domingo, 21 de dezembro de 2008

All I want for Xmas is...everything

Estava outro dia numa aula junto das minhas crianças (não sendo minhas na verdadeira acepção do termo, sob minha “égide” estão durante 45 minutos dos seus dias).
Sendo o Natal o coração das suas expectativas nesta época, a lista de presentes estava na ordem do dia (e, da noite, madrugada, e afins pois se testes se fizessem aos seus cérebros, creio que os presentes ocupariam pelo menos 90% da sua memória total). À pergunta “qual é a prenda que mais queres este Natal?”, a resposta veio, sem já grande surpresa (que isto quando não se é “marinheiro de primeira viagem” nestas lides não traz estupefacção) que queriam no mínimo três “grandes” presentes, sendo que o adjectivo está associado não ao tamanho mas ao preço das oferendas.
Entre Nintendos, que segundo apurei estão na ordem dos quase 200 euros, a Princesas (colecção inteira ou a alegria da criança de volta) passando pelas –ainda- tradicionais bicicletas, Barbies ou PSP (que com tantas novas “gerações” que por aí pululam já me perdi se são “2” ou “3” e os especialistas que me perdoem se já houver uma “4” que esta minha pobre mente can’t keep up).
Oferecer presentes ás nossas crianças constitui uma verdadeira aventura, que começa desde logo pelo obrigatório update lnguístico a que temos de nos sujeitar, desde saber PSP não é polícia de segurança pública) ou que Winx designa um conjunto de bonecas que são bruxas, e como é óbvio em quarto onde cabe uma bruxa cabem logo duas ou três.
Após esta fase, vem a dor de cabeça da triagem que acompanhada pelo doce riso da criança que geralmente traz a caderneta da escola com as boas notas, deixa de ser triagem para passar a ser tudo o que foi pedido e como “a miúda até se porta bem” e o subsídio já veio, pronto, lá se faz o gosto ao cartão.
Tudo isto numa óptica de suposta magia, envolta em ambiente embrulhado a filhós, sonhos e rabanadas, regado com umas horas em família e claro, muitos presentes. Mas, caramba, o Natal é quando um Homem quiser e em Dezembro é, basicamente, todos os dias. Uma vez por ano, até ao Natal…seguinte.

Vanessa Limpo

in "Expresso SemMais", edição de 20 de Dezembro de 2008



domingo, 7 de dezembro de 2008

Pelos cabelos

Já aqui referi algumas das minhas eternas dúvidas existenciais, problemáticas que me assolam de forma continuada e que creio poderem também perturbar a si caríssimo/a leitor/a.
Ora, hoje lanço aqui outra dúvida que há muito me acompanha, algo que ao fim de três décadas de existência ainda não consegui resolver.
Se aqui há uns meses falei da “pandemia” de designar “Pérola” a tantas pastelarias espalhadas por este nosso Portugal, desta feita pergunto-me por que é que grande parte dos nossos cabeleireiros têm o nome “Cristina” ou, na sua forma petit-nom, “Tina” ou “Tinita”. Sei que o leitor poderá desde já dizer que o nome do estabelecimento designa o nome da sua proprietária e assim penso igualmente, ou, pelo menos, seria o raciocínio mais lógico.
Ora, mas se “Cristina” designa o nome da proprietária, então sou forçada a pensar várias possibilidades, a saber:
a A maioria das cabeleireiras portuguesas chama-se? Cristina
b) A maioria das cabeleireiras portuguesas tem como nome predilecto Cristina, daí baptizar o seu estabelecimento com esse nome.
c) Não se me apresenta qualquer outra hipótese plausível, mas, como nunca vi uma enunciação de hipóteses terminar na aliena b, decidi colocar uma terceira.
Se pensar que estou a hiperbolizar, ou que esta problemática não tem qualquer sentido, esteja atento a um qualquer “day Spa”, “Espaço” ou “Hairstylist” (sim, que agora dizer “cabeleireiro” já não está actualizado e daí pulularem desenfreadamente epítetos destes). Mas a minha aflição não finda aqui. Quando não se chama “Cristina”, o dito estabelecimento terá fortes probabilidades de possuir um destes nomes: “Faty”, “Fatinha”, “Mary”, “Sony” e demais nomes baseados ou em diminutivos carinhosos (o que até terá a sua lógica, visto que não convém tratar mal quem estará durante 1 a 2 horas a tratar-nos do cabelo) ou numa versão anglo-saxónica utilizando o mesmo diminutivo mas com a terminação em “y” (não sei se será porque se crê dar mais estatuto ou se não deixaram mesmo pôr o nome que tanto se pretendia: “Cristina”).
Que se pretenda um nome familiar para um estabelecimento que se quer amistoso, acolhedor e apelativo compreendo, que se goste particularmente de nomes pequenos ou diminutivos também entendo, ultrapassa-me, contudo, é a escolha que pende sempre para os mesmos nomes (salvem-se algumas excepções) num país com tantos cabeleireiros.
Ou as Cristinas nasceram com dotes para tratamentos capilares (o que ainda poderá ser objecto de um qualquer estudo genético que aprofunde esta hipótese), ou então a onomástica capilar precisa ser urgentemente revista.

Vanessa Limpo

In, "Expresso Sem Mais", edição de 06 de Dezembro de 2008