domingo, 23 de dezembro de 2007

Miudezas...

(Natureza Morta de Paul Cézanne)
Somos um país pequenino, o designado “rectângulo à beira-mar plantado”.
Somos contudo um país “velhinho”. E por uma série de pequenas grandes razões continuamos a sofrer de um enorme complexo de inferioridade, ai enganei-me, de “inferioridadezinha”.
Este complexo é tão vasto, tão enraizado em nós, que até em expressões do dia-a-dia emerge, “sorrateiramentezinha”. Exemplozinhos? Ei-los: estamos num restaurante e perguntamos ao empregado de mesa o que recomenda, Que diz ele? _"Ora hoje temos um belo bifinho ao champignon" (o “ao” é propositadamente escrito em português pois é assim que gostamos de tratar os nosso bifes, com uma imensa portugalidade) acompanhados por uma bela batatinha frita e um molhinho de natas”.
Ora aqui deparamo-nos com dois graves indícios dessa inferioridade: primeiro no uso compulsivo dos diminutivos (que um destes dias metem baixa, exaustos de uso desmedido) “o bifinho”, a “batatinha” e o não menos importante “molhinho” (que devem ter todos o seu tamanho normal mas que por motivos afectivos são assim denominados) e por outro lado a utilização de outro recurso estilístico que deveria ser até concorrer a património lexical da humanidade, a saber, o uso do singular para designar objectos ou entidades que só fazem sentido se usadas no plural.
Quantas vezes é que o estimado leitor foi servido com uma “batatinha”? ou uma “pinguinha”de água? E se foi, que consequências teve para si? No mínimo passou fome ou sede e parecendo que não, custa um pouco passar sem comer ou beber.
Visto que não existe (até ver e que eu saiba, mas eu também sei muito pouco) um “Ministério dos Alimentos Singulares” (também não existe o dos colectivos mas isso ficava para outra crónica) a quem se dirigir e apresentar queixa, o leitor deverá apenas ter carpido as suas mágoas nutricionais junto do garçon.
Somos pequenos em tamanho mas isso não é sinónimo de pequenez. Somos parcos a pedir, a inquirir, a desejar. E no mínimo deve-se desejar tudo. Tudo…a que temos direito(s). Só assim conseguimos apreender o que nos rodeia, conjugando a vida no…plural.

Vanessa Limpo

in "Correio de Setúbal", edição de 18 de Dezembro de 2007




domingo, 16 de dezembro de 2007

Princípo, meio e fim...

(Nuvens sobre o Pico do Areeiro, Madeira, 2006)
"Abro os olhos e adormeço
Sem a mente fraquejar
Saio pela manhã
De passagem, coisa vã
Derrapagem
Que a viagem tem princípio, meio e fim
Enquanto vergo, não parto
Enquanto choro, não seco
Enquanto vivo, não corro
À procura do que é certo
Não me venham buzinar
Vou tão bem na minha mão
Então vou para lá
Ver o que dá
Pé atrás na engrenagem
Altruísta até mais não
Enquanto vergo, não parto
Enquanto choro, não seco
Enquanto vivo, não corro
À procura do que é certo
Presa por um fio
Na vertigem do vazio
Que escorrega entre os dedos
Preso em duas mãos
Que o futuro é mais
O presente coerente na razão
Frases feitas são reféns da pulsação
Enquanto vergo, não parto
Enquanto choro, não seco
Enquanto vivo, não corro
À procura do que é certo"
Bem na minha mão, Susana Félix

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

In the shores of us...

(ilha da Madeira, Agosto 2006)


"(...) Madrugada suave no cais

Olho.te bem nos olhos, sim

Choro reflectido no rio,

no rio

Fiz-me ao mar

de manhã,

Na maré de ti,

ao amanhecer (...)".

Na maré de ti, Gil do Carmo.



segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Apprivoise moi...

