domingo, 20 de julho de 2008

I beg your pardon?

Veio de mansinho, assim como quem não quer a coisa mas parece que está cá para ficar (pelo menos até ao próximo solstício) e começam já a fazer-se sentir os seus efeitos.
Claro está que falo do Verão. Esta silly season, como vulgarmente é designada na imprensa, traz, de facto, consigo situações e/ou personagens bem silly.
Como explicar, por exemplo, a tendência portuguesa para de repente tratar os estrangeiros de forma diferente nos diferentes estabelecimentos públicos e/ ou comerciais? Bastam as palavras mágicas (geralmente proferidas em inglês mas desde que não sejam em português, o “truque” funciona plenamente) para todo um admirável tratamento novo se dar: se for num café ou restaurante o cliente é atendido, muitas vezes, em primeiro lugar, sentado num ponto privilegiado, etc. Mas o FSI (fenómeno da simpatia imediata) dá-se também em lojas, bares, ou até na rua. Raramente temos paciência para dar, por exemplo, indicações geográficas aos nossos conterrâneos, contudo, ouve-se um qualquer balbuciar na língua de Shakespeare ou na de Goethe e faz-se magia: somos solícitos, indicamos (se o nosso inglês não estiver no seu auge de inteligibilidade então recorremos até à mímica e só não vamos com o turista aflito porque temos o 28 para apanhar).
Que somos um povo hospitaleiro por natureza ninguém duvida e essa é uma característica que não devemos perder visto que nos torna singulares entre tantos outros, o que não deveríamos perder é a nossa solicitude para com os nossos conterrâneos, os primeiros sorrisos e afabilidade deveriam ser entre portugueses e, concomitantemente extensíveis aos demais povos, etnias e culturas.
Não sendo patriota exacerbada acredito, no entanto, numa velha máxima:a de que a educação começa em “casa”.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de dia 19 de Julho de 2008

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Anúncio de emprego...

Anúncio que vi hoje no site net-empregos.com, aquando das minhas pesquisas diárias por quiçá um emprego decente e honesto..qualquer semelhança com tal situação é pura coincidência...ele há coisas...co'a breca!


"Cota de 55 anos pretende contactar jovem mulher com formação em ingles.Terá de ensinar o velhinho a falar minimamente a lingua inglesa.Ofereço remuneração compativel e uma estadia em qualquer parte do mundo que fale ingles.Assunto sério.Não aceito candidatas que me tentem assediar.Enviar candidatura a tonimiguel@sapo.pt "

domingo, 6 de julho de 2008

Nails are (all) of us...

Nails are (all) of us…

Hoje em dia fala-se muito dos avanços da tecnologia e da sua influência sobre os jovens e crianças. Adventos como a Internet, os jogos de computador e todos os demais gadgets como as consolas, playstations) etc, são considerados “papões” modernos que sugam dos cérebros das nossas crianças toda a possibilidade de livre raciocínio, criatividade ou imaginação.
Em grande parte concordo que a exposição (e uso) abusivos destes meios podem, de facto, constituir um entrave ao estímulo de capacidades como as já referidas à actividade a que, até agora, as crianças são especialistas: a de brincar.
As crianças hoje não brincam, simulam, não inventam, recriam, e sobretudo quando lhes é pedido para inventarem uma brincadeira, retraem-se. Não quero aqui tomar este facto como geral, há sempre excepções mas enquanto membro activo na comunidade pedagógica, cada vez mais considero que brincar é urgente, brincar é preciso!
Outra coisa que é necessária é deixar as crianças serem-no. Já sei que este discurso está gasto, foi amplamente debatido, no entanto, continua a fazer sentido.
Quando vejo crianças com seis anos com unhas e cabelos pintados, usando acessórios de uma adolescente de 16 anos, penso que aquela criança deve estar um pouco baralhada e que vem com uma década de antecipação. Esta é a geração da antecipação (passe a rima não propositada): nos adolescentes antecipa-se a idade adulta; aqui poderão dizer-me que já no “nosso” tempo era assim, que todos os jovens querem ser “grandes”. Correcto, a diferença é que queríamos mas não podíamos porque os nossos pais não nos deixavam (honra lhes seja feita). Nas crianças antecipa-se a adolescência e isto ainda me parece mais grave: ter um telemóvel aos seis anos, pintar as unhas ou o cabelo quando ainda a dentição conhece as primeiras baixas não me parece coerente. Estamos noutros tempos, é verdade, contudo e pelo o que testemunho, uma criança prefere sempre um chupa-chupa a um vale Fnac, e se lhe derem uma sala vazia durante duas horas, essa sala ao fim desse tempo não será a mesma, porque foi invadida de traquinice e brincadeira.
È preciso deixar que as bolas, elásticos e bonecas inundem de infância as nossas crianças. Deixemo-las brincar com mãos sujas de riso e de tanta apanhada. Só assim formaremos adultos saudáveis. Como diria João dos Santos “O segredo do homem é a sua infância”.

Vanessa Limpo.

In "Expresso SemMais", edição de 5 de Julho de 2008