terça-feira, 31 de março de 2009
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
Talma's Art
Hoje celebra-se o dia mundial do teatro.
Nunca mais me esqueci deste dia desde as saudosas aulas de O.E.D (Oficina de Expressão Dramática). Tive a (muita) sorte de ter um excelente professor e ainda hoje o seu nome (Fernando Rebelo)me vem à memoria e boca na mesma velocidade que as saudades dessas sessões de puro humor, solidariedade, dialogo e experimentação.
Aquele espaço tinha tudo o que uma aula deve ter: um professor que adora o que faz, que respira a matéria que passa aos Outros, sendo estes o seu primeiro objectivo.
Se há profissão que nasce do desejo de estar, ajudar e aprender com os Outros é a de professor.
Claro está que nos tempos que correm, ser-se professor é sinónimo de estar-se no grau-zero da escala de respeito e estatuto laboral. Mas desse parêntesis não reza esta história, o mofo não o permite. Aquelas aulas cheiravam a Troca, a bilateralidade e, sobretudo, a algo que triho (ou tento trilhar a passos largos) no percuros da minha vida: auto-conhecimento.
A auto-consciência não é meio-caminho para o equílbrio mental, é, a meu ver, a única via possível (e desejável) para o atingir. Saber quem sou, ou melhor, quem vou sendo -pois parar é enquistar-se e não cabe na própria essência da vida que é a mutação- o que faço e de como aquilo que faço afecta os outros e a mim, parece-me ser a base para toda a minha existência.
O auto-conhecimento, não sendo, por definição estanque, permite-me ser mais humilde, mais atenta e, concomitantemente, mais grata. O grande problema no meio de tudo isto é que dá trabalho. Dá muito trabalho olhar para dentro de si e descobrir que há muitas teias e lugares obscuros dentro de nós, assumir que afinal não se é assim tão bonzinho, altruísta ou sensível como se pensa (ou se prefere pensar).
Ora, o Teatro enquanto arte-espelho do batimento humano, tem essa capacidade incrível de nos transportar para dentro de nós, de nos fazer olhar olhos-nos-olhos, sem filro solar, para as grutas frias e escuras que escondemos.
Faz-nos igualmente, através do grupo e da interacção, lembrar que temos também muitas qualidades, alguns talentos qe germinam e outros ainda que poderão advir.
Descobri algumas coisas sobre mim naquelas aulas, mas serviram-me sobretudo para começar a olhar para o Outro, e, mais importante, a senti-lo.
E sentirmos os outros também não é fácil. Não pelos defeitos que neles possamos descobrir mas pelo reconhecimento deles em nós. E isto é duro. Muito duro.
Por tudo isto é-me muito duro ouvir, ler, ver nos vários meios de comunicação social (jornais, revistas, TV, etc) gente que se auto-intitula de "actor/actriz" quando não tem sequer a mais pálida ideia de quem é, do que é ou do que representa o ofício de representar (passe a tautologia)outras vidas, outros sangues, outras luas.
Contudo, não sei ainda o que mais me aborrece: se isto ou ainda a febre aguda de querer ser actor. Moda actual que maquilha apenas a avidez de aparecer, associada a um mito de vida fácil e estatuto social.
Não sendo actriz (nem tendo a pretensão de entender os meandros deste métier), uma coisa sei que me foi transmitida nesses idos de 94/95, quando os dias mediam-se pelas salas de aulas e a liberdade pelo poder sair da escola às 3h da tarde e poder ir ter com a minha avó (hoje substituída pelas AECS, ATL'S e/ou Centros de Explicações): nada se consegue sem esforço. Nada entendemos sobre os outros sem antes olharmos para nós.
E o mundo não se mede pela nossa bitola.
Ela é demasiado pequena.
Como (todos) nós.
Nunca mais me esqueci deste dia desde as saudosas aulas de O.E.D (Oficina de Expressão Dramática). Tive a (muita) sorte de ter um excelente professor e ainda hoje o seu nome (Fernando Rebelo)me vem à memoria e boca na mesma velocidade que as saudades dessas sessões de puro humor, solidariedade, dialogo e experimentação.
