Estou sentada na sala de professores em frente ao pc..tenho mil coisas a tratar, preparar, ler, rever, assinalar, apontar...nunca os verbos no Infinitivo fizeram tanto sentido.
Estou sentada. Sinto-me perdida. Tenho medo. O filme não é de terror. Mas tenho medo. Medo de falhar (o meu medo mais costumeiro) medo de não conseguir. De me atrasar a entregar planficações, planos de actividades, pautas e todos os etcas que come with the territory...
No meio tudo disto as aulas e os alunos...o mais fácil dentro do difícil. Mas é solo conhecido e terreno mais macio onde pouso medos e receios afins numa segurança menos tímida.
São tão jovens, ainda têm os rostos redondos de sonhos e adolescência.
São encarregados de uma educação muito própria, nem sempre linear. Gosto disso.
Sempre me atraiu o que escapa, o que é incomum ou estrangeiro à ordem.
Gosto das gargalhadas, dos olhares de dúvida e do apontar frenético.
A inocência ainda mora ali. Entre roupas de marcas, dois ou três telemóveis per capita, páginas de Hi5 e/ou Facebook sempre actualizades.
Estão ainda entre os LOLS e os já tenros vislumbres de responsabilidade e trabalho.
Estão verdes mas num verde a transmutar-se para arco-íris fecundo de Verão.
Ainda é Verão nas vidas deles. As suas vidas, são ainda (não em todos mas em muitos casos, felizmente) um Verão imenso.
E eu olho-os com a doçura de um olhar um pouco mais Outonal que o deles. E rio com eles. E de, repente, é Verão em mim. LOL.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ao A.
Hoje quero falar do A. Falo (quase) sempre de meninas.
Hoje o tempo das letras é teu A.
O A. é daquelas pessoas que quando entra numa sala não dá nas vistas ou faz por ser o centro das atenções. Ele É, naquele e em todos os momentos em que se cruza com os Outros, o centro, a raiz de qualquer sala.
Sobretudo das salas que moram nos nossos corações.
O A, tem a capacidade de conciliar, agregar em e para si pessoas das mais diferentes origens, credos, etnias, orientações, gostos ou opiniões.
Quando o A. (nos) chama, nós vamos. E vamos conjungando o verbo "ir" em todos os tempos...fomos no passado pô-lo ao aeroporto quando foi para a terra das geishas, fomos quando voltou por uns tempos, fomos quando partiu de novo.
Voltámos a ir quando voltou agora. E a ti vamos, regressamos todas as vezes que nos "mandares". Não mandas, que não és arrogante. Nem pedes, no fundo, pois para nós é natural sabermos que nos queres contigo. Estando tu em que parte do globo estiveres.
Mas a parte onde mais estás é bem perto...é em nós.
Cá dentro.
O A. é daquelas pessoas que me (nos) faz esquecer qualquer partícula de tristeza que tenhamos. E quando esse mal custa a esquecer, ele vem e ouve. E nós falamos e nesse momento ele transmuta-se e torna-se Conforto.
Não posso dizer isto de muitas pessoas. Apesar de parecer que gosto de muitas pessoas. Tenho é o privilégio do talento para a escolha das amizades como já aqui escrevi. Mas de qualquer forma, o A. não é qualquer um...
E apesar de ser Um, ele é tanta gente em simultâneo. Congrega tanta luz em si que sabe ser filho, neto, amigo, vizinho, professor, colega. E professor que é, passa sempre com louvor e distinção.
E o que mais me encanta é que não o faz conscientemente.
E essa é, a meu ver, a essência da Bondade: altruísmo puro. Dar-se, ouvir e estar pelo prazer genuíno que tem em estar-se com os Outros.
É forte. Nunca lhe disse como o admiro. Faço-o agora pois o Afecto não tem hora marcada. Admiro a sua coragem de partir, de largar convenções e confortos adquiridos. Admiro a sua busca incessante em Conhecer, Ver, Viajar. Mudar.
Não hesita. Mesmo que assustado (que não o dirá) parte pois a voz que ouve é a que está dentro da sua Convicção, e a ela tem de obedecer.
