e este é o meu irmão Ken (que não é o marido da Barbie, 'tá?). Nós somos ricos e felizes". Na outro balão de fala encontramos "Esta sou eu quando tinha cinco anos e este é o meu irmão Ken quando tinha quatro anos. Nós éramos pobres e infelizes".
Ora assim que li isto dois pensamentos imediatos ocorreram-me: 1º, vontade de regorgitar e 2º...bem., nova vontade de regogitar. Como é possível nos dias de hoje, um professor apresentar uma estrutura gramatical sem evidenciar qualquer preocupação com os conteúdos semânticos que são, paralelamente, apresentados aos conteúdos gramaticais? A mensagem que se passa é igualmente importante. Não devemos (a meu ver) dissociar o que se quer transmitir da forma que usamos para o transmitir.
Apresentar uma matéria escolar fazendo veicular a mensagem de que ser-se pobre é sinónimo de ser-se infeliz é de uma irresponsabilidade e mau gosto pedagógico tão ou mais grave que apresentar mal a estrutura ou dar algum erro (porque este poderá ser imediatamente corrigido pelo professor). Muito mais do que observar a estutura do verbo be no passado, os alunos reterão, provavelemente, a ideia de que, de facto ser-se pobre é igual a ser-se infeliz. E mesmo que tenham idade já para perceber que as duas coisas não são equivalentes ou sinónimas, a ideia terá sido sempre passada. E é isto que é lamentável. Para o aluno ou aluna que vive num qualquer bairro degradado dos subúrbios o "rótulo" assenta melhor que uma luva da casa de luvas"Ulisses".
Ensinar é, na minha parca opinião muito mais que transmitir ou debitar "matéria" (outro termo com o qual antipatizo enormemente), é incutir valores, mostar formas alternativas de ver o mundo, numa perspectiva de justiça (e justeza) e de não-discriminação. É tentar (e tão difícil é) retirar alguns dos (muitos) estereotipos e pre-conceitos que (todos) temos.
Por sorte, a minha explicanda possui além de uma boa cabecinha pensante, um óptimo sentido de humor e reagiu fisicamente como eu reagi mentalmente: esboçou um sorriso e disse: "deixe estar...eu não sou rica, mas sou feliz".

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O (outro) efeito borboleta...



Introdução ao Lúpus

O Lúpus pode aparecer em qualquer pessoa mas é mais frequente em mulheres em idade fértil. Cerca de 90% das pessoas com a doença são mulheres. Por vezes, o primeiro sintoma de diagnóstico do Lúpus, é uma mancha vermelha que se apresenta na face e, normalmente, em forma de borboleta.
Até hoje, ainda não se sabe quais as causas do Lúpus. Apenas se sabe que não é contagiosa nem hereditária embora os descendestes de pessoas com Lúpus estejam mais susceptíveis de também o ter. O Lúpus é uma doença auto-imune que pode afectar quase todo o corpo. Contudo, frequentemente, afecta com mais frequência os rins, sangue, joelhos, pele, mas qualquer outra parte do corpo está exposta a esse “perigo”. Outras partes do corpo também muita afectadas são os pulmões, coração e até mesmo o cérebro. O sistema imunitário produz anticorpos que protegem o corpo e o organismo de vírus e bactérias. Mas, no caso de doenças auto-imunes como o Lúpus, esses anticorpos funcionam contra os tecidos e células saudáveis que deveriam proteger.
Normalmente o Lúpus caracteriza-se por dor, inchaço, perda de função quer no interior como no exterior do corpo, ou mesmo em ambos.

Por: Vera Correia em 12 de Janeiro de 2007

Andava eu aqui nas minhas pesquisas cibernéticas sobre esta doença, quando me deparei com este blog que, a meu ver, está muito bem elaborado na medida em que aborda este tema de uma forma muito simples mas concisa e sem dramas. Fala da doença mas não induz ou promove a pena ou a caridadezinha pelos doentes lúpicos. Para mais informações, consultem: http://wsl.cemed.ua.pt/blogs

P.S. Hoje dia 10 de Maio é o dia internacional do Lúpus.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Terms of endearment


Soube muito bem chegar a casa e nem saber que não estavas lá...
ainda não te esperava sequer...nem sabia que estavas ali.
Soube muito bem ver-te, de novo, ao fim de tanto tempo.
Tu ali...
Eu, sem saber.
Tu, em formato carimbado, timbrado, e franquiado,
e, no entanto, tão mais perto que tantos...
Mas a surpresa, no fundo, nem chegou a acontecer.
Deveria já saber, deveria já contar.
Pássaro migratório
nunca sequer daqui saíste.

