quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Senhor Cohen que me perdoe...








Mas isto está além do Além...cada vez que oiço isto (quase) me torno crente...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Prémio "Há coisa mais portuguesa que isto?"





Corso do Carnaval algures na Margem Sul do Tejo

Portugal puro e duro: tractores, cavalos e "biknis" em Fevereiro no hemisfério norte, qualquer semelhança com Carnaval é pura coincidência!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Naperon: rise & fall

Haverá objecto mais simbólico da decoração dos idos de sessenta e setenta (trazendo ainda o seu bolor para a década seguinte) que o mítico naperon?
Baluarte do interior design da época, não havia lar que o não tivesse hasteado em mesas, cómodas, alastrando-se a praga até a outras aquisições de última geração para a altura: a saber, o televisor
Televisor em plena década de setenta sem naperon que o acompanhasse era como se tivéssemos os Dupond & Dupond sem um deles, ou Bucha sem Estica, como se por um processo de osmose (entre o dito aparelho e o puro mau gosto) se fundissem e se tornassem um só.
O que é um naperon afinal? Esta reflexão já merecia destaque. Ora um naperon – francesismo arcaico não é mais que um…guardanapo…um guardanapo gigantesco que cobre alegremente (para ele, não para a mesa, por certo, eu se fosse mesa, garantidamente não gostaria de tê-lo a cobrir-me, …) móveis.
Já sei que vão dizer: "ahh mas é tão bonito!" (dirão isto se tiverem mais de quarenta e cinco anos ou se caíram num caldeirão de naperons em bebés e agora não querem outra coisa) ou então: "mas aquilo usava-se para tapar o pó, para o esconder".
Mas todos sabemos qual era a sua verdadeira função, sim eu descobri-o há muito. Este pano bordado ou rendado, de tez pálida mais não servia para receptáculo de outro "canône" da decoração kitsch: a Terrina- esse pérfido objecto que tantas dores de úmero, rádio e cúbito incluído me deram.
A terrina, tal como o naperon, foram feitas para nos fazerem sofrer (a uns mais que outros, é certo), a pimeira pelo peso, a segunda pelo efeito (in)estético. Ambos desprovidos de qualquer funcionalidade prática. Sim, a terrina servia para se colocar a sopa. M-E-N-T-I-R-A!! A maior fraude de sempre! Em quase vinte anos que tive de conviver com uma ou duas nem uma única vez foram usadas. Mas, lá está, "ficavam tão bem". E "davam muito jeito". Sim, sobretudo ao pó que como se sabe está sempre à "coca" de novos hospedeiros para se alojar.
Mas como em tudo, há sempre a Glória e a Queda. E com os anos 90, veio, finalmente, a derrocada de ambos os objectos. Com o advento das novas tecnologias: computador, plasmas, LCDs e afins, deixou de haver espaço para o naperon e su muchacha, la terrina. A mãe-tecnologia lá sabe o que faz.
"Ámagalhães"!


Vanessa Limpo

In "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Fevereiro de 2009.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Kitchen...



"(...) Não havia ninguém no mundo do meu próprio sangue, e, assim, era-me possível ir para qualquer lugar e fazer fosse o que fosse. Era magnífico.
Há pouco apalpei, pela primeira vez, com as mãos e os olhos, um mundo amplo, uma escuridão profunda e um gozo e uma solidão sem fim. Parece-me que, até agora, estive a olhar o mundo com um olho fechado. (...)".


Redescobri-o, dez anos depois, e aconselho...uma viagem ao interior da solidão, de todos os (nossos) medos e uma doçura que serpenteia as palavras.
A ler.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O que mais adoro em ti é...


Novinho em CD, ainda cheira a fresco e "é tão bom, aiii, faz tão bem" que nem vos digo, nem vos conto... desde o Nelito com a professora Palmira, aos anúncios nonsense até ao tutano, passando pela Marilú e uma "condensa" que fica muito tensa, ao mítico Tony Silva, "cantor de toda a músicaaa róooooock", vale muito a pena...sem qualquer margem para zapping!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Já é 1 mail com algum bolor mas só pelas voltas que nos obriga a dar à língua e à cabeça, vale a pena:

QUEM É QUE DIZ QUE O PORTUGUÊS É COMPLICADO ???Parem de dizer que a Língua Portuguesa é complicada... *ler em voz alta*

Três bruxas olham para três relógios Swatch. Qual bruxa olha para qualrelógio Swatch?


