sábado, 23 de junho de 2007

Fracture



"Jennifer Crawford" e "Ted Crawford"

(Embeth Davidtz e Anthony Hopkins, no filme Fracture)



Ted

"I was just expressing my fellings"



Jennifer

"They hardly sound like feelings..."



Ted

"Oh... what does a feeling sound like?"


terça-feira, 19 de junho de 2007

Anatomia de Lee

(Salvador Dali, Criança geopolítica obervando o nascimento de um novo homem)
Anatomia de Lee


Almada. Cinco da tarde. Passo pela avenida em (re)construção, oiço, entre poeira e vento, um excerto de conversa entre duas senhoras. Tema: o segundo ou terceiro no top de preferências da população portuguesa (e aqui devo ainda particularizar mais a amostra, confessando que se verifica sobretudo nas mulheres), a saber: a(s) doença(s). O uso de plural surge exactamente porque um português nunca padece de apenas uma doença! Quando somos assolados, é, no mínimo, com duas: onde é que já se viu um bico de papagaio sem uma gastrite fulminante para ajudar? Ou um “mau jeito” (uma das minhas expressões favoritas) com uma dor de cabeça que “vai desde a testa até quase ao fundo do braço” (juro já ter ouvido isto!). Ora se vai até ao fim do braço, deixa de ser uma dor de cabeça para passar a ser uma dor-que-vai-desde-a-testa-até-ao-fim-do-braço (e, já agora, o fim é do lado do ombro ou da mão? Esta dúvida nunca me foi esclarecida, a quem souber explicar, por favor contacte-me).
O português, na dor, como na alegria, tem de viver tudo ao máximo. Um pouco na filosofia de que algo extra nos pode sempre acontecer, e quando não acontece, não nos sentimos completos. O slogan desta filosofia poderia até ser: “em corpo de português, onde cabe uma doença, cabem duas ou três”.
Setúbal, festival de cinema Festroia, um homem de 85 anos desloca-se pesarosamente para marcar presença num festival que o aclama. Este homem está de facto doente. Nem uma palavra ou queixume. Esse homem é Christopher Lee, nome mítico do cinema, que mesmo combalido pela doença se desloca e assiste ao evento.
Setúbal, sexta-feira 8, um jovem de 14 anos é mortalmente ferido na sequência de um atropelamento. Não houve queixas, não houve tempo para maldizer as maleitas. Não teve oportunidade. Foi-lhe roubada. A nós? Deu-nos contudo tempo, muito tempo para sermos mais gratos e fazer-nos pensar que a anatomia da vida é curta demais para o tempo que despendemos a coser as linhas da insatisfação.

De: Vanessa Limpo in "Correio de Setúbal", edição de 19 de Junho de 2007


sábado, 16 de junho de 2007

More than words...


Apenas uma publicidade que achei fantástica sobre o poder da palavra escrita e que decidi aqui colocar ... algo que só as cartas (sim ainda houve gente, como eu, que durante muitos anos escrevia e as recebia numa base semanal... e tão bem que sabia) conseguiam dizer. Ir à verdadeira "mail box" e ver lá os meus amigos, prontos para me receber através da leitura e da escrita... isto claro, num tempo em que qualquer mail ou chat eram ainda vocábulos por inventar e qualquer semelhança com uma verdadeira forma de comunicação era pura coincidência.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Portugal no seu melhor!

(recibo da lavandaria)


P.S. Apenas acrescento que a roupa em questão não era uma "Tixert" (T-shirt) mas antes uma blusa cuja cor não era bordeaux mas vermelho. Quanto ao resto, as palavras falam por si.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O gang da informática

(da esquerda para a direita em cima: Marco, Rui Freire, Paulo, Amaro, Hugo, Tiago Pereira, Diogo Rodrigues. Em baixo: Tiago Gameiro, Diogo Lacerda, André e Pedro (ou Faria, no meio artístico e na k7 pirata eh eh). De notar que faltam aqui para compôr o ramalhete da turma os alunos: Miguel (que não quis nem sob coacção aparecer na foto), Rui Lopes (que se baldou à minha aulinha) e o Tiago Vaz (também nao veio mas foi a uma consulta...desta vez escapaste Vaz!).


