Hoje celebra-se o dia mundial do teatro.
Nunca mais me esqueci deste dia desde as saudosas aulas de O.E.D (Oficina de Expressão Dramática). Tive a (muita) sorte de ter um excelente professor e ainda hoje o seu nome (Fernando Rebelo)me vem à memoria e boca na mesma velocidade que as saudades dessas sessões de puro humor, solidariedade, dialogo e experimentação.
Aquele espaço tinha tudo o que uma aula deve ter: um professor que adora o que faz, que respira a matéria que passa aos Outros, sendo estes o seu primeiro objectivo.
Se há profissão que nasce do desejo de estar, ajudar e aprender com os Outros é a de professor.
Claro está que nos tempos que correm, ser-se professor é sinónimo de estar-se no grau-zero da escala de respeito e estatuto laboral. Mas desse parêntesis não reza esta história, o mofo não o permite. Aquelas aulas cheiravam a Troca, a bilateralidade e, sobretudo, a algo que triho (ou tento trilhar a passos largos) no percuros da minha vida: auto-conhecimento.
A auto-consciência não é meio-caminho para o equílbrio mental, é, a meu ver, a única via possível (e desejável) para o atingir. Saber quem sou, ou melhor, quem vou sendo -pois parar é enquistar-se e não cabe na própria essência da vida que é a mutação- o que faço e de como aquilo que faço afecta os outros e a mim, parece-me ser a base para toda a minha existência.
O auto-conhecimento, não sendo, por definição estanque, permite-me ser mais humilde, mais atenta e, concomitantemente, mais grata. O grande problema no meio de tudo isto é que dá trabalho. Dá muito trabalho olhar para dentro de si e descobrir que há muitas teias e lugares obscuros dentro de nós, assumir que afinal não se é assim tão bonzinho, altruísta ou sensível como se pensa (ou se prefere pensar).
Ora, o Teatro enquanto arte-espelho do batimento humano, tem essa capacidade incrível de nos transportar para dentro de nós, de nos fazer olhar olhos-nos-olhos, sem filro solar, para as grutas frias e escuras que escondemos.
Faz-nos igualmente, através do grupo e da interacção, lembrar que temos também muitas qualidades, alguns talentos qe germinam e outros ainda que poderão advir.
Descobri algumas coisas sobre mim naquelas aulas, mas serviram-me sobretudo para começar a olhar para o Outro, e, mais importante, a senti-lo.
E sentirmos os outros também não é fácil. Não pelos defeitos que neles possamos descobrir mas pelo reconhecimento deles em nós. E isto é duro. Muito duro.
Por tudo isto é-me muito duro ouvir, ler, ver nos vários meios de comunicação social (jornais, revistas, TV, etc) gente que se auto-intitula de "actor/actriz" quando não tem sequer a mais pálida ideia de quem é, do que é ou do que representa o ofício de representar (passe a tautologia)outras vidas, outros sangues, outras luas.
Contudo, não sei ainda o que mais me aborrece: se isto ou ainda a febre aguda de querer ser actor. Moda actual que maquilha apenas a avidez de aparecer, associada a um mito de vida fácil e estatuto social.
Não sendo actriz (nem tendo a pretensão de entender os meandros deste métier), uma coisa sei que me foi transmitida nesses idos de 94/95, quando os dias mediam-se pelas salas de aulas e a liberdade pelo poder sair da escola às 3h da tarde e poder ir ter com a minha avó (hoje substituída pelas AECS, ATL'S e/ou Centros de Explicações): nada se consegue sem esforço. Nada entendemos sobre os outros sem antes olharmos para nós.
E o mundo não se mede pela nossa bitola.
Ela é demasiado pequena.
Como (todos) nós.
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