E agora em inglês: Three witches watch three Swatch watches. Which witch watch which Swatch watch?


Foi fácil? Então agora para os especialistas.

Três bruxas suecas e transsexuais olham para os botões de três relógios Swatch suíços. Qual bruxa sueca transsexual olha para qualbotão de qual relógio Swatch suíço?


E agora em inglês:Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watchswitches. Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch
witch?

Conseguiram?Não??!! Então pronto! Parem de dizer que a Língua Portuguesa é complicada!!!!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Cansaço(s)

Hoje leio num artigo de opinião num desses jornais diários gratuitos, algo que já tinha pensado e que me surpreende que muita pouca gente contabilize.
Dizia a jornalista que em média, as nossas crianças passam cerca de doze horas do seu dia na escola. Atendendo a que deveriam dormir cerca de 8 a 10 horas (precisam de mais horas de sono que nós e que os adolescentes), o que sobra dos seus dias umas míseras 2 a 4 horas para estarem com os seus pais, avós, com os seus quartos e respectivos brinquedos.
Falta-lhes tempo para o que de melhor fazem: "criançar".
Não têm efectivamente tempo para correr, pular, descobrir, saltar todas as poças que sabem ser "feitas" para elas pisarem, pisar apenas nos "quadrados pretos" da calçada, atirarem-se para o manto de folhas secas em mergulho picado ou até para porem os pais doidos como seria natural. (Essa tarefa é delegada agora para os professores).
Se isto me preocupa porque todo o refreamento de algo que nos é inato e, concomitantemente, natural é sinal de atrofia, regressão e, todos o sabemos, algum dia esta (dura) factura terá de ser paga; não menos me assusta o outro lado da questão que se entrelaça a esta: as nossas crianças estão a ficar muito, demasiado, mimadas, possessivas, egoístas e muito pouco altruístas.
Crescem mais rápido, mas amadurecem muito tardiamente.
Hoje oiço, logo pela manhã, a conversa entre uma funcionária que traz as crianças do autocarro para as actividades e um colega meu de educação física.
A funcionária, also know as mediadora pais-professores, trouxe ao colega um recado de duas mães extremosas: para, por favor, quando elas se portam mal ou chegam atrasadas para não lhes dar o castigo que costumeiramente lhes aplica: fazerem alguns agachamentos...isto porque...as crianças se cansam a fazer isto!!!!
Portanto: portar-se mal...chegar atraso...consequência pedida para os actos??? Nada, não fazer nada porque a alternativa...cansa...
Cansa sim senhor, extenua, fatiga e exaspera...ouvir isto!

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Se quiseres fazer azul...

(Full Fanthom Five, 1947, Jackson Pollock)
Receita para fazer o azul
Se quiseres fazer azul,
pega num pedaço de céu e mete-o numa panela grande,
que possas levar ao lume do horizonte;
depois mexe o azul com um resto de vermelho
da madrugada, até que ele se desfaça;
despeja tudo num bacio bem limpo,
para que nada reste das impurezas da tarde.
Por fim, peneira um resto de oiro da areia do meio-dia,
até que a cor pegue ao fundo de metal.
Se quiseres, para que as cores se não desprendam
com o tempo, deita no líquido um caroço de pêssego
queimado.Vê-lo-ás desfazer-se, sem deixar sinais de que alguma
vez ali o puseste; e nem o negro da cinza deixará um resto
de ocre
na superfície dourada.
Podes, então, levantar a cor
até à altura dos olhos,
e compará-la com o azul
autêntico.
Ambas as cores te parecerão semelhantes,
sem que possas distinguir entre uma e outra.
Assim o fiz — eu, Abraão ben Judá Ibn Haim,
iluminador de Loulé — e deixei a receita a quem quiser,
algum dia, imitar o céu.
Nuno Júdice
(Meditação Sobre Ruínas, Quetzal 1994)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Repto...

(Golconda, René Magritte)
São Pedro? Se me estás a ouvir, esta é para ti: WE GOT THE MESSAGE, OK? WE promise we'll behave...Agora vai lá agarrar-te a uma massa de ar polar ali para os lados da Sibéria, tá? Não queres ir para tão longe? Então pronto...vai para a Finlândia ou para a Noruega que ouvi dizer que lá as frentes frias são de uma qualidade a toda a prova. Ou para a Austrália (longe também mas carenciada de ti). Portanto vai lá para onde és preciso.
Obrigada, a gerência agradece. E bons aguaçeiros.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Osteoporose do ofício...