Aquele espaço tinha tudo o que uma aula deve ter: um professor que adora o que faz, que respira a matéria que passa aos Outros, sendo estes o seu primeiro objectivo.
Se há profissão que nasce do desejo de estar, ajudar e aprender com os Outros é a de professor.
Claro está que nos tempos que correm, ser-se professor é sinónimo de estar-se no grau-zero da escala de respeito e estatuto laboral. Mas desse parêntesis não reza esta história, o mofo não o permite. Aquelas aulas cheiravam a Troca, a bilateralidade e, sobretudo, a algo que triho (ou tento trilhar a passos largos) no percuros da minha vida: auto-conhecimento.
A auto-consciência não é meio-caminho para o equílbrio mental, é, a meu ver, a única via possível (e desejável) para o atingir. Saber quem sou, ou melhor, quem vou sendo -pois parar é enquistar-se e não cabe na própria essência da vida que é a mutação- o que faço e de como aquilo que faço afecta os outros e a mim, parece-me ser a base para toda a minha existência.
O auto-conhecimento, não sendo, por definição estanque, permite-me ser mais humilde, mais atenta e, concomitantemente, mais grata. O grande problema no meio de tudo isto é que dá trabalho. Dá muito trabalho olhar para dentro de si e descobrir que há muitas teias e lugares obscuros dentro de nós, assumir que afinal não se é assim tão bonzinho, altruísta ou sensível como se pensa (ou se prefere pensar).
Ora, o Teatro enquanto arte-espelho do batimento humano, tem essa capacidade incrível de nos transportar para dentro de nós, de nos fazer olhar olhos-nos-olhos, sem filro solar, para as grutas frias e escuras que escondemos.
Faz-nos igualmente, através do grupo e da interacção, lembrar que temos também muitas qualidades, alguns talentos qe germinam e outros ainda que poderão advir.
Descobri algumas coisas sobre mim naquelas aulas, mas serviram-me sobretudo para começar a olhar para o Outro, e, mais importante, a senti-lo.
E sentirmos os outros também não é fácil. Não pelos defeitos que neles possamos descobrir mas pelo reconhecimento deles em nós. E isto é duro. Muito duro.
Por tudo isto é-me muito duro ouvir, ler, ver nos vários meios de comunicação social (jornais, revistas, TV, etc) gente que se auto-intitula de "actor/actriz" quando não tem sequer a mais pálida ideia de quem é, do que é ou do que representa o ofício de representar (passe a tautologia)outras vidas, outros sangues, outras luas.
Contudo, não sei ainda o que mais me aborrece: se isto ou ainda a febre aguda de querer ser actor. Moda actual que maquilha apenas a avidez de aparecer, associada a um mito de vida fácil e estatuto social.
Não sendo actriz (nem tendo a pretensão de entender os meandros deste métier), uma coisa sei que me foi transmitida nesses idos de 94/95, quando os dias mediam-se pelas salas de aulas e a liberdade pelo poder sair da escola às 3h da tarde e poder ir ter com a minha avó (hoje substituída pelas AECS, ATL'S e/ou Centros de Explicações): nada se consegue sem esforço. Nada entendemos sobre os outros sem antes olharmos para nós.
E o mundo não se mede pela nossa bitola.
Ela é demasiado pequena.
Como (todos) nós.
terça-feira, 24 de março de 2009
sábado, 21 de março de 2009
A culpa não morre solteira
A culpa não pode morrer solteira…
E se não morrer, matamo-la nós.
Caso a morte seja natural (que é raro) acabamos sempre por associar a essa naturalidade, algo de…culposo. Se morreu de morte natural, é porque “alguma “fez”.
Este é um ditado que levamos diariamente às costas e cujo uso é praticado religiosamente várias vezes ao dia.
Uma reunião de trabalho, por exemplo: “O X não veio? Pensei que era para vir! Disseram que era para todos virem, pensei que queria mesmo dizer todos”.
Para quê tentar averiguar o motivo da ausência (que a nós até não nos deveria incomodar, pois afinal, não se trata da nossa vida), as inúmeras razões porque colega “A” ou “B” não está, não pôde vir. Se faltou é porque não nos respeita, não quer saber do trabalho, do mundo, etc.
