domingo, 22 de junho de 2008

Manjericos e águas-furtadas

Dos Manjericos e águas-furtadas.

“Santo António já se acabou…o S. Pedro está-se a acabar…”. Ora não precisarei de terminar a famosa quadra popular pois todos os leitores já a conhecem de cor.
Os santos populares são, antes de mais, uma época de coesão, de celebração, não dos santos que dão nome aos festejos (quem se lembra de brindar ao santo António nos arraiais? Quem de facto compraria um manjerico fora da época?) mas do anseio de, durante, uns dias adiar-mos, esquecermos ou sublimarmos alguns escombros não resolvidos.
Os festejos surgem, não de uma vontade de relembrar um ícone religioso mas da necessidade que todos sentimos de celebrar-nos, a nós, aos nossos e até aqueles que não pertencendo à nossa galeria pessoal de afectos, se aproximam de nós nesta partilha e troca de luz, som, regada com o sabor das sardinhas assadas ou do caldo verde que anos e anos volvidos ainda continua a fumegar na tigela da nossa memória.
Somos também mais francos, mais puros e autênticos (“iguais a nós próprios” como se diz muito agora) quando nos esquecemos de vestir a farda do quotidiano cujas bainhas se cosem com as linhas do stress, ansiedade e, sejamos francos, alguma insensibilidade.
Embainhando um copo e uma sardinha somos até capazes de rir, fruir os momentos de folia junto daqueles que, curiosamente, ate nos acompanham no dia-a-dia mas que à luz do verde, vermelho e amarelo que polvilham os arraiais, ganham contornos daquilo que sempre se comprometeram a ser – a nossa (melhor) companhia.
Sendo que nunca fui muito fã de alegria com hora marcada, confesso contudo que gosto de observar e misturar-me neste “Natal de verão”, que em si encerra a promessa de um tempo suspenso, mais luminoso e feliz, ou o desejo de nos apaziguarmos um pouco com o cinzento que cobre os nosso dias. Uma certeza fica e a ela brindamos: para o ano há mais! As águas-furtadas da cidade disso são testemunhas e os santos, ali tão perto, abençoam mais uma rodada de folia.


Vanessa Limpo

in, "Expresso SemMais", edição de 21 de Junho de 2008.

domingo, 8 de junho de 2008

The G Generation

A Geração “G”

A geração “G”? então mas não era “X”? O leitor que me perdoe, mas não, esta não foi uma gralha ortográfica, existe mesmo uma geração “G” e passo a explicar.
A minha geração (a que se encontra agora entre os 29, 30, 31 anos) é a geração “G”. O “G” para qualquer indivíduo que pertença a esta faixa etária vai fazer todo o sentido quando eu disser essa palavra mágica que fez as delícias da nossa infância e/ou puberdade. O “G” é de “Gorila”, as míticas pastilhas que tanto mascámos com incomensurável deleite. Eu confesso que as pastilhas “Gorila” estavam para mim, em termos de prazer gustativo, como outro símbolo mítico desta geração: o “Epa”. Ora podem-me dizer que o “Epa” ainda existe mas todos sabemos que não colhe o mesmo sucesso dos idos da década de 80 em que era, provavelmente, o gelado que mais sucesso (logo seguido pelo “Calippo” e o “Perna de Pau”) tinha junto da pequenada.
O nosso maior maior deleite era não tanto o gelado em sim mas aquele momento único em que se avistava, redonda e cremosa, envolvida na alva cobertura do gelado, a pastilha elástica. Esse momento valia toda uma tarde de escola à sua espera.
Ora as “Gorila” traziam o mesmo tipo de prazer; quantas vezes vi a alegria dos meus colegas a abrir, com um sorriso do tamanho da sua infância, o papelinho que vinha sempre com a pastilha.
O mesmo se passava com os cromos “Tou” que agora se encontram numa época de revival, sendo que fazem já parte do panteão vintage das gulodices dos anos 80. Criança que se prezasse jamais comprava um “Bollycao” apenas pelo deguste, subrepticiamente todos ansiávamos pelo novo “Tou”. Até os “Douradinhos da Iglo” traziam cromos para coleccionar e sei que ainda abundam muitos no pó de que as memórias de infância são feitas.
Falar da meninice, das suas memórias e sabores é algo infindável. Páginas e páginas seriam necessárias para condensar todos os símbolos e referências que a ela estão associadas. Contudo, e apesar de todos os rótulos que a minha geração já passou, desafio as gerações vindouras a poderem partilhar memórias tão doces e prazerosas como estas.
Haverá algo mais saboroso que ouvir, subitamente, quando menos esperamos, as canções da “Ana e os Queijinhos Frescos”? Pois, eu sei…uma autêntica delícia!


Vanessa Limpo

In "Expresso SemMais", edição de 7 de Junho de 2008