quinta-feira, 19 de março de 2009

Happy father's day!



(Eu, pai e Cátia, Costa da Caparica, mil nove e setenta e oito, não faço a mais palida ideia sobre qual delas sou, por isso não me perguntem...true identity crisis)



A ti,Pai



Foste

raíz,

âmbar,

num momento

cosmos,noutro

ilha e sonho

sumo de dor,

campo de luz

onde me (des)cubro e deito prenha de Amor.




Teu sonho era, já do alto dos teus 32 Verões na altura, ter uma menina.
Sempre quiseste ter mulheres. Sabendo de antemão, (pois a vida já era, nesse tempo, maior que a idade), o trabalho que o universo feminino é, por natureza.
Mas a pele que cobre a vida não é fácil.
Começemos pela derme: Alentejo até aos 12, sol, pássaros roubados na planícies, aulas roubadas aos professores. Almada a partir daí. Muito sangue, suor e lágrimas que naquele tempo crise rimava com fome, trabalho infantil e cintos imprevisíveis.
Epiderme: Amor, a mãe, casamento e nós, o revestimento cutâneo que faltava.
Até às 37 semanas: ah um bebé!
Às 38, olha afinal são dois...e duas meninas.
Seja feita a tua Vontade.
Entre fraldas, biberões, muita dor pela dor minha, cansaços, muitas cavernas no coração por minha causa, eu sei.
Mas estamos todos cá por alguma razão e a minha era não desistir daqui.
Fiquei. E comigo tu. E eu contigo. Nós.
O trio que depois ficou do terramoto...os passeios até Sesimbra só para ir beber cacau quente. O marisco no Angelus, os doghnuts no Seixal. As horas a jogar ao-sapato-que-voou-com-a-bola (e não a jogar propriamente à bola).
Os passeios, os lanches depois da escola. O totobola às sextas. A avó aos Sábados. Sabia de cor os nomes de todas as flores,lembras-te? até que ela própria se tornou uma. E ainda o é.
Os muitos beijinhos, os abraços, a mão dada (ainda e sempre) pela rua. A cama que tinha de te ter ao meio de nós duas e nunca só de um lado. Pois se o Amor é para se partilhar, quanto mais um pai?!
O cinema ao fim-de-semana. As duas e meia da tarde (hora do meu libertar obrigatório das paredes de casa). O aquário Vasco da Gama, o Planetário, os parques até que os pés nos doessem.
E o teu sorriso quando África ficava finalmente distante.
E a cor do teu abraço, o tom do teu olhar em nós.
Dizias que a pureza éramos nós.
Maroto.
Afinal, a pureza eras tu. Amor puro.
Duro.
Em bruto.
Sem escultura.
Integral.
Despido.
Sem moeda de troca.
Sem mácula.

E, ao lone duas palavras que desenhaste em ti.
Que cresceram.
E são Mulher(es).

Cátia e Vanessa.

2 comentários:

Barroso disse...

Continuo a achar que devias mostrar-lhe! :)

Gita disse...

Lindo...lindo...lindo... (ainda não lhe mostraste?)
Vanessa, escreves tão bem os teus sentimentos, a tua vida o amor que tens pelo teu pai! MOSTRA JÁ!!!! Ele iria ficar mais que babado, aquilo era uma autêntica cheia... ;)