Mas porque carga de água é que as pessoas hão-de ser tão terrivel e previsivelmente preconceituosas? Já nem posso usar a expressão "estou cansada/farta" para dizer as vezes que oiço, vejo, percebo a reacção dos outros quando digo que moro na Mouraria...o Drama, o Horror... parece que acabei de dizer que vivo no Afeganistão, ou mais à Portuguesa, que saí do antigo bairro da Musgeira, ou da Cova da Moura para ser mais actual. (E mesmo esses bairros têm lá muito boa gente, de certeza).
Não há pachorra. Sinceramente. E depois vem a (fatídica) pergunta: "Ai, e não tens medo? aquilo é muito mau".
Pois é, tanto que passo os meus dias a ir para o S.José para me coserem toda, no minímo, de duas em duas horas. Oh sim, nada melhor que uma bela sutura para fazer desaparecer as dores de cabeça, provocadas pela, loucura do dia-a-dia (Royco cup-a-soup, todos os direitos reservados)!
A essas pessoas tenho mesmo vontade de perguntar se já cá viveram ou quantos dias cá passaram para poderem expressar tamanho pavor.
Mas esta história é já antiga e dela não me livro, seja qual for a "banda" (que pode até ser gástrica pela azia que me provoca) para que me mude.
Vivi na Margem Sul até ao ano passado. Quando lá vivia, era comum ouvir as mesmas perguntas ou reacções: "Ai Almada, isso é só "pretos" e gangs, não é?
Agora a questão da cor permanece com a agravante do "antro de droga". Tem graça, eu pensava que o maior epicentro de droga se concentrava noutras zonas e, hoje em dia, já é caso para se dizer que existe um pouco por todo o lado.
Claro que os bairros como este, que é antigo, vão sempre levar por tabela, não pela questão da droga mas pelo verdadeiro motivo que é subtilmente escamoteado.
A questão da miscisgenação, do melting pot que por aqui se respira. E eu respiro bem aqui, a sério. Não estou a ser demagógica. E olhem que eu tenho uma sinusite tramada. Sempre me senti bem tratada aqui, respeitada, a vizinhança nunca me assustou, e até se consegue ainda sentir um certo clima de "bairro" por estes lados. Se me sinto segura à noite? Mas que mulher se sente segura depois das 22h seja aqui ou na Av. da Igreja? (curiosamente, a minha tia foi lá assaltada uma vez em plena luz do dia).
Em Almada nunca senti o espírito de comunidade. Aqui conheço a maior parte dos meus vizinhos e até de outros moradores cujos rosto reconheço na rua, no metro, na padaria ao cimo da rua (que é daquelas ainda à antiga e que adoro).
Vivo na Mou-ra-ria, sim senhores/as. Não tenho qualquer problema em dizê-lo. Se têm medo, venham para cá com cães. Mas ao menos, venham, conheçam e depois sim, falem, digam de vossa justiça. Porque isto de viver num sítio "amaldiçoado" por todos, sem que quase nenhuns o conheçam, é uma verdadeira injustiça.
Não podia deixar de fazer um breve comentário à Senhora Professora/Mestre de História que do alto do seu pedestal, resolveu prestar um serviço a nós, comuns mortais, com meros 9ºs, 12ºs, licenciaturas ou "mstrados" (segundo o que ela pronuncia), ao dar aulas numa escola eb/ 2+3 em Espinho.
Como já se sabe, a dita "Mestre", pelos vistos, vinha a ter conversas com os seus alunos sobre sexualidade(?), mantendo um registo entre o ameaçador, a coscuvilhice ou, a meu ver, de pura perversão. A mulher é tarada e mais nada. Não me venham cá com tretas. A senhora não joga com o baralho todo, pois encetar uma conversa com os alunos sobre um tema tão sensível como a sexualidade é tarefa hérculea (quem é prof sabe o que digo)e quando se entra nesse campo, todo o tacto é pouco. Que ela não tem e nem deve saber o significado.