Ora aqui há uns dias terminei o percurso lectivo com mais uma turma... isto já se está a tornar epidémico, foram logo 3 de uma assentada... mauuu.. isto é mau para uma pobre prof como eu, que apesar de passar a vida a queixar-se do trabalho que todos os alunos, depois quando os anos lectivos acabam, fica com saudades (sim, turma de informática, quem me estiver a ler, pode já esboçar um risinho maléfico e dizer: "ah e tal... em 'cima' de nós mas depois tem saudades nossas"). Por muito que uma turma passe no que diz respeito à relação aluno-professor, e tive alguns problemas com estes rapazes e eles sabem disso, no fim fica sempre o carinho e o desejo que sejam mesmo muito feizes e bem-sucedidos (e já agora, se ficarem ricos, don't you forget about me eh eh).
Ao longo de três anos (mais coisa menos coisa que nunca foi bem para fazer contas) tive muitos nervos, muitas gargalhadas, e atenção, ri-me com eles e nunca deles. Sempre acreditei que muito mais importante que transmitir conhecimento teórico/científico sobre a matéria leccionada não é o primeiro móbil de 1 professor. Continuo,ao fim de quase 6 anos de ensino, a acreditar no mesmo. Passar esses conhecimentos é importante, contudo não é isso que vai ficar de nós para os nossos alunos. O que fica são os valores (ou as tentativas, mais frustradas ou não) que tentamos veicular, os risos e cumplicidade que criamos, as preocupações que sentimos porque apesar deles o não pensarem, também detectamos um dia mau quando ele aparece.
Eles pensam que nós nunca os entendemos. Natural, são jovens, what else is new? Muitas vezes pensam que agimos contra eles; no fundo, estamos a tentar ajudá-los a criar uma carapaça que é necessária para a vida futura (laboral e pessoal). Espero que daqui a uns anos largos quando a maturidade se sobrepuser à irreverência juvenil, entendam muitas das minhas atitudes. Estou certa que sim.
E porque muitos alunos se queixam que os profs muitas vezes nem sabem os nomes deles, ou não estão minimamente a par da pessoa que são por trás da "capa"de estudante, aqui faço o "ABC" ou "Raio X" de cada um dos meus alunos. Para a posteridade, aqui fica:

A- de Amaro. Se palavra houvesse para te definir ... só podia mesmo ser... "coiso"e "tipo", não é jovem? As vezes que este jovem enunciou esta palavra vão ficar nos compêndios da minha memória... creio que já era quase um impulso, uma crise compulsiva de "tipos" e "coisos" que jorravam desenfreadamente da sua boca. Isso e claro, o famoso "Ó Stôra, foi ele que começou!" ou ainda "tás aqui tás a levar"... mas tens de ter calma...nada se resolve partindo para a violência física. Contudo, e porque as verdades têm de ser ditas: um bom miúdo (e não quero saber que não gostem que vos chame de "miúdos", o blog é meu e 'mai' nada!!).

A- ainda de André... ora o André, ou Mr.Straw como te acabei por denominar agora já nesta recta final... muito aplicado, bom aluno, é o elemento mais calmo da turma. Seria noutros tempos, o chamado "certinho". E ainda bem. Não tem nada de mal, bem pelo contrário. A frase ou expressão que mais associo a ti é: "Stôra, exercícios, mais exercícios... mas de gramática, esses é que gosto".

D- de Diogo (Rodrigues)... bem a ti dizer o quê? para além de teres "roubado" a minha menina da turma de T.A.G, a Sónia, tenho a dizer que este jovem é o ser mais dorminhoco que conheci até hoje... e olhem que conheço gente bastante agarrada aos lençóis mas este jovem abusa. As vezes que não vi à 1a hora da manhã davam para fazer 1 colecção de faltas, um colar delas eh eh. Basta acordares mais cedo que o resto vai ao lugar. Inteligência não te falta.