Geralmente, estão cobertos de razão. O que não significa que ainda assim tenhamos o direito de opinar sobre o que não sabemos. A culpa é, não raro do cão, gato ou demais animais de estimação (o Snowball engoliu mais uma bola de pêlo), do tempo (mesmo com 40ª à sombra e sendo Agosto, houve alguma razão para o trânsito que impediu o fulano “B” de chegar a horas ao trabalho), das crianças que demoraram 3 segundos a entornar o leite, o que perfez uns 10 minutos a limpar o chão, ou do vizinho que meteu conversa (geralmente a conversa é um parco “Bom dia”).
Certíssimo. Mas que culpa temos nós disso? Este é o país das filas mais intermináveis que a conhecida História, das esperas mais indolentes, dos atrasos mais que injustificáveis. No entanto, tudo se esfuma com um “Epa” .
Quando ouvimos um “epa”, já sabemos que tudo se irá explicar (e com alguma sorte, perdoar). “Epa, desculpa lá (logo em segundo lugar na sintaxe para revelar alguma culpa) mas (a adversativa é que nos “mata” logo ali, a partir já estamos a anuir a tudo o que dali vier) o carro não pegou”. O que omitiu é que acordou, provavelmente, 5 minutos antes de sair e aí claro, nem com o Air Force One, quanto mais um carro.
“Epa, sabes mas os miúdos”, “Epa, o despertador não tocou, são as pilhas”.
“Epa”…isto para mim soa-me mais a irresponsabilidade e falta de civismo. Qualquer coisa como “fiz asneira mas olha…já está” (redenção final que dura 5 a 10 segundos na consciência). Não é bonito culpar objectos pessoais, entes queridos ou demais serviços pela nossa incapacidade em cumprir algo, todavia menos correcto se torna formar uma culpa cuja génese nos é desconhecida.
“Epa” não é, como assim dizer…justo.
Vanessa Llimpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Março de 2009
E se não morrer, matamo-la nós.
Caso a morte seja natural (que é raro) acabamos sempre por associar a essa naturalidade, algo de…culposo. Se morreu de morte natural, é porque “alguma “fez”.
Este é um ditado que levamos diariamente às costas e cujo uso é praticado religiosamente várias vezes ao dia.
Uma reunião de trabalho, por exemplo: “O X não veio? Pensei que era para vir! Disseram que era para todos virem, pensei que queria mesmo dizer todos”.
Para quê tentar averiguar o motivo da ausência (que a nós até não nos deveria incomodar, pois afinal, não se trata da nossa vida), as inúmeras razões porque colega “A” ou “B” não está, não pôde vir. Se faltou é porque não nos respeita, não quer saber do trabalho, do mundo, etc.
Geralmente, estão cobertos de razão. O que não significa que ainda assim tenhamos o direito de opinar sobre o que não sabemos. A culpa é, não raro do cão, gato ou demais animais de estimação (o Snowball engoliu mais uma bola de pêlo), do tempo (mesmo com 40ª à sombra e sendo Agosto, houve alguma razão para o trânsito que impediu o fulano “B” de chegar a horas ao trabalho), das crianças que demoraram 3 segundos a entornar o leite, o que perfez uns 10 minutos a limpar o chão, ou do vizinho que meteu conversa (geralmente a conversa é um parco “Bom dia”).
Certíssimo. Mas que culpa temos nós disso? Este é o país das filas mais intermináveis que a conhecida História, das esperas mais indolentes, dos atrasos mais que injustificáveis. No entanto, tudo se esfuma com um “Epa” .
Quando ouvimos um “epa”, já sabemos que tudo se irá explicar (e com alguma sorte, perdoar). “Epa, desculpa lá (logo em segundo lugar na sintaxe para revelar alguma culpa) mas (a adversativa é que nos “mata” logo ali, a partir já estamos a anuir a tudo o que dali vier) o carro não pegou”. O que omitiu é que acordou, provavelmente, 5 minutos antes de sair e aí claro, nem com o Air Force One, quanto mais um carro.
