terça-feira, 31 de julho de 2007

Palavra-puxa-palavra...


(imagem: fonte Google imagens)
Palavra-puxa-palavra”

“No início era o Verbo”, assim reza o mais conhecido livro do mundo (e não vou aqui fazer publicidade porque a concorrência livresca pode não gostar) e eu acrescentaria ainda que a Palavra não é somente o início mas é, igualmente, meio e fim.
Se há país onde a Palavra é importante é neste nosso rectângulo encantado. Gostamos tanto de falar e a Palavra está de tal forma imbuída no nosso quotidiano e mentalidade que já criámos uma expressão em que a nossa reverência pelo poder e valor da palavra é rainha, senão vejamos: quando alguém sela algum tipo de acordo connosco, quando há um compromisso estabelecido, qual é a expressão que costumamos utilizar? Ah pois é… nós “apalavramos” – um negócio fica “apalavrado”, um encontro fica “apalavrado” e a partir do momento em que “apalavramos” alguém com alguém um elo moral fica estabelecido. Podemos até não o cumprir (a grande maioria das vezes a palavra dada não passa disso mesmo…e até se disse para evitar mais conversa), mas que está “apalavrado” lá isso é inquestionável.
A importância das palavras e do que dizemos é tão forte neste país que, por exemplo, quando nos queremos esquivar de algum tema menos interessante, o que fazemos nós caríssimo leitor? Pois, até já sabe…é natural (muito provavelmente é utilizador assíduo da expressão) ora nós “fugimos à conversa”, não em corrida ou marcha, desviando-nos, sorrateiramente, ao introduzir outro tema…
E com isto, somos mestres na arte do subterfúgio verbal, especialistas no tornear das questões e exímios na arte de dialogar. Tudo claro, desde que não seja “conversa fiada”. E “palavra-puxa-palavra” eis-me no fim. Mas voltarei em breve. Fica desde já “apalavrado”.
De: Vanessa Limpo, in "Correio de Setúbal", edição de 31 de Julho de 2007

terça-feira, 24 de julho de 2007

Wise up...

(capa do filme Magnolia de Paul Thomas Anderson, 1999)
"Wise up
It's not..
what you thought...
When you first...
began it.
You got...
what you want...
Now you can hardly stand it,
though,By now you know,
it's not going to stop...I
t's not going to stop...
It's not going to stop,
Till you wise up.
You're sure... there's a cure...
And you have finally found it.
You think... one drink...
Will shrink you to... your underground
And living down, but it's not going to stop...
It's not going to stop...
It's not going to stop,
Till you wise up.
Prepare a list for what you need,
Before you sign away the deed,'
Cause it's not going to stop...
It's not going to stop...
It's not going to stop,
Till you wise up.
No, it's not going to stop,
Till you wise up.
No, it's not going to stop,
So just give up."
Aimee Mann

Parece que a estou a ouvir...e a ver o filme... que é belíssimo... e depois aquela chuva de sapos... e o compasso do piano que viaja connosco pela música...

terça-feira, 17 de julho de 2007

O efeito barbecue...




Estava eu à conversa num almoço quando surge, entre arroz e ervilhas, o tema por excelência do Verão e, em especial, dos portugueses, a saber: o bronze.
Ora sobre o bronze e o acto de apanhar os ditos “banhos de sol” muito se tem escrito, divulgado, apresentado e estudado. E, como todos sabemos, a exposição demorada aos raios ultra violetas, em determinados horários, é nociva para a pele. Ora até aqui não vos trago nada de novo (neste momento até já consigo alguns bocejos e umas suaves massagens nas pálpebras devido ao extremo “interesse” do tema), o que é fantástico e continua, contudo, a surpreender-me é que mesmo sabendo de tudo isto, o “Tuga” continua a fazer exactamente o mesmo que fazia ANTES de saber estas informações que, como sabemos, se encontram apenas em… ora deixa cá ver… é isso… em TODOS os meios de comunicação que consultamos diariamente.
Se formos às praias mais frequentadas aqui da margem sul (dos Galapinhos à praia da Sereia e ainda a praia do “Barbas” incluída) poderemos observar uma fila interminável de “banhistas” (e agora já percebi, e demorei tempo confesso, que quando um português fala num banhista, refere-se a um “banhista de… sol” e não ao banho de mar em si) estrategicamente deitados a favor do Sol e, chegando à praia, de preferência por volta das 12h ou 13h (“para fugir ao trânsito” ou então porque “os miúdos não se conseguem levantar cedo”) que é claramente a hora não do banho mas do barbecue de sol. Este é o chamado (por mim apenas mas acredito ter seguidores) efeito-barbecue, que nasce da vontade de mostrar o bronze aos demais veraneantes e não o bronze que advém do prazer de estar um pouco descansado ao Sol.
Esta verdadeira angariação de melanoma pode ser encontrada, portanto, em qualquer praia perto de si. Assim, se for um destes banhistas, apresse-se que provavelmente a esta hora a Fonte da Telha já tem a “lotação esgotada”…não sendo, por isso, fácil encontrar o verdadeiro “lugar ao Sol”.