D- de Diogo Lacerda. Ora aqui está mais um Diogo. Este Diogo é o "tá-se bem" da turma eh eh... está sempre tudo ok, desde que não o aborreçam muito que já deu para perceber que tem "pêlo na venta". A ti dedicaria a tua frase mais popular: "Stôra e comer não? almoçar não? intervalo não? já se comia" ou na variante desespero gástrico: "tou cheio de fommeeeeeeeeee!!". Humor rápido e perspicaz, não desistas da ideia de seguir os estudos.

H- de Hugo. Ora que dizer do Hugo? Encontra-se na mesma linha do está-se bem do aluno anterior. Calmo, bem-diposto, sempre cool, sem grandes preocupações. Gostava tanto de te ter dado outra nota que não fosse 13 mas tu não deixaste. Foi o aluno mais estável em termos de notas que tive. É que nem um 13,5 para mexer o pouco as águas....sempre 13!! É um dos experts de redes e afins da turma... o que safa sempre as outras turmas quando há um problema no pc quando se está a apresentar um trabalho. Para ti só te digo isto: "Penha de França city rules!!".

M- de Marco. O Marco é dos tais alunos que tenho vontade de espancar em investidas repetidas e lentas em termos psicológicos, claro porque sempre foi um óptimo conhecedor da língua inglesa, escreveu das melhores composições que já li e nunca te conseguir dar uma nota meritória do teu conhecimento e por tua culpa!! É, a par com o Amaro, o aluno do "tipo" e do "coiso"... também enunciado em overdoses verbais!! Poranto para ti é assim, tipo, coiso e tal, e tá dito!e claro "Tás a flashar"

M-de Miguel. O Miguel é como o Marco um aluno que poderia ser brilhante mas como é calão todos os dias (incluindo feriados e dias santos) não teve o 20 que até merecia em termos de conhecimento da língua inglesa. Escreves maravilhosamente bem, falta-te é deixares a preguiça em casa. Tens também um sentido de humor sagaz e acutilante. E és do contra... até aposto quando leres isto que vais estar a dizer "não, não, não". Para ti fica a frase "as pulseiras stôra... dê lá as pulseiras".

P- de Paulo. O Paulo é daqueles alunos que começou mal, ou seja, não sabia absolutamente nada de inglês (já sei que vais dizer que continuas sem saber mas se pensares bem não é verdade). Fala que se desunha nas aulas, não consegue deixar de fazer bonecagem em todas (mas todas, é que não escapou uma) as minhas fichas e só não foi nos testes porque via a minha cara de "bicho" a olhar para ele com ar ameaçador). Foste dos casos que mais evoluiu e se foi empenhando ao longo do tempo. Ahh e tal como o D. Lacerda pertence ao grupo dos "esfomeados"... sempre com imensa fome... para ti fica a frase "Ó stôra deixe lá sair... tou com tanta fome que já nem vejo bem".

P- de Pedro. Ou faria. Para mim será sempre o Faria. Ora o faria é o "gato fedorento" da turma. Sempre a inventar, magicar ou mesmo a criar (de preferência em horário lectivo e não em casa que era onde devia fazer esses trabalhos artísitcos) montagens e ideias. O alvo são preferencialmete os colegas mas os profs também não escapam. Sentido de humor que vale a pena pôr em papel (como já te disse aliás). Aluno que também só não tem melhor nota porque não quer. Para ti fica a frase: "FAZ A BARBA!!!!!!".

R-de Rui Lopes. O Lopes é o desportista e "pai" da turma. "Pai" por ser o mais velho, ou "cota" como te chamam (mas eu não posso falar muito até porque sou da mesma idade). Baldas até à inconsciencia, ou neste caso, até ficar tapado, também não tiveste um 20 porque não fizeste por isso. Inteligência para isso nunca te faltou. Ja sabes... se alguma vez fores para um grande clube, não te esqueças aqui da ex-prof que não tem pais ricos. para ti a frase é: "Ó stôra, stôrinha, deixe lá sair" ou então: "foi o Amaro, foi o Amaro que começou!".