“Epa, sabes mas os miúdos”, “Epa, o despertador não tocou, são as pilhas”.
“Epa”…isto para mim soa-me mais a irresponsabilidade e falta de civismo. Qualquer coisa como “fiz asneira mas olha…já está” (redenção final que dura 5 a 10 segundos na consciência). Não é bonito culpar objectos pessoais, entes queridos ou demais serviços pela nossa incapacidade em cumprir algo, todavia menos correcto se torna formar uma culpa cuja génese nos é desconhecida.
“Epa” não é, como assim dizer…justo.
Vanessa Llimpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Março de 2009
quinta-feira, 19 de março de 2009
Happy father's day!
(Eu, pai e Cátia, Costa da Caparica, mil nove e setenta e oito, não faço a mais palida ideia sobre qual delas sou, por isso não me perguntem...true identity crisis)
A ti,Pai
Foste
raíz,
âmbar,
num momento
cosmos,noutro
ilha e sonho
sumo de dor,
campo de luz
onde me (des)cubro e deito prenha de Amor.
Teu sonho era, já do alto dos teus 32 Verões na altura, ter uma menina.
Sempre quiseste ter mulheres. Sabendo de antemão, (pois a vida já era, nesse tempo, maior que a idade), o trabalho que o universo feminino é, por natureza.
Mas a pele que cobre a vida não é fácil.
Começemos pela derme: Alentejo até aos 12, sol, pássaros roubados na planícies, aulas roubadas aos professores. Almada a partir daí. Muito sangue, suor e lágrimas que naquele tempo crise rimava com fome, trabalho infantil e cintos imprevisíveis.
Epiderme: Amor, a mãe, casamento e nós, o revestimento cutâneo que faltava.
Até às 37 semanas: ah um bebé!
Às 38, olha afinal são dois...e duas meninas.
Seja feita a tua Vontade.
Entre fraldas, biberões, muita dor pela dor minha, cansaços, muitas cavernas no coração por minha causa, eu sei.
Mas estamos todos cá por alguma razão e a minha era não desistir daqui.
Fiquei. E comigo tu. E eu contigo. Nós.
O trio que depois ficou do terramoto...os passeios até Sesimbra só para ir beber cacau quente. O marisco no Angelus, os doghnuts no Seixal. As horas a jogar ao-sapato-que-voou-com-a-bola (e não a jogar propriamente à bola).
Os passeios, os lanches depois da escola. O totobola às sextas. A avó aos Sábados. Sabia de cor os nomes de todas as flores,lembras-te? até que ela própria se tornou uma. E ainda o é.
Os muitos beijinhos, os abraços, a mão dada (ainda e sempre) pela rua. A cama que tinha de te ter ao meio de nós duas e nunca só de um lado. Pois se o Amor é para se partilhar, quanto mais um pai?!
O cinema ao fim-de-semana. As duas e meia da tarde (hora do meu libertar obrigatório das paredes de casa). O aquário Vasco da Gama, o Planetário, os parques até que os pés nos doessem.
E o teu sorriso quando África ficava finalmente distante.
E a cor do teu abraço, o tom do teu olhar em nós.
Dizias que a pureza éramos nós.
Maroto.
Afinal, a pureza eras tu. Amor puro.
Duro.
Em bruto.
Sem escultura.
Integral.
Despido.
Sem moeda de troca.
Sem mácula.
E, ao lone duas palavras que desenhaste em ti.
Que cresceram.
E são Mulher(es).
Cátia e Vanessa.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Borda d'agua revisited
Dois alunos do segundo ano (7 anos portanto):
Raquel: "Teacher, sabe, no dia do pai vai estar vento."
Eu: "Ai é? Não, não sabia mas a chuva é só para o fim-de-semana."
Gonçalo: "Não, não vai nada."
Raquel:"Vai sim, já foste à net? vai ver à net".
Raquel: "Teacher, sabe, no dia do pai vai estar vento."
Eu: "Ai é? Não, não sabia mas a chuva é só para o fim-de-semana."
Gonçalo: "Não, não vai nada."
