“I am an invisible man (...) I am invisible simply because people refuse to see me (...) you wonder if you aren’t (...) a phantom in other people’s minds.”
Invisible man, Ralph Ellison, Penguin Books, Prologue, 1947, USA, p. 7.
Este trecho do assombroso livro do escritor norte-americano fala-nos da condição de invisibilidade de um homem negro na América dos anos 40-50 do século passado. Essa invisibilidade nada mais é do que metáfora para a segregação racial de que então se era vítima de forma explícita, de forma continuada e até estimulada.
Não pretendendo dissertar sobre a história norte-americana, até porque mais do que nunca, está na ordem do dia e é mais que discutida, falada e debatida, é, todavia, impossível não falar de Barack Obama.
Muita tinta correu (e corre ainda) sobre a vitória deste descendente de queniano, nascido no Havai. Não há forma de o contornar, ele é o assunto do dia, da hora e talvez desta primeira década de um século ainda criança, e criança que é, portador de uma nova esperança.
Barack será mais do que o vencedor das eleições presidenciais norte-americanas. Será lembrado como presidente do país, mas ele é como, já foi dito, o presidente do mundo.
O que nos aproxima então deste ex-advogado de Chicago? Não sendo seus compatriotas, não estando incluídos na sua cultura ou origem social, muitos de nós nem partilhamos da sua visão política, no entanto, o mundo votou em Obama. Votou no Homem, no carisma e na… MUDANÇA.
Ninguém duvida das suas capacidades retóricas, muitos seguem atentamente o seu programa político, contudo o que nos traz perto deste homem não é o que nos é diferente, mas o que dele nos aproxima. Ele é a metáfora da modernidade, símbolo da evolução, baluarte da derrocada do preconceito racial.
Não sendo ingénua, pensando que Obama representa o fim da queda da discriminação étnica que nunca fez sentido, ele devolveu-nos o brilho da visibilidade desejada por Ellison, recuperando-a e colocando-a não como inevitável alternativa, mas antes natural evidência de uma sociedade (mais) evoluída.
Claro? Claríssimo. Preto no branco.
Vanessa Limpo.
in "Expresso Sem Mais", edição de dia 15 de Novembro de 2008.
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