(imagem, fonte: Google imagens)
"(...)- Qui es-tu ? dit le petit prince. Tu es bien joli...
- Je suis un renard, dit le renard.
- Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste...
- Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé.
- Ah! pardon, fit le petit prince.
Mais, après réflexion, il ajouta:
- Qu'est-ce que signifie "apprivoiser" ?
- Tu n'es pas d'ici, dit le renard, que cherches-tu ?
- Je cherche les hommes, dit le petit prince. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser" ?
- Les hommes, dit le renard, ils ont des fusils et ils chassent. C'est bien gênant ! Ils élèvent aussi des poules. C'est leur seul intérêt. Tu cherches des poules ?
- Non, dit le petit prince. Je cherche des amis. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser" ?
- C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ça signifie "créer des liens..."
- Créer des liens ?
- Bien sûr, dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n'as pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...
- Je commence à comprendre, dit le petit prince. Il y a une fleur... je crois qu'elle m'a apprivoisé... (...)
S'il te plaît... apprivoise-moi ! dit-il.
- Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.
- On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. Ils achètent des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n'existe point de marchands d'amis, les hommes n'ont plus d'amis. Si tu veux un ami, apprivoise-moi !
- Que faut-il faire? dit le petit prince.
- Il faut être très patient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'œil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'asseoir un peu plus près... (...)
Le lendemain revint le petit prince.
- Il eût mieux valu revenir à la même heure, dit le renard. Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. A quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai; je découvrirai le prix du bonheur ! Mais si tu viens n'importe quand, je ne saurai jamais à quelle heure m'habiller le cœur... Il faut des rites.
- Qu'est-ce qu'un rite ? dit le petit prince.
- C'est aussi quelque chose de trop oublié, dit le renard. C'est ce qui fait qu'un jour est différent des autres jours, une heure, des autres heures. Il y a un rite, par exemple, chez mes chasseurs. Ils dansent le jeudi avec les filles du village. Alors le jeudi est jour merveilleux ! Je vais me promener jusqu'à la vigne. Si les chasseurs dansaient n'importe quand, les jours se ressembleraient tous, et je n'aurais point de vacances. (...)
Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple: on ne voit bien qu'avec le cœur. L'essentiel est invisible pour les yeux.
- L'essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.
- C'est le temps que tu as perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.
- C'est le temps que j'ai perdu pour ma rose... fit le petit prince, afin de se souvenir.
- Les hommes ont oublié cette vérité, dit le renard. Mais tu ne dois pas l'oublier. Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. Tu es responsable de ta rose...
- Je suis responsable de ma rose... répéta le petit prince, afin de se souvenir."
And once again...Le Petit Prince, Antoine de Saint Exupéry.

sábado, 8 de dezembro de 2007

O conduto descodificado!

(Natureza Morta, Vincent Van Gogh)
Do enigma do conduto...
Conduto e enigma na mesma frase? Não, não é um erro de óptica ou uma qualquer gralha. Do cardápio de hoje constam mesmo estes ingredientes.
O que é afinal o conduto? Esta dúvida gastronómica tem-me vindo a assolar há já algum tempo e chegou a hora de a descodificar.
O que vulgarmente designamos de “conduto” é o acompanhamento da refeição. Sim, isto porque quando comemos (que geralmente não é pouco, a bem da verdade) e para que a comida não se sinta sozinha escolhemos sempre mais qualquer coisa, o dito “conduto”. E em que consiste este aconchego para as papilas gustativas? (sim porque a maior parte das vezes não comemos o acompanhamento por necessidade mas por pura…gula). Frequentemente, o conduto não é mais que um festival calórico de alimentos totalmente desnecessários para o bom funcionamento do nosso metabolismo. E conseguimos a proeza de aliar este teor “fútil-calórico” aos malefícios que ele nos traz. Senão vejamos: o dito “bitoque” não passa de um verdadeiro pleonasmo culinário: comemos batatas fritas e ainda arroz (tudo hidratos de carbono) com ovos e carne (proteínas). Ou seja, de uma forma rápida e irreflectida vamos engordando o colestrol, comendo “mais do mesmo”. Legumes, vegetais? Como? Isso não faz parte do menu…onde é que já se viu deglutir algo que faça realmente bem ao organismo? Seria um atentado à bela da “patanisca” ser servida sem ter como “vizinho” uma belo arroz de feijão ou a singular “febra” (só ela merecia outra crónica) sem a sua batatinha e o que seria de um bife do lombo sem o tradicional champignon? Bom, seria no mínimo…. saudável!
Mas o mais extraordinário é que a este lento “homicídio” involuntário a uma dieta saudável, juntamos ainda a pièce de résistance para “arrematar” (expressão que tão querida me é) que não é mais do que a sobremesa. Ora a sobremesa poderia ser fruta e por vezes doce. O que fazemos nós? Exactamente o inverso. Um português não “passa” sem a sua mousse de chocolate (a de manga é para “inglês ver”) ou o “doce da avó” (de quem é que permanece para sempre outro enigma).
Terminada que está a refeição prepara-se o “digestivo” (a ogiva nuclear por excelência no já derrotado estômago). Resta-nos a digestão e esperar pelo acepipe seguinte. E aí o ritual repete-se. Que mais é isto senão uma perfeita “pescadinha de rabo na boca”?
Vanessa Limpo