Raquel:"Vai sim, já foste à net? vai ver à net".
terça-feira, 17 de março de 2009
A fatia do meio da torrada
Estava a ler um post em blog alheio, texto que rezava qualquer coisa como os dias cheios que nos (pre)enchem e vazam alguns escombros frios que se vão erguendo em dias lúgubres.
Fez-me pensar que de facto nos queixamos muito. Queixo-me muito, tanto, demasiado e tanto tenho.
Da casa ao trabalho (luxo cada dia maior nos dias que correm), de alguns bons amigos e de ti, que em mim moras.
Tenho a sorte de falar todos os dias com a minhã mãe, o meu pai, de vê-los bem de saúde, de poder ainda projectar-lhe alguns sonhos e dias vindouros de alegrias.
Tenho ainda os meus avôs maternos. E sei como há tantos os que não têm ou não tiveram a felicidade de os conhecer. Os avôs são os pais da ternura, dos mimos-a-metro, das fatias do meio das torradas banhadas a quilos de manteiga (sim daquela que engorda, faz mal e da qual guardamos ainda o paladar), de muitas vontades feitas mas também de alguns vislumbres de colheres de pau.
Tenho um avô-pai, um mãe-avó que hoje em dia navega em mares turvos de doença que lhe comem a memória dos dias pequenos da minha infância. Tenho ainda uma tia-mãe que ainda hoje quando fala de mim e da minha irmã diz:"as minhas miúdas". Felicidade a dobrar: porque ainda oiço chamarem-me "miúda" e porque sei que sou, efectivamente, uma filha para ela.
Tenho uma irmã, esboçada a régua e esquadro da genética minha. O dois que é um, mesmo quando as nossas contas não batem certo e o resultado das operações diárias é negativo. Tenho a sorte de ter um cunhado que é irmão e com o qual sei que posso deitar as preocupações de irmã em cama segura. O beijinho de boa-noite será sempre dado.
Tenho-te a ti,que me fazes acreditar que o Amor afinal é possível e recomenda-se. Que me amas apesar de mim...e é aí que se tricota o tecido de que o Amor é feito.
Tenho de escrever isto mais vezes, deixar de ser (tão) egoísta, e devolver aos dias a calma que eles pedem.
Hoie é um dia bom-mau. Bom porque tenho a sorte de ter tudo isto, mau porque vejo a minha pequenez em conversas como esta:
Eu:"Então D.Anabela, como vai? não tem andado bem, que ainda outro dia a vi a coxear muito".
D. Anabela (auxiliar lá na escola): "Ai pois não, não vai professora, agora além da cartilagem partida, descobri que tenho já outra hérnia".
Eu:" Ah, pois eu vi que não estava bem. Foi por isso que faltou na 6a, não foi?"
D.Anabela: "Não, na 6a morreu-me um irmão e por isso não vim".
Dói até agora.
Fez-me pensar que de facto nos queixamos muito. Queixo-me muito, tanto, demasiado e tanto tenho.
Da casa ao trabalho (luxo cada dia maior nos dias que correm), de alguns bons amigos e de ti, que em mim moras.
Tenho a sorte de falar todos os dias com a minhã mãe, o meu pai, de vê-los bem de saúde, de poder ainda projectar-lhe alguns sonhos e dias vindouros de alegrias.
Tenho ainda os meus avôs maternos. E sei como há tantos os que não têm ou não tiveram a felicidade de os conhecer. Os avôs são os pais da ternura, dos mimos-a-metro, das fatias do meio das torradas banhadas a quilos de manteiga (sim daquela que engorda, faz mal e da qual guardamos ainda o paladar), de muitas vontades feitas mas também de alguns vislumbres de colheres de pau.
Tenho um avô-pai, um mãe-avó que hoje em dia navega em mares turvos de doença que lhe comem a memória dos dias pequenos da minha infância. Tenho ainda uma tia-mãe que ainda hoje quando fala de mim e da minha irmã diz:"as minhas miúdas". Felicidade a dobrar: porque ainda oiço chamarem-me "miúda" e porque sei que sou, efectivamente, uma filha para ela.
