sábado, 21 de março de 2009

A culpa não morre solteira

A culpa não pode morrer solteira…


E se não morrer, matamo-la nós.
Caso a morte seja natural (que é raro) acabamos sempre por associar a essa naturalidade, algo de…culposo. Se morreu de morte natural, é porque “alguma “fez”.
Este é um ditado que levamos diariamente às costas e cujo uso é praticado religiosamente várias vezes ao dia.
Uma reunião de trabalho, por exemplo: “O X não veio? Pensei que era para vir! Disseram que era para todos virem, pensei que queria mesmo dizer todos”.
Para quê tentar averiguar o motivo da ausência (que a nós até não nos deveria incomodar, pois afinal, não se trata da nossa vida), as inúmeras razões porque colega “A” ou “B” não está, não pôde vir. Se faltou é porque não nos respeita, não quer saber do trabalho, do mundo, etc.
Geralmente, estão cobertos de razão. O que não significa que ainda assim tenhamos o direito de opinar sobre o que não sabemos. A culpa é, não raro do cão, gato ou demais animais de estimação (o Snowball engoliu mais uma bola de pêlo), do tempo (mesmo com 40ª à sombra e sendo Agosto, houve alguma razão para o trânsito que impediu o fulano “B” de chegar a horas ao trabalho), das crianças que demoraram 3 segundos a entornar o leite, o que perfez uns 10 minutos a limpar o chão, ou do vizinho que meteu conversa (geralmente a conversa é um parco “Bom dia”).
Certíssimo. Mas que culpa temos nós disso? Este é o país das filas mais intermináveis que a conhecida História, das esperas mais indolentes, dos atrasos mais que injustificáveis. No entanto, tudo se esfuma com um “Epa” .
Quando ouvimos um “epa”, já sabemos que tudo se irá explicar (e com alguma sorte, perdoar). “Epa, desculpa lá (logo em segundo lugar na sintaxe para revelar alguma culpa) mas (a adversativa é que nos “mata” logo ali, a partir já estamos a anuir a tudo o que dali vier) o carro não pegou”. O que omitiu é que acordou, provavelmente, 5 minutos antes de sair e aí claro, nem com o Air Force One, quanto mais um carro.
“Epa, sabes mas os miúdos”, “Epa, o despertador não tocou, são as pilhas”.
“Epa”…isto para mim soa-me mais a irresponsabilidade e falta de civismo. Qualquer coisa como “fiz asneira mas olha…já está” (redenção final que dura 5 a 10 segundos na consciência). Não é bonito culpar objectos pessoais, entes queridos ou demais serviços pela nossa incapacidade em cumprir algo, todavia menos correcto se torna formar uma culpa cuja génese nos é desconhecida.
“Epa” não é, como assim dizer…justo.


Vanessa Llimpo


in "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Março de 2009

2 comentários:

Angelo disse...

Isto é tudo verdade! E em Portugal é a toda a hora!

Ai, Faneca, os problemas que vou ter! Mas que bem me vão saber!

Anónimo disse...

https://www.youtube.com/watch?v=bz5yLUhvCbk