in "Correio de Setúbal", edição de 4 de Dezembro de 2007


quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Tissues...

(Café-bar "O terraço" Lisboa)
"(...) Meu amor, à pressa de chegar a alvorada, ser a água a correr. Os animais espremessem e dormem, mas eu não mais terei sono e vou despir-te tão lentamente como se tece o tecido de uma estação. Os dedos a arder, (...)e à volta tudo se ergue e respira."
Pedro Paixão.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Mulheres de 30...

(uma (grande) Mulher de 30)



Este é um texto de Arnaldo Jabour, dedicado às mulheres que já chegaram aos 30 anos, às que estando a chegar estão desesperadas com a idéia e aos homens que tem medo de mulheres com mais de 30.Á medida que envelheço, e convivo com outras, valorizo ainda mais as mulheres que estão acima dos 30.Ficam aqui algumas das razões:

Uma mulher de 30 nunca te acordará no meio da noite para perguntar: "O que estás a pensar?" Ela não se importa com o que tu pensas, mas se dispõe de coração se tiveres a intenção de conversar.Se uma mulher de 30 não quizer assistir ao jogo, ela não fica à tua volta a resmungar. Ela faz alguma coisa que queira. E, geralmente é alguma coisa bem mais interessante.Uma mulher de 30 conhece-se o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer. Poucas mulheres de 30 se incomodam com o que tu pensas dela ou sobre o que ela está a fazer.Mulheres de 30 são honradas. Elas raramente brigam a gritos contigo durante a ópera ou no meio de um restaurante. É claro, que se mereceres, elas não hesitarão em atirar em ti, mas só se ainda assim elas acharem que poderão se safar impunes.Uma mulher de 30 tem total confiança em si para te apresentar às suas melhores amigas. Uma mulher mais nova com um homem, tende a ignorar mesmo a sua melhor amiga, porque ela não confia no seu companheiro com outra mulher. E falo por experiência própria. Não se fica com quem não se confia, vivendo e aprendendo, não é?!As mulheres tornam-se psicanalistas quando envelhecem. Nunca precisas confessar os teus pecados a uma mulher com mais de 30. Elas sabem.Uma mulher com mais de 30 fica linda usando batom vermelho. O mesmo não ocorre com mulheres mais jovens.Mulheres mais velhas são directas e honestas. Elas dizem-te na cara se fores um idiota e se estiveres a agir como tal!!Nunca precisas de te preocupar com o lugar que ocupas na vida dela. Basta agires como homem, e o resto deixa que ela faça.Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 por um "sem" número de razões. Infelizmente, isso não é recíproco. Para cada mulher com mais de 30, estonteante, inteligente, bem apanhada e sexy, existe um careca, velho, pançudo de calções amarelos bancando o bobo para uma garçonete de 22 anos.Senhoras eu peço desculpas.Para todos os homens que dizem: "Porque comprar uma vaca se podes ter o leite de graça?" aqui fica a novidade para voces: Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento, sabe porquê? Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma linguiça. Nada mais justo.

(Arnaldo Jabor)