Tenho uma irmã, esboçada a régua e esquadro da genética minha. O dois que é um, mesmo quando as nossas contas não batem certo e o resultado das operações diárias é negativo. Tenho a sorte de ter um cunhado que é irmão e com o qual sei que posso deitar as preocupações de irmã em cama segura. O beijinho de boa-noite será sempre dado.
Tenho-te a ti,que me fazes acreditar que o Amor afinal é possível e recomenda-se. Que me amas apesar de mim...e é aí que se tricota o tecido de que o Amor é feito.
Tenho de escrever isto mais vezes, deixar de ser (tão) egoísta, e devolver aos dias a calma que eles pedem.
Hoie é um dia bom-mau. Bom porque tenho a sorte de ter tudo isto, mau porque vejo a minha pequenez em conversas como esta:
Eu:"Então D.Anabela, como vai? não tem andado bem, que ainda outro dia a vi a coxear muito".
D. Anabela (auxiliar lá na escola): "Ai pois não, não vai professora, agora além da cartilagem partida, descobri que tenho já outra hérnia".
Eu:" Ah, pois eu vi que não estava bem. Foi por isso que faltou na 6a, não foi?"
D.Anabela: "Não, na 6a morreu-me um irmão e por isso não vim".
Dói até agora.
sábado, 14 de março de 2009
Private doings in public places
(Fonte: Google imagens)
Por muitas (mas mesmo muitas) voltas que dê à cabeça, continuo a não compreender porque é que as mulheres (contra mim falo mas é mesmo assim) demoram eternidades nas casas de banho públicas? se vão é porque estão aflitas, se estão aflitas, sinifica que já não (se) aguentam ou andam lá perto. Nenhuma mulher prefere a impessoalidade, provável (quando não esclarecida), falta de asseio de um sanitário público ao conforto da sua casa, logo por que mistério tão soberbamente insondável é que demoram era e meia a despachar-se?
E não me venham com a treta da prisão de ventre (se está preso, não é ali, naquele ambiente inóspito que se vai soltar, acreditem!), ou que se deve a usarmos mais roupa. Sejamos honestas: quantas mulheres é que usam, de facto, quase sempre saias ou vestidos? poucas, são muitas poucas, e não creio que por baixo das blue jeans se escondam as sete saias da Nazaré, logo isso não pega.
Não faz sentido. Então o que será?
Já não basta termos de ouvir os homens sempre a perguntar-nos porque vamos ao WC juntas, quando eu própria, não sendo praticante desse hábito não sei responder,(mas já pensaram que, pura e simplesmente, podemos ter vontade ao mesmo tempo?? visto que muitas das vezes se come ou bebe antes??) ainda criamos outro tópico para conversa...e este ultrapassa todos os meus humildes limites cognitivos. Não há sinapse que me valha...não consigo estabelecer uma justificação lógica e plausível para justificar um acto de pura estupidez.
Sim, é estúpido. É estúpido eu estar 5, 10 ou por vezes mais minutos ainda, à espera para fazer algo que não demora mais que 1 ou 2 minutos a ser executado.
Ninguém estará por certo a fazer tempo para qualquer outra coisa ali, o sítio NÃO é bonito. Se se quiser ver paisagens, vai-se para FORA dali.
Pensamentos ou racioncínios filosóficos também não estarão em solo fértil para se desenvolverem. Sarte, Hegel, Kant ou Schopenhauer por certo não moram ali.
Então porque raio é que eu tenho de "mofar" ali, entre malas que me roçam sem pedir licença, saltos-agulha que me pisam sem se darem conta, conversas sobre batons, bases e cosméticos afins, ou da roupa que nunca mais seca porque o tempo nunca mais "arrebita", (e se está calor, também há sempre quem veja nele um problema tão sério como a fome no Gana).
Um WC público não estimula, não engrandece, não dignifica. Está lá para fazermos aquilo que tem de ser feito. E, que diga-se de passagem, nada tem de bonito.
Nada tem de asseado.
Ou bem-cheiroso.
Afinal...é um sanitário. E o nome diz tudo.
