Estava a ler um post em blog alheio, texto que rezava qualquer coisa como os dias cheios que nos (pre)enchem e vazam alguns escombros frios que se vão erguendo em dias lúgubres.
Fez-me pensar que de facto nos queixamos muito. Queixo-me muito, tanto, demasiado e tanto tenho.
Da casa ao trabalho (luxo cada dia maior nos dias que correm), de alguns bons amigos e de ti, que em mim moras.
Tenho a sorte de falar todos os dias com a minhã mãe, o meu pai, de vê-los bem de saúde, de poder ainda projectar-lhe alguns sonhos e dias vindouros de alegrias.
Tenho ainda os meus avôs maternos. E sei como há tantos os que não têm ou não tiveram a felicidade de os conhecer. Os avôs são os pais da ternura, dos mimos-a-metro, das fatias do meio das torradas banhadas a quilos de manteiga (sim daquela que engorda, faz mal e da qual guardamos ainda o paladar), de muitas vontades feitas mas também de alguns vislumbres de colheres de pau.
Tenho um avô-pai, um mãe-avó que hoje em dia navega em mares turvos de doença que lhe comem a memória dos dias pequenos da minha infância. Tenho ainda uma tia-mãe que ainda hoje quando fala de mim e da minha irmã diz:"as minhas miúdas". Felicidade a dobrar: porque ainda oiço chamarem-me "miúda" e porque sei que sou, efectivamente, uma filha para ela.
Tenho uma irmã, esboçada a régua e esquadro da genética minha. O dois que é um, mesmo quando as nossas contas não batem certo e o resultado das operações diárias é negativo. Tenho a sorte de ter um cunhado que é irmão e com o qual sei que posso deitar as preocupações de irmã em cama segura. O beijinho de boa-noite será sempre dado.
Tenho-te a ti,que me fazes acreditar que o Amor afinal é possível e recomenda-se. Que me amas apesar de mim...e é aí que se tricota o tecido de que o Amor é feito.
Tenho de escrever isto mais vezes, deixar de ser (tão) egoísta, e devolver aos dias a calma que eles pedem.
Hoie é um dia bom-mau. Bom porque tenho a sorte de ter tudo isto, mau porque vejo a minha pequenez em conversas como esta:
Eu:"Então D.Anabela, como vai? não tem andado bem, que ainda outro dia a vi a coxear muito".
D. Anabela (auxiliar lá na escola): "Ai pois não, não vai professora, agora além da cartilagem partida, descobri que tenho já outra hérnia".
Eu:" Ah, pois eu vi que não estava bem. Foi por isso que faltou na 6a, não foi?"
D.Anabela: "Não, na 6a morreu-me um irmão e por isso não vim".
Dói até agora.
5 comentários:
Dos mais belos textos que escreveste até hoje!!!
De facto, muita gente se queixa de muita coisa sem ter razão para isso!!!
molto bello ... tantissimi
bacione
Muito bom texto. Sincero.
Grande inspiração! O texto é lindíssimo. Pela parte que nos toca - a tua irmã subscreve - ficámos extremamente sensibilizados pela mensagem pública que aqui deixaste.
Toca-nos porque sabemos que é sentida, incondicional. A ligação que te une à tua irmã é óbvia. São irmãs. É um elo inquebrável, para sempre. Só um filho poderá proporcionar uma experiência semelhante...
Quando se celebram 11 anos de uma relação a dois a mesma estende-se às pessoas mais importantes que estão em torno de nós. É um privilégio ter-te como amiga. Os nossos desaguisados temperam a nossa relação, fortalecem-na e tornam a mesma muito especial.
Beijos, Ricardo
P.S. - Quando vou à Concordia, ou a um estabelecimento similar, deixo sempre a fatia do meio da torrada para a tua irmã! Porque será?
P.P.S. - Como não sou de fazer comentários em blogues, aproveito para te dizer que o texto sobre a os wc's do sexo fraco (aqui está a provoação da ordem) é excelente. Devias enviá-lo para uma crónica.
Simplesmente demais...
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