O A. é impulsivo, ri e traz gargalhadas em todas as cores do arco-íris para nós.
Não é trocista. Tem muito cuidado com os sentimentos dos outros porque sabe que não há mais digno de respeito que a individualidade de cada um.
Sensível, doce, franco, frontal (não hesita em dar um grito ou uma "wake up call") quando assim tem de ser. Se não concorda terá de o dizer. E se o diz é porque se preocupa e não o inverso. E a nós cabe-nos aceitar porque somos seus amigos.
O A. não tem bom coração, é um bom coração com uma pessoa (linda) à volta.
E, por isso, hoje aqui, sentada entre o computador e uma noite de Outono breve, deste lado castiço da cidade, oiço, como que ao compasso de uma canção da tua Tininha, o pulsar suave do teu coração.
Que tem a sorte de vir abraçado a ti.
Hoje o tempo das letras é teu A.
O A. é daquelas pessoas que quando entra numa sala não dá nas vistas ou faz por ser o centro das atenções. Ele É, naquele e em todos os momentos em que se cruza com os Outros, o centro, a raiz de qualquer sala.
Sobretudo das salas que moram nos nossos corações.
O A, tem a capacidade de conciliar, agregar em e para si pessoas das mais diferentes origens, credos, etnias, orientações, gostos ou opiniões.
Quando o A. (nos) chama, nós vamos. E vamos conjungando o verbo "ir" em todos os tempos...fomos no passado pô-lo ao aeroporto quando foi para a terra das geishas, fomos quando voltou por uns tempos, fomos quando partiu de novo.
Voltámos a ir quando voltou agora. E a ti vamos, regressamos todas as vezes que nos "mandares". Não mandas, que não és arrogante. Nem pedes, no fundo, pois para nós é natural sabermos que nos queres contigo. Estando tu em que parte do globo estiveres.
Mas a parte onde mais estás é bem perto...é em nós.
Cá dentro.
O A. é daquelas pessoas que me (nos) faz esquecer qualquer partícula de tristeza que tenhamos. E quando esse mal custa a esquecer, ele vem e ouve. E nós falamos e nesse momento ele transmuta-se e torna-se Conforto.
Não posso dizer isto de muitas pessoas. Apesar de parecer que gosto de muitas pessoas. Tenho é o privilégio do talento para a escolha das amizades como já aqui escrevi. Mas de qualquer forma, o A. não é qualquer um...
E apesar de ser Um, ele é tanta gente em simultâneo. Congrega tanta luz em si que sabe ser filho, neto, amigo, vizinho, professor, colega. E professor que é, passa sempre com louvor e distinção.
E o que mais me encanta é que não o faz conscientemente.
E essa é, a meu ver, a essência da Bondade: altruísmo puro. Dar-se, ouvir e estar pelo prazer genuíno que tem em estar-se com os Outros.
É forte. Nunca lhe disse como o admiro. Faço-o agora pois o Afecto não tem hora marcada. Admiro a sua coragem de partir, de largar convenções e confortos adquiridos. Admiro a sua busca incessante em Conhecer, Ver, Viajar. Mudar.
Não hesita. Mesmo que assustado (que não o dirá) parte pois a voz que ouve é a que está dentro da sua Convicção, e a ela tem de obedecer.
O A. é impulsivo, ri e traz gargalhadas em todas as cores do arco-íris para nós.
Não é trocista. Tem muito cuidado com os sentimentos dos outros porque sabe que não há mais digno de respeito que a individualidade de cada um.
Sensível, doce, franco, frontal (não hesita em dar um grito ou uma "wake up call") quando assim tem de ser. Se não concorda terá de o dizer. E se o diz é porque se preocupa e não o inverso. E a nós cabe-nos aceitar porque somos seus amigos.
O A. não tem bom coração, é um bom coração com uma pessoa (linda) à volta.
E, por isso, hoje aqui, sentada entre o computador e uma noite de Outono breve, deste lado castiço da cidade, oiço, como que ao compasso de uma canção da tua Tininha, o pulsar suave do teu coração.
Que tem a sorte de vir abraçado a ti.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Não mais que dezasseis anos...