Tudo!
sexta-feira, 13 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
O Carnaval é quando um homem quiser!
Fevereiro, frio, vento a soprar em rajadas fortes, precipitação a Norte, Sul, Este e Oeste das Penhas Douradas e claro… CARNAVAL!
Fevereiro é Carnaval, sobretudo naquele sítio onde foi inicialmente festejado e onde faz todo o sentido: Brasil.
Brasil: hemisfério Sul, logo calor, logo parcas vestes, logo leveza, logo diversão, logo música, logo…dança. Ora samba, bateria, sambódromos, brasileiros a dançar e a festejar o seu quente verão.
E é aqui que reside a grande questão: em Fevereiro Brasil é canícula pura e dura. Em Portugal, Fevereiro é… triste, muito triste. Fevereiro é um mês indeciso, não é completo, é um mês “manco”, falta-lhe dois a três dias e isso não deve fazer bem seja a que mês for. Um mês que claudica não pode ser bom. Fevereiro ainda não é bem Primavera mas já nos trapaceia com dias de Sol e promessas de calor, Também não é Inverno em bruto, retém algo na fonte mas não declara tudo. Resumindo é um mês que promete mas não consegue cumprir, por muito boa vontade que tenha.
O nosso Carnaval também é assim: é um “Fevereiro” dentro do Fevereiro (que por vezes ocorre em Março). Algo indefinido, que não tendo raízes culturais próprias, vai beber a outro continente. Dos tradicionais (esses sim, para mim os verdadeiros corsos carnavalescos nossos) carros alegóricos forrados a ironia e sátira social, dos “cabeçudos” passou-se ao samba (que apesar de todo o mérito como expressão artística que é), aos “bikinis” e folia importada.
E eu a pensar que a nossa era tão boa que não precisava de ir “lá fora”. Foliar sempre foi connosco. A foliar desde 1143, caramba! Nós é que temos algo a ensinar! Preferia inquestionavelmente ver dançar-se o “Vira” no Carnaval que assistir à profunda dor (tanto visual como até física) de observar corpos despidos sob uma “módica” temperatura de 10 ou 12º! Pronto, este ano esteve uns 18 ou 19º! Onde estava eu com a cabeça? Desfilar sob esta temperatura está bem, mas se for para diminuir o ar condicionado de 30º à sombra para 16º ou 17º é crime punível pela lei Anticiclone dos Açores 13/567 (que ainda não existe mas é uma questão de dias).
Mas sendo “Carnaval” ninguém leva a mal e, acrescentando um “brasileirismo” tão caro: Está “tudo legal!”.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 7 de Março de 2009.
Fevereiro é Carnaval, sobretudo naquele sítio onde foi inicialmente festejado e onde faz todo o sentido: Brasil.
Brasil: hemisfério Sul, logo calor, logo parcas vestes, logo leveza, logo diversão, logo música, logo…dança. Ora samba, bateria, sambódromos, brasileiros a dançar e a festejar o seu quente verão.
E é aqui que reside a grande questão: em Fevereiro Brasil é canícula pura e dura. Em Portugal, Fevereiro é… triste, muito triste. Fevereiro é um mês indeciso, não é completo, é um mês “manco”, falta-lhe dois a três dias e isso não deve fazer bem seja a que mês for. Um mês que claudica não pode ser bom. Fevereiro ainda não é bem Primavera mas já nos trapaceia com dias de Sol e promessas de calor, Também não é Inverno em bruto, retém algo na fonte mas não declara tudo. Resumindo é um mês que promete mas não consegue cumprir, por muito boa vontade que tenha.
O nosso Carnaval também é assim: é um “Fevereiro” dentro do Fevereiro (que por vezes ocorre em Março). Algo indefinido, que não tendo raízes culturais próprias, vai beber a outro continente. Dos tradicionais (esses sim, para mim os verdadeiros corsos carnavalescos nossos) carros alegóricos forrados a ironia e sátira social, dos “cabeçudos” passou-se ao samba (que apesar de todo o mérito como expressão artística que é), aos “bikinis” e folia importada.