Digo osteoporose porque de facto não se tratam de "ossos do ofício". Os ossos quando bem alimentados são saudáveis e não nos dão senão pernas para andar.
Todavia estes são os tempos da verdadeira deterioração dos hábitos, costumes e sobretudo valores.
Já sei que este discurso é "disco riscado" mas it's my blog and I write what I want...
Que a Educação vai de mal a pior já se sabe, que as guerras entre ministério e professores tem já barbas (e cada vez mais brancas pois os nervos que nos assolam são cada vez mais frequentes) também não constitui qualquer novidade.
É cansativo, frustrante, desgastante ser-se professor nos dias que correm. Já nem aqui vou dissertar acerca dos recibos verdes, da discriminação e desautorização e descrédito que a classe como um todo enfrenta.
Particularizo. Pois como diz o ditado (passe-se a redundância) "cada qual sabe de si...(...)". Este ano dou aulas nas AECS (actividades de enriquecimento curricular), já o ano passado, a par com explicações e formações (sim que quem já anda nestas lides há uns aninhos sabe que ter-se apenas uma actividade dentro da área é como tentar vender areia num deserto) exerci esta função.
Se ser-se professor é hoje em dia encarado como profissão alternativa a outra qualquer que se poderia ter tido se se tivesse tido "cabeça" para as ciências ou a Informática (disciplinas essas "sérias" e que além de "estatuto" conferem credibilidade profissional e social) ser-se professor de Inglês (disciplina não incluída no pedigree da profissão) é estar-se no grau zero da escala, numa espécie de ofício que existe para "tapar buracos" até porque se neste país para além de treinadores de bancada, o que mais abunda é, igualmente, professores de inglês e línguas em geral de pacotilha.
Formei-me em filologia inglesa e francesa porque quis, porque não me via a fazer outra coisa, motivada veja-se bem por uma coisa antiga mas a meu ver bonita que se chama...vocação. Vocação é aquilo que existe quando não nos vemos a fazer outra coisa que nos possa trazer prazer, satisfação, e uma sensação de bem estar única. Pelo menos é esta a minha verdade e é por ela que me pauto.
Não segui humanidades para fugir à matemática como os letrados (engraçado como as letras estão, de facto, em tudo, irónico, no mínimo) em coisas "importantes" como os engenheiros, matemáticos, cientistas, etc. Foi uma escolha pensada, reflectida, fruto de um amor à escrita, à leitura, à poesia, à língua, ao navegar dentro do Pensamento e da sua subjectividade que só quem está dentro do ramo (ou que não estando, a a ele lhe reconhece o seu valor) consegue compreender.
Por isso custa muito...custa estar sete anos depois do ponto de partida, a ter de me aborrecer com (até) as pequenas coisas.
Chego à Bobadela à hora do costume, dirigo-me à escola, à sala de aula que por acaso até nem é numa escola primária porque as escolas primárias da zona não tem espaço para as actividades e então são realizadas numa escola 2+3 que como qualquer pessoa de bom-senso entende, não é o local adequado para se trabalhar com crianças de uma faixa etária muito inferior à população "local".
Mas também a maior parte das aulas não são dadas num pavilhão comum de salas de aulas, não...porque a própria escola 2+3 que é sede de agrupamento, não possui salas suficientes para o efeito. Dou aulas no...pavilhão de educação física que é excelente (honra lhe seja feita) para...educação física.
Tem, por acaso, duas salas (frias) que servirão, penso seu, na sua génese para as aulas teóricas de educação física. Não são suficientes nem adequadas para a prática de línguas estrangeiras ou educação musical. Nem o ATL da escola primária onde dou outras aulas deveria ser como sala de aula mas também acaba por ser essa a sua função. Crianças a montes, disposição incorrecta e confusão nas cabeças infantis que não destrinçam ainda bem o termo "ATL" de sala de aula de inglês. Inglês é como um ATL...pode-se tudo...
Mas nem foi isso que me fez "saltar a tampa": foi tout simplesment o facto de, mais uma vez, eu chegar ao pavilhão gimnodesportivo com frio, com as varetas moribundas de tanta chuva do meu chapéu, irritada já com o típico atraso do autocarro que traz as crianças das suas escolas primárias até à sede do agrupamento, e ter, de novo, a porta fechada.
Fevereiro, chuva, vento, frio, atraso permanente. E eu cá fora...A empregada tinha aberto a porta mas fechou-se com o vento...não lhe atribuo a culpa...deveria haver uma outra porta para os professores entrarem já que as existentes apenas se abrem por dentro e não há ninguém sempre presente para a abrir. Desorganização, sistemas que se criam apenas para encher o olho dos ministérios, projectos bonitos em papel mas que no fundo são mero chouriço que serve para encher as horas em que os pais não podem estar com os filhos porque neste país estar com um filho mais que 1 hora por dia é "luxo", não deve ser preciso e, por isso ,eles estão tão bem comportados.
Se fosse feito com a seriedade que lhe é devida, planos exequíveis seriam feitos, cumpllicidades efectivas entre os diferentes agentes educativos seriam diligenciadas e verdadeiros progressos seriam consegidos.
Assim eram 9h e 20 da manhã já e estava eu e os meus alunos com idades entre os 6 e os 9 anos ao frio, à chuva, todos como o Outro...à espera de Godot.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Vozes