Ela estava sentada à espera do metro. Não tinha mais de quinze ou dezasseis anos. Olhei para ela porque chorava.
Era jovem. Não mais que dezasseis anos. E chorava.
Chorava daquela forma de quem se entrega à dor, se esvazia de si e a água do seu peito tinha de sair. Não havia outro escape. Outra solução. Outro Norte.
Ela desaguava dor. Não mais que dezasseis anos.
Entrou no metro. Continuava a chorar. Sem controlar em contenção, sem conseguir parar. Estava em pé, cabeça baixa, eixo certo para a lágrima correr. Não olhava em volta. Quase ninguém deu por isso.
Não mais que dezasseis anos.
Senta-se de seguida, como que a procurar a melhor posição para a dor (quem disse que era deitada?). Ela sabe -tenro peito dos seus dezassesis anos- que quando dói, não estando parada, acalma o ardor que corre lá dentro. Lá no âmago de si onde a Dor se centra, lançado os seus tentáculos corpo fora, peito fora, rosto fora.
Ela chorava, copiosamente, sentada, envergonhada. Não mais que 16 anos.
Ela sabe já o quanto a Dor dói. Levanta o rosto para ver se no meio desse desaguamento de si para fora, se não se enganou na estação de metro. Quis saber se o ritmo do seu descontrole não se descompassou com o rolar dos carris.
Não. Ainda não era a sua paragem. Baixa a cabeça. Volta a chorar. Pára um pouco e volta, quando lá dentro percebe que é irremediável, embora ainda não acredite que está a acontecer. Dilúvio de si, de novo.
Sai do metro. Estação Alameda. Sei porque saí atrás dela, segui-lhe os passos. Pelo menos até saber que iria chegar à superfície e que a multidão da cidade a protegeria. De si mesma.
Lá ela seria apenas uma miúda cheia de pressa a olhar para o chão. E aí sim, sob a luz lá fora, cheia de cadernos e livros a envolver-lhe os braços e pesar, choraria à vontade. Afinal ninguém vê.
Não tinha mais que dezasseis anos.
Era jovem. Não mais que dezasseis anos. E chorava.
Chorava daquela forma de quem se entrega à dor, se esvazia de si e a água do seu peito tinha de sair. Não havia outro escape. Outra solução. Outro Norte.
Ela desaguava dor. Não mais que dezasseis anos.
Entrou no metro. Continuava a chorar. Sem controlar em contenção, sem conseguir parar. Estava em pé, cabeça baixa, eixo certo para a lágrima correr. Não olhava em volta. Quase ninguém deu por isso.
Não mais que dezasseis anos.
Senta-se de seguida, como que a procurar a melhor posição para a dor (quem disse que era deitada?). Ela sabe -tenro peito dos seus dezassesis anos- que quando dói, não estando parada, acalma o ardor que corre lá dentro. Lá no âmago de si onde a Dor se centra, lançado os seus tentáculos corpo fora, peito fora, rosto fora.
Ela chorava, copiosamente, sentada, envergonhada. Não mais que 16 anos.
Ela sabe já o quanto a Dor dói. Levanta o rosto para ver se no meio desse desaguamento de si para fora, se não se enganou na estação de metro. Quis saber se o ritmo do seu descontrole não se descompassou com o rolar dos carris.
Não. Ainda não era a sua paragem. Baixa a cabeça. Volta a chorar. Pára um pouco e volta, quando lá dentro percebe que é irremediável, embora ainda não acredite que está a acontecer. Dilúvio de si, de novo.
Sai do metro. Estação Alameda. Sei porque saí atrás dela, segui-lhe os passos. Pelo menos até saber que iria chegar à superfície e que a multidão da cidade a protegeria. De si mesma.
Lá ela seria apenas uma miúda cheia de pressa a olhar para o chão. E aí sim, sob a luz lá fora, cheia de cadernos e livros a envolver-lhe os braços e pesar, choraria à vontade. Afinal ninguém vê.
Não tinha mais que dezasseis anos.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
O que se sente por aqui...