E eu a pensar que a nossa era tão boa que não precisava de ir “lá fora”. Foliar sempre foi connosco. A foliar desde 1143, caramba! Nós é que temos algo a ensinar! Preferia inquestionavelmente ver dançar-se o “Vira” no Carnaval que assistir à profunda dor (tanto visual como até física) de observar corpos despidos sob uma “módica” temperatura de 10 ou 12º! Pronto, este ano esteve uns 18 ou 19º! Onde estava eu com a cabeça? Desfilar sob esta temperatura está bem, mas se for para diminuir o ar condicionado de 30º à sombra para 16º ou 17º é crime punível pela lei Anticiclone dos Açores 13/567 (que ainda não existe mas é uma questão de dias).
Mas sendo “Carnaval” ninguém leva a mal e, acrescentando um “brasileirismo” tão caro: Está “tudo legal!”.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 7 de Março de 2009.
segunda-feira, 9 de março de 2009
domingo, 8 de março de 2009
Ao lado de (várias) grandes mulheres...
Parada das Sufragistas Norte-Americanas em Nova Iorque, 1912.
Cartaz alusivo aos direitos da mulher, aquando da revolução russa, 1917.
John Stuart Mill, filósofo, economista, jurista e político inglês que em 1866 levou ao parlamento inglês uma emenda relativa ao direito de voto das mulheres. Proposta que foi chumbada por 194 votos. Perdeu aquela batalha, mas a guerra seria ganha anos depois.
Porque a História não vive da guerra dos sexos mas da luta pelo reconhecimento de um deles, recordo hoje não apenas as mulheres que me precederam e a quem devo tudo o que tenho, penso, posso sonhar e concretizar mas também este homem, que foi um visionário, pioneiro e ousou pensar diferente.
A todas elas e (alguns) eles o meu obrigada.
P.s. Em ano de múltiplas eleições, as mulheres que se livrem de não votar. Como costumo dizer: votem em branco, votem nulo, desenhem bigodaças ou dentes podres nos candidatos mas votem. Votar não é preciso, votar é-nos moralmente exigido, direito feito de dever. Para com elas que por nós lutaram, e sobretudo para connosco. Desenhar em forma de cruz um voto que é voz de consciência e puro acto civilizacional.
"É impossível que ocorram grandes transformações positivas no destino da humanidade se não houver uma mudança de peso na estrutura básica de seu modo de pensar."
John Stuart Mill.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Neolítico inferior
(Imagem, fonte: Google imagens)
Na pastelaria, dois espécimens deste "grunhiam":
Neanderthal 1: "Pois, é para ela saber".
Neanderthal 2: "Pois".
Neanderthal 1: "Eu cá não dou igualdade às mulheres, isso é que era bom! Elas querem mas eu não dou".
Neanderthal 2 (muito resoluto): "Eu também não".
De notar que:
a) Neanderthal 1: já tinha mais de 60 anos e o seu aspecto de voz era suplantado apenas pela amargura e frustração na voz.
b) neanderthal 2: Um pouco mais novo, mas o ressabiamento que dele emana, compete já com o do seu co-espécimen.
Resumindo: muito pouca (ou nenhuma) vida sexual, e que deve ter havido em tempos neolíticos não devia ser lá grande coisa e muito mas muito má formaçãozinha como pessoas.
P.s. Só depois é que o grunho 2 se apercebeu que eu era a cliente seguinte na fila para pagar a conta...que giro: uma mulher que lhe (ajuda) a pagar o ordenado.
So eighties... parte II
Mal sabia eu naquela altura o vício de café que se me iria instalar... há coisas que estão mesmo predestinadas :)
segunda-feira, 2 de março de 2009
Deixa lá ver se é desta....
Após um breve (e forçado) interregno por motivos de desparatisação informática, voltamos ao seu contacto, caro leitor. Vamos lá ver se é desta...os vídeos que aqui pus sei que cá estão pois o seu espaço aparece, agora vê-los...uiii... tricky, very tricky... espero que, pelo menos, vós - crème de la crème da blogesfera - os possam vislumbrar.
Que regozijo deve ser...
Que regozijo deve ser...
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