Falar de sexualidade envolve preparação, sensibilidade, disponibilidade para aprender e claro, ter uma mente minimamente equilibrada. O que implica falar sem abusos ou arrogância, delimitar fronteiras, respeitar privacidade e ouvir o que os jovens têm a perguntar ou dizer.
Nada disso aconteceu nos excertos que ouvimos daquela aula. Sabemos que nada ali é normal ou adequado. E, fundamentalmente, falou-se de tudo menos de sexualidade. Que implica afectvidade, envolvência, troca, respeito e abertura.
Tal como comentei num blog de uma amiga, a "Mestre" pode ter todos os cursos que quiser, mas o seu cérebro é em tudo semelhante ao de uma sapateira: só tem "caca" lá dentro.
4 comentários:
Olá amiga! Não, não estou a escrever este comentário como forma de terminares com a retaliação (merecida, diga-se) de não comentares a minha "saudinha". Faço-o porque gostei muito dos posts que fizeste.
As pessoas que olham com desdém para o teu bairro, manda-as (não verbalizes) bugiar.
O preconceito dessas cabecinhas de sapateira, ou santola, se preferires, é idêntica áquelas que pensam que Setúbal é por estes dias o faroeste. O que mais me agrada no facto, apesar da pachorra estar por vezes muito próxima do limite, é a ignorância em que as ditas cujas se mantêm.
Quem pensa que Setúbal é a Bela Vista (estudei meia-dúzia de anos numa escola do bairro e, garanto-vos, que não trocava a experiência pelo elitista St. Peter's School) é um ninho de criminalidade, engana-se. Arrisco a dizer que entre os quase seis mil habitantes do bairro, haverá 100 ou 150 bandidos. Na Mouraria a percentagem talvez seja idêntica, mas aposto que em qualquer bairro, mesmo aqueles em que vivem os que que olham com desdém para para os Vales da Amoreira, Covas da Moura, Belas Vistas, Bairros do Falcão e Pica-paus a percentagem de pessoas dedicadas a negócios ilícitos, mesmo camuflados, não é menor.
Em relação à professora de Espinho, trata-se de um caso de mau profissionalismo. Lamentavelmente está a tirar o lugar a colegas que estão - não é difícil - mais aptos a leccionar. Em todas os sectores de actividade há este género de bestas...
A Mestra precisa de um curso de humildade e de chá! É o que ela precisa!
Quanto à Mouraria! É um belíssimo sítio, sim senhor e eu espero, um dia, morar num bairro dessas, bem no centro de Lisboa! Como te disse, mal posso esperar por ir á tua casinha! E levas-me à padaria ao cimo da rua?
só um reparo: não tenhas dúvidas: o tico e o teco da senhora dr.a não batem bem! não tenhas qualquer dúvida!
Eu queria comentar o 1º texto, mas vem agregado a este...Bom, por isso se chama «Notas soltas» (inteligência, pá).
As pessoas, em POrtugal, gerem a sua vida em função do medo. Tem a ver com educação, cultura, e um estrato religioso antigo mais beato de ratos de igreja. O medo tolhe muitas vezes a vontade de viver, a inteligência, a sabedoria interior. O meu pai, por ex, acha que país para onde eu viaje tem de ter cheias, terramotos, atentados terroristas...se não tiver, ele arranja um sítio perto que tenha (a 400 km já é uma ameaça).
Claro que se pode ser assaltado em qq lugar de Lisboa, de Portugal, do mundo...E a Mouraria vende tudo barato, é lá que eu passeio mtas vezes à hora do almoço. Todo o sobrevivente sabe que em Lisboa as zonas de putas são seguras, menos para as putas, coitadas, que apanham dos homens.
É nestes dias que eu tenho vontade de contar o que a guia turística me disse na fronteira entre Moçambique e África do Sul: «não saia do carro ou leva um tiro!». E ali é verdade...Não conto é ao meu pai.
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