De: Vanessa Limpo, in "Correio de Setúbal", edição de 17 de Julho de 2007


sábado, 14 de julho de 2007

Capital do vento sul...

(eu e o meu "irmão" Rui, hoje, na baixa Pombalina)
Que saudades tinha...
de ti, de mim,
de nós dois e Lisboa a obvervar-nos de longe(?)
Saudades dos passeios, os pés a andar sem cansar
o teu sorriso,
o teu silêncio,
a tua amizade...
Obrigada por hoje
Obrigada por Sempre.
Contigo todas as tardes são Março.
Aqui fica um pequeno poema sobre a nossa (linda) Lisboa.
"Primeira canção em Lisboa

Em Lisboa é que nascem as gaivotas.
Que pena, meu amor, o mar não serum copo de água pura.
De água para
a sede que em Lisboa eu vi nascer.
Em Lisboa.
Capital do vento sul.
Coração do meu povo.
A doer tanto que a dor se tornou cor. E é azul
como a ganga dos homens do meu canto.
Em Lisboa a gente morre sem idade.
Devagar. Como se faz uma canção.
E há um pássaro que voa. É a saudade.
E uma janela aberta. O coração."

Joaquim Pessoa

All is full of love...

(fotografia do videoclip All is full of love, Bjork)
"You'll be given love,
You'll be taken care of.
You'll be given love,
You have to trust it.
Maybe not from the sources
You have poured yours.
Maybe not from the directions
You are staring at...
Twist your head around:
It's all around you.
All is full of love,
All around you.
All is full of love,
[You just aint receiving.]
All is full of love
,[Your phone is off the hook.]
All is full of love,[
Your doors are all shut.]
All is full of love!
All is full of love,
all is full of love...
All is full of love,
all is full of love..."
Bork, do álbum Homogenic
Uma das minhas melodias preferidas e que me vem acompanhado há alguns anos a esta parte. Não sei se gosto mais da canção ou do videoclip ... em ambos os casos deu-se amor à primeira escuta.

terça-feira, 10 de julho de 2007

"Admirável mundo novo"

(Automat, Hopper, 1927)
Há um old saying que nos diz que quando pensamos que já nada nos consegue surpreender, algo completamente estapafúrdio acontece e vem-nos provar que a nossa teoria estava totalmente errada.
Ora ontem ao ler essa "grande" publicação semanal que é a TV Guia (há piores eu sei, mas também podia ser melhor) deparo-me com um pequeno artigo de um correspondente da dita revista que se encontra por terras Hollywoodescas e fez uma descrição deliciosa (literalmente porque o seu tema é, a meu ver, delicioso) sobre a forma surreal/complicada com que os norte-americanos pedem os seus cafés.
Quem me conhece sabe como sou fanática por esta bebida e daí o artigo ter, desde logo, captado a minha atenção (e a das minhas papilas gustativas também). Ora para quem pensa que pedir uma "bica" cheia, escura com natas é algo de já rebuscado então check this out:
Pedido nº 1:
"skinny, no sugar, low fat, vanilla, latte Mochachino com leite de soja".
Pedido nº 2:
"Skinny, Raspberry Fat Free Mocha with Blended Coffee".
Pedido nº 3 (e top of the pops para o jornalista que escreveu o artigo e para moi même também)
"Half decaf, half regular, with a shot of low fat caramel, half and half milk, with extra hot foamy and a cinnamon sprinkle".
Ufaaa ...cansaço... não sei como estes americanos aguentam mas eu cá só de ler o pedido fiquei cansada... vou mas é beber um cafézito para ver se isto passa.
(artigo escrito pelo jornalista Nuno Bernardo, in TV Guia, nº 1484)

sexta-feira, 6 de julho de 2007

E lá vai mais um!!!