R-de Rui Freire. O Freire é, como não falha nesta turma, um caso grave de preguiçite aguda, diria mesmo em último grau. Tem imensa capacidade para ser brilhante (desde o dark humour até à rapidez com que apanha a matéria) mas lá está... fazer mais um trabalho.. .epa... parecendo que não...dá trabalho...!! É uma daquelas pessoas que também tá sempre na "descontra" (como vocês dizem) e consegue dar abstrair-se do que os outros dizem, o que é muito bom. Tens a capacidade de só dar importãncia ao que queres. Para ti a frase é: "e sair mais cedo, stôra? deixe lá" ou então "ya"... as vezes que este rapaz diz "ya" enquanto se ri dobrado sobre si mesmo é, em "duas" palavras: "im-pressionante".

T- de Tiago Gameiro. O sr. Gameiro sofre do mesmo mal que assola violentamente o sr Lopes... o síndrome do baldanço. Se bem que este ano esteve melhor sim senhor. As verdades são para ser ditas. Bom aluno, sempre low profile e empenhado. Tal como Freire consegues alhear-te da confusão e focar-te apenas no que te interessa, não dando qualquer importância ao resto. Para ti fica a frase: "mas assim também está certo, não está? eu tinha pensado assim mas depois pus assim e assim também está certo, não é?".

T- de Tiago Pereira. Ora o Pereira. Durante os três anos, tive momentos de algum nervoso miudinho com este jovem. No 1º ano creio mesmo que te mandei ir "tomar ar" várias vezes. Mas foste mudando e percebendo que o meu mau feitio não melhora e compreendendo o tipo de stôra que sou. Aliás por várias vezes até alertavas os teus colegas que não valia a pena quererem acabar rápido uma ficha, que de onde tinha vindo aquela, muitas outras viriam... e estavas coberto de razão. Apesar das tuas muitas dificuldades com o inglês, creio que pelo menos já não o detestas tanto, e isso será minha pequena vitória. Para ti fica a frase: "Ó stôra...ajude lá...tou mesmo quase a virar a boneca".


T-de Tiago Vaz. O Vaz é dos tais casos de ódio mortal à língua inglesa. E também de não querer lutar para saber mais um pouquinho. Uma coisa distingue-te: és o aluno mais assíduo da turma. Isso há que o dizer. Contudo, és também calão. E nunca vi pessoa tão sorridente como tu, é incrível. Este jovem consegue estar sempre a rir. Não sei qual foi a poção mágica de riso em que caíste quando eras bebé mas espero que essa boa disposição te acompanhe sempre. Para ti fica a frase: "Ó stôra, mas eu tava calado" ou então "eu estava a passar, quer ver?".

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Love's geometry


Convite de casamento da minha querida amiga Rosa e do seu Nuno.
Não falei contigo sobre isto, linda, mas espero que não leves a mal a minha ousadia... colocar aqui este teu pedacinho... mas achei-o tão lindo que quis partilhá-lo aqui com que me lê (também não te preocupes que não é assim muita gente, eh eh). Mas de facto achei que o convite é, sem qualquer dúvida, a tua "cara": simples, discreto e sensível. Não é preciso muito para se criar beleza. Não sei se foi o acaso que vos juntou, sei que estão a viver neste tempo o espaço para o vosso amor. Espero que esta vossa geometria do amor seja sempre assim... equilibrada. I'm so happy for you.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

"Un certain regard"

(Espelho falso, René Magritte , 1928)
Há dias estava eu a visionar um dos programas do Malato (e já sei que me vão dizer: “ah mas que confianças são essas? O programa do Sr.Malato, ao que eu respondo: “é uma personagem tão familiar, tão próxima e presente no nosso dia-a-dia que me arrogo o direito de o denominar assim – O Malato) quando surge