"só eu sei
só eu sei que sou terra
terra agreste por lavrar
silvestre monte maninho
amora fruto sem tratar
só eu sei que sou pedra
sou pedra dura de talhar
sou joga pedrada em aro
calhau sem forma de engastar
a cotação é o que quiserem dar
não tenho jeito para regatear
também não sei se eu a quero aumentar
porque eu não sei
porque eu não sei se me quero polir
também não sei se me quero limar
também não sei se quero fugir
deste animal
que anda a procurar
só eu sei que sou erva
erva daninha a alastrar
joio trovisco ameaça
das ervas doces de enjoar
só eu sei que sou barro
difícil de se moldar
argila com cimento e saibro
nem qualquer sabe trabalhar
em moldes feitos não me sei criar
em formas feitas podem-se quebrar
também não sei se me quero formar
porque eu não sei
porque eu não sei se me quero polir
também não sei se me quero limar
também não sei se quero fugir
deste animal
que anda a procurar"
António Variações
P.S. Confesso que surripiei ao blog da A. pois queria tanto ter a letra aqui.
A, sou uma "gatuna" de posts, sorry.
só eu sei que sou terra
terra agreste por lavrar
silvestre monte maninho
amora fruto sem tratar
só eu sei que sou pedra
sou pedra dura de talhar
sou joga pedrada em aro
calhau sem forma de engastar
a cotação é o que quiserem dar
não tenho jeito para regatear
também não sei se eu a quero aumentar
porque eu não sei
porque eu não sei se me quero polir
também não sei se me quero limar
também não sei se quero fugir
deste animal
que anda a procurar
só eu sei que sou erva
erva daninha a alastrar
joio trovisco ameaça
das ervas doces de enjoar
só eu sei que sou barro
difícil de se moldar
argila com cimento e saibro
nem qualquer sabe trabalhar
em moldes feitos não me sei criar
em formas feitas podem-se quebrar
também não sei se me quero formar
porque eu não sei
porque eu não sei se me quero polir
também não sei se me quero limar
também não sei se quero fugir
deste animal
que anda a procurar"
António Variações
P.S. Confesso que surripiei ao blog da A. pois queria tanto ter a letra aqui.
A, sou uma "gatuna" de posts, sorry.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
10 things I love about the countryside...
- Poder dizer "Bom dia" e ainda ganhar o bónus de receber um de volta.
- A serra do Colcurinho pela manhã.
- A água do Alva a correr até (quase) me adormecer.
- O som característico da carrinha "Family Frost".
- O sino no campanário a lembrar que já é mais que dia.
- Ser a "vizinha" e "prima" de toda a gente.
- Perguntarem-me a quem "pertenço".
- Os bolos que saem do forno e o sabor da carne grelhada na brasa.
- Os meus pés em cima dos do meu avô no sofá.
- A serra do Colcurinho pela manhã.
- A água do Alva a correr até (quase) me adormecer.
- O som característico da carrinha "Family Frost".
- O sino no campanário a lembrar que já é mais que dia.
- Ser a "vizinha" e "prima" de toda a gente.
- Perguntarem-me a quem "pertenço".
- Os bolos que saem do forno e o sabor da carne grelhada na brasa.
- Os meus pés em cima dos do meu avô no sofá.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
"New Emigra"
Com o Verão vêm as férias e agora que estamos no pico de Agosto com ele vem um espécimen que nunca está em vias de extinção, a saber: o “emigrante” ou em português corrente, o “emigra”.
Ora o “emigra” caracteriza-se por uma série de características da nossa mentalidade e cultura que se materializam nesse ser único e cada vez menos raro (crise oblige).
O “emigra” do anos 60/70 era conhecido por incorporar toda uma série de esterótipos que associamos ao Português mediano: o bigode de quase 1,5m com uma espessura respeitosa que dava para aquecer os mais friorentos nas noites frescas de Agosto. Albergava em si uma massa gorda que bem partidinha às postas dava para alimentar Somália e meia e não resistia a ir comemorar o seu regresso à Pátria mãe com idas às feiras, romarias, procissões e bailaricos de aldeia. Tudo muito bem regado com vinho tinto e uns quantos quilos de couratos. Emigrava porque em Portugal as condições de vida não lhe permitiam sustentar a sua “Maria” e os seus 3 a 4 filhos.