E como os meses de Junho a Setembro são os mais concorridos no que diz respeito ao "baby boom" pois que num destes dias (aliás "nôtes") de Verão, lá fui eu e mais os suspeitos do costume celebrar o aniversário do nosso Joseph Charles, ou "Pigeon" para os amigos (para mim és, quer queiras quer não, portanto...). E desta vez o manjar foi na zona da Junqueira (ou melhor, na Junqueira mesmo) ali como quem vai para a Carris mas depois "segue, segue, segue, não 'bira' na primeira, não 'bira' na 2a...." e coiso..já lá está. O 'estaurante' chama-se 'kai' (se não me falha a memória) e desde já aviso que se quiserem comer sobremesas, é melhor levarem os pratos, mas já lá vamos.
Ora pois que desta vez fomos um grupito mais "piqueno" do que o habitual, porque como está claro, a malta começa a cheirar-lhes a Summer e lá vão eles e elas em debandada para a praia ou para a mata fazer piqueniques e depois não dá para ir às festas de anos. Mas nós também demos bem conta do recado, a saber: a Sónita e su muchacho, Rui, o aniversariante Zé Carlos, o Paulinho, a Lena, a Fernanda e o seu husband, e qual não foi o meu espanto (ainda agora estou completamente pasma e já foi há mais de 8 dias) quando vi a minha Aidonia de estimação chez Zézito...a minha Aida que já não via há via...pelo menos... desde a última vez... há mesmo mais de 1 ano que não estávamos juntas e soube muito bem revê-la e matar (assassinar mesmo... à bruta!!) saudades!
E estando todos juntos,deu-se ínicio à sessão solene de abertura da janta... pois que apesar dos primeiros acepipes terem demorado um nico a chegar, não é que estavam mesmo bons? eram uma espécie (não, não era de magazine) pãozito torrado com um queijo muito mas muito bom por cima... a única pessoa que não o pôde degustar foi o marido da Nanda que como muito dos elementos masculinos que conheço, não suporta queijo (como é que possível??), situação que foi imediatamente resolvida colocando outra iguaria que não me lembro minimamente agora o que era mas por certo que estava igualmente bom.
Ora, um "naco" já depois, lá veio a iguaria principal, a bela da picanha acompanhada com a sangria (desatada) que enfim... tinha um sabor ainda por definir... digamos que era assim um "híbrido" entre sumo e álcool mas muito "à frente"... e conversa para ali e aqui lá se esteve ainda a fazer os "updates" das novidades / cusquices mais recentes. Isto tudo, seguido por umas caipirinhas (que como só eram á borliu enquanto se estivesse a comer, foram longamente degustadas...que a malta não é cá de pressas e gosta de fazer uma boa digestão de forma a que os triglicéridos e afins não se manifestem). E mais uma converseta e lá chegou a hora do cake (nham nham) que era, como a foto mostra, de "xicolate", mas visto que este restaurante era inovador em vários aspectos, também neste não poderia escapar à sua filosofia "pós-moderna". E foi tão mas tão á frente que quando a malta pediu pires para colocar as fatias de bolo, a resposta da expedita empregada foi: "não temos, desculpe". Caso não tenham lido bem, eu volto a dizer: "não temos". Sim, isto não foi um erro de escrita. E agora perguntam vocês: "então mas isso não é um restaurante? os restaurantes têm sempre pires!" ao que eu respondo: "co'a breca se não têm razão! é, de facto, um estabelecimento que confecciona alimentos e os coloca em recipientes adequados e os leva até mesas que têm lá clientes sentados, logo enquadra-se no perfil de restaurante, mas qualquer semelhança com um restaurante-que-serve-sobremesas-em-pires é pura coincidência".
E, apesar deste small incindent, a noite foi mesmo um must, a malta já estava toda com saudades e fo, uma vez mais, um prazer dar-te os parabéns e cantá-los também, querido Joseph Charles. Mereces sempre uma mesa cheia de amigos (mesmo que vazia de pires...quem é que quer saber deles quando se está entre amigos?). E para o ano lá estaremos...e pelo sim, pelo não, I'll bring my own cuttlery! Beijos mil Zézito!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Um bico de obra...

(Rui Chafes, The misantrophe 2)
Não é novidade que a Margem Sul, vulgo “deserto” (mas não, fiquem descansados que não vou entrar por aí até porque foram já escritas sobre esse tema, no mínimo, 456575856957 crónicas, 236463 ensaios e não menos que 1227347 artigos) encontra-se em fase de obras profundas. E quando digo, ou melhor escrevo, obras não é no sentido figurado mas sim literal. Estamos a ser invadidos por O. T.N.I E perguntam-se vocês, caríssimos leitores: “o que são O.T.N.Is?” Respondo com a maior solicitude: são objectos terráqueos não identificados. E são não identificados não porque não haja uma terminologia precisa para os nomear mas porque eu a desconheço por completo. Qualquer uma das máquinas que quotidianamente assola a avenida em que vivo (em Almada) a meu ver é, mais coisa menos coisa (que isto da relatividade é muito bonito) uma retro escavadora, ou uma empilhadora, vá.
Mais interessante que tentar nomear os objectos que laboriosamente erguem, dia-a-dia, o futuro metro de superfície (eléctrico para os amigos) é observar os efeitos colaterais que a escavação provoca na rua e nas pessoas. É desagradável ,de facto, olhar para uma rua ou avenida em (re)construção, tornada numa península de pó e de ferro. É contudo, a meu ver, um chamado mal necessário. No entanto, é ainda pior observar um móvel a ser transportado em mãos por um peão em plena via de passagem (que não terá mais que um metro de largura) que, pasme-se, não se terá apercebido que aquele trilho improvisado era pequeno demais para uma quanto mais para duas outras pessoas que nele atravessam (ou tentam). Resultado: nem atravessam pessoas nem móveis, fica-se naquela situação típica muito nossa do “entalado”. Este verdadeiro complexo de Martim Moniz (agora mesmo inventado) que atrasa, empata e adia o nosso quotidiano é, de facto, muito mais grave que os trabalhos de obras. Gera-se assim um verdadeiro “bico de obra” que obviamente é uma “carga de trabalhos”.
De: Vanessa Limpo in "Correio de Setúbal", edição de 3 de Julho de 2007