Li numa revista um artigo que me deixou num misto que vai do perplexa ao apaziguada.
Quando ouvimos falar em doenças do foro físico sentimos compaixão, solidariedade e um inevitável carinho pelos os que delas padecem. Quando nos deparamos com doenças que enlaçam tanto o aspecto físico como o mental e social, a velocidade com que o chamado efeito "murro no estômago" nos derruba torna-se maior, muito maior. A mim, pelo menos, traz-me essa sensação.
O autismo, tal como outras doenças cuja carne, vísceras e osso são a incapacidade de transportar para o mundo aquilo que (nos) viaja no pensamento, o medo de viver fora do conforto da nossa mente, e a impotência em não conseguir controlar a necessidade absoluta de viver de acordo com uma rotina repetitiva que tranca a cadeado o abismo da Mudança.
Dale nasceu com autismo, para mal de todos os pecados(?) a sua mãe, Nuala Gardner, uma enfermeira que trabalhava nos cuidados paliativos (a Natureza, por vezes, sabe mesmo o que faz) cedo se apercebeu que Dale não era uma criança dita comum.
(Des)esperando para que a doença do seu filho fosse meritoriamente reconhecida e diagnosticada- facto que só aconteceu ao fim da 4a primavera de vida do seu filho- Nuala percorreu a sua Escócia natal em busca de tratamentos, respostas que atenuassem o autismo profundo (como foi posteriormente diagnosticado) de seu filho.
Quando "Henry," um golden retriever surge na vida desta família, a reacção da mãe foi a de medo, medo que este novo elemento fosse um novo potenciador de stresse numa vida necessariamente ritualítica até então.
Henry não só se tornou o melhor amigo de Dale como a sua voz. Os dois começaram a "falar". A voz acompanhada pelo riso de Dale serpenteava pela casa pela primeira vez. Henry tranquilizava-o.
Era comum Dale ter diversos "ataques" (palavra utilizada pela mãe) e num deles em que o desespero de ver o jovem ferir-se repetidamente, fez com que o seu pai falasse como se fosse o cão.
Surreal ou não, resultou. E tudo o que nos devolve à lucidez é bem-vindo. A partir daí e por muito tempo, esta "técnica" foi utilizada pelos pais de Dale para comunicarem com ele. E foi através deste cão que começaram a "conhecer" o seu filho. Primeiro o animal foi o mediador, três anos depois Dale fala directamente com os pais. Hoje fala com o mundo.
Dale tem hoje 20 anos, estuda na faculdade para ser educador de infância, entende-se especialmente bem com crianças autistas ou com outras deficiências. É voluntário num grupo de teatro para crianças deficientes. O último capítulo do livro de Nuala "Um amigo chamado Henry" foi escrito por ele. A mãe, como todas as mães, espera que ele "arranje uma boa moça" até porque o seu círculo de amigos é já extenso.
E as críticas à insólita história que o livro narra? Como diz Nuala:"O que mais me agrada são as críticas de adultos autistas: se tenho o livro certo para eles, então sei que fiz um bom livro."
Porque as (nossas) palavras não se encerram somente na voz.
Porque a voz é muito mais que som.
Porque o que importa é que haja um eco atento que nos queira escutar.
Humano, ou não.