Hoje o “emigra” é diferente. Caracteriza-se por ser jovem, geralmente na casa dos vinte ou trinta e poucos. É licenciado, casou-se há pouco tempo, ou ainda é solteiro e como tirou um curso que basicamente não lhe trará qualquer perspectiva de futuro ou estabilidade (mesmo que seja aquilo que sempre sonhou fazer) económica, emigra não para melhorar a sua qualidade de vida mas para tentar tê-la.
O seu projecto de vida não passa por trabalhar na Suíça (por exemplo) durante 20 ou 30 anos e depois voltar a seu lugarejo natal e construir uma vivenda de 7 ou 8 quartos, com jardim e garagem para o seu Audi ou Mercedes e ainda com um telhado de telha preta (porque como toda a gente sabe cá em Portugal no Algarve neva muito de Inverno). O “NE” (new emigra) sabe que o seu futuro passa por continuar lá no “estrangeiro” se quiser continuar a completar a sua nova dentição a preços de amigos, ou a ver o seu filho nascer num hospital em que não façam a sua mulher sofrer 48 horas antes de a levar para uma cesariana.
Sim o “NE” sabe com o que pode contar lá mas sobretudo tem consciência do que não poderá contar se voltar para cá. Se é um “pária” por isso? Se não gosta do seu país? Claro que não. Até porque a língua, a comida, o clima e a hospitabilidade portuguesas são únicas. Apenas sabe que apesar de viver perto da neve e das renas, o “Pai Natal” não existe.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", ediçao de 29 de Agosto de 2009.
Ora o “emigra” caracteriza-se por uma série de características da nossa mentalidade e cultura que se materializam nesse ser único e cada vez menos raro (crise oblige).
O “emigra” do anos 60/70 era conhecido por incorporar toda uma série de esterótipos que associamos ao Português mediano: o bigode de quase 1,5m com uma espessura respeitosa que dava para aquecer os mais friorentos nas noites frescas de Agosto. Albergava em si uma massa gorda que bem partidinha às postas dava para alimentar Somália e meia e não resistia a ir comemorar o seu regresso à Pátria mãe com idas às feiras, romarias, procissões e bailaricos de aldeia. Tudo muito bem regado com vinho tinto e uns quantos quilos de couratos. Emigrava porque em Portugal as condições de vida não lhe permitiam sustentar a sua “Maria” e os seus 3 a 4 filhos.
Hoje o “emigra” é diferente. Caracteriza-se por ser jovem, geralmente na casa dos vinte ou trinta e poucos. É licenciado, casou-se há pouco tempo, ou ainda é solteiro e como tirou um curso que basicamente não lhe trará qualquer perspectiva de futuro ou estabilidade (mesmo que seja aquilo que sempre sonhou fazer) económica, emigra não para melhorar a sua qualidade de vida mas para tentar tê-la.
O seu projecto de vida não passa por trabalhar na Suíça (por exemplo) durante 20 ou 30 anos e depois voltar a seu lugarejo natal e construir uma vivenda de 7 ou 8 quartos, com jardim e garagem para o seu Audi ou Mercedes e ainda com um telhado de telha preta (porque como toda a gente sabe cá em Portugal no Algarve neva muito de Inverno). O “NE” (new emigra) sabe que o seu futuro passa por continuar lá no “estrangeiro” se quiser continuar a completar a sua nova dentição a preços de amigos, ou a ver o seu filho nascer num hospital em que não façam a sua mulher sofrer 48 horas antes de a levar para uma cesariana.
Sim o “NE” sabe com o que pode contar lá mas sobretudo tem consciência do que não poderá contar se voltar para cá. Se é um “pária” por isso? Se não gosta do seu país? Claro que não. Até porque a língua, a comida, o clima e a hospitabilidade portuguesas são únicas. Apenas sabe que apesar de viver perto da neve e das renas, o “Pai Natal” não existe.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", ediçao de 29 de Agosto de 2009.
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