(More than words could ever say...thank you. You made a difference).

domingo, 6 de maio de 2007

Motherhood

( a minha mãe connosco na nossa ex-casa no Laranjeiro, 1978)

"E através da Mãe o filho pensa (...)
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor".

Herberto Helder.

sábado, 5 de maio de 2007

Lotação esgotada (?)..

(imagem: Google imagens)
"O amor
Ouçam Caetano, Mew e Tindersticks. Depeche Mode, James, Go-Between, Smiths, Lloyd Cole, Jorge Palma e Nick Cave. Devorem concertos. Comprem discos (...). Leiam poesia portuguesa. Aliás emprestem discos e livros aos amigos, num intercâmbio permanente com a serena consciência de que os objectos podem não mais voltar às vossas mãos. Sejam fiéis depositários das pedras preciosas que os vossos amigos decidem partilhar convosco. Apontem o máximo possível dos pormenores dos vossos sonhos, mal acordem e poucos minutos antes de sair de casa para comprar pão. Telefonem muitas vezes aos vossos pais.
Vão ao cinema pelo menos uma vez por semana. Escrevam cartas aos mais próximos e aos mais distantes. Contem o vosso maior sonho à pessoa perto de vocês que mais desesperada parece estar. Talvez a inspire. O mundo, neste século, muda-se pessoa a pessoa. Uma de cada vez, numa lenta cadeia de afectos. Despeçam-se dos empregos onde reina o cinismo. Se nada disto resultar, comecem de novo pelas vossas próprias regras. O amor - sobre o qual tantos artistas já escreveram, pintaram, compuseram. esculpiram, morreram, etc - estará sempre disponível num sítio enigmático qualquer onde, misteriosamente, os bilhetes já esgotaram mas ainda há lugares para VIP e para felizes contemplados com acesso aos bastidores. O importante é partir e fazer por merecê-lo. Acho."
Luís Filipe Borges (a.k.a. "O gajo da boina"), O playboy que chora nas canções de amor, "Verso da Kapa "editora.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

The silence of the lambs..

(imagem: Google imagens)

Dez da manhã de uma dia de Primavera...a chamada manhã pura, como se as manhãs e a Primavera fossem sinónimos (e não o são?).
Saio de um autocarro que me deixa num subúrbio algures na Margem Sul (cenário nada primaveril). Espanto: um conjunto de cordeiros ali mesmo, seguem o seu trilho feito de verde (esse sim, material primaveril).
Assombro matinal feito de cor e de luz infantis. Cordeiros numa manhã que é da cidade, e, no entanto, seguem o seu caminho que não conhece lugares-comuns e perdeu já o rasto da aldeia... Olho uma vez mais antes de seguir eu o meu (próprio) trilho...incrédula...ainda é possível saborear o trilho das manhãs puras...como diria a grande Dickinson: "Eternity is this".

quarta-feira, 2 de maio de 2007

De faca e alguidar..

(imagem: Google imagens)

De faca e alguidar

Como se sabe nós Portugueses somos senhores de um léxico inigualável, inimitável e, por vezes, in..crível. Vejamos: diz-se (e não raras vezes com muita razão) que as expressões populares são tradução dos nossos modos e mentalidade.
Eis que me deparei a pensar na quantidade de expressões que usamos relacionadas com comida..(neste momento o leitor poderá indagar-se se não poderia fazer algo mais produtivo com o meu tempo..ao que respondo..assim de repente...não).
Passei então à fase seguinte: categorizei algumas dessas expressões, todas elas com um cunho gastronómico/agressivo: encontramos a versão híbrida entre o geográfico e o gastronómico na fabulosa expressão “estás aqui estás a comer”; temos ainda a versão Dr.Bayard patente na célebre “vais ver o que é bom para tosse” ou a minha favorita na versão a que carinhosamente apelidei de Mª de Lurdes Modesto “dou-te o arroz” (mas sejamos francos, há que concordar..antes dar com o arroz que com o chispe). Temos ainda as versões passivo-agressivas: “levas um enxerto de porrada” (versão Tarzan Taborda) ou a versão orçamento de contenção “vais ouvir poucas e boas”.
Como se pode constatar, as duas tipologias ligam-se, coincidência? Não me parece. Sendo certo que somos um país de “brandos costumes”, evidente é também o nosso apetite por confusão. E com esta me fico, não querendo aqui gerar um caso de “faca e aguildar”.

Vanessa Limpo


in "Correio de Setúbal", edição de 17 de Abril de 2007.