sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Higiene a quanto obrigas

Eu sei, eu sei, já aqui falei sobremaneira de transportes e muitos dos hábitos, insólitos, rituais e demais comportamentos a eles associados mas não consigo, pura e simplesmente não consigo deixar de mencionar mais um.
Começo esta reflexão com uma pergunta (que pode ser lida retoricamente se se preferir pois por muito que pense não vejo resposta ou até solução possível para esta “problemática”). Por que razão não há casas de banho nos transportes públicos de pequeno (ou mesmo minúsculo) curso? Se os comboios, aviões, autocarros de longo de curso os têm, então por que motivo não os têm os outros?
A pergunta parece imbecil, pois se os transportes são de curtas distâncias não será de todo necessário a colocação de instalações sanitárias (eufemismo chiquíssimo para casas de banho, diga-se de passagem) pois as pessoas não precisarão dos serviços que estes oferecem.
Engano, puro engano. Ao fim de mais de uma década a utilizar variados transportes em diferentes pontos do país, constato que os passageiros necessitam com elevada premência destas instalações. E por que digo isto? Porque estou absolutamente cansada de ter de partilhar uma intimidade não desejada, inconveniente e até um pouco nauseante com os meus “colegas” passageiros: ora desde o recorrente barulho do corta-unhas a tentar eliminar restos mortais de queratina, ao escovar de cabelos, ao colocar do batom, ou ao sôfrego retirar de substâncias “naso-mucais” não identificadas (passe o neologismo), a tudo tenho eu assistido com pasmo e aflição.
Pasmo por pensar que em pleno século XXI ainda não se percebeu a diferença entre espaço público e privado e aflição por não poder sair na paragem seguinte.
Já não basta haver sempre fila quando vou ao Multibanco (e a pessoa que está à nossa frente tem sempre as contas todas do mês para pagar, incrível não é?) ao banco e demais serviços, ainda me deparo com estes pequenos rituais que desafiam qualquer lei higiénica em que qualquer semelhança com civismo é pura coincidência.
Pelo sim pelo não, começo cada vez mais a usar uma velha máxima de infância que agora aplico a este contexto e aqui a deixo para vós à laia de aviso: quando entrar num transporte público, faça como eu: “Pare, escute e olhe”.


Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de dia 30 de Agosto de 2008

1 comentário:

Anastácio Soberbo disse...

Parabéns pelo Blogue.
É muito bonito, gosto do que leio e vejo.
Um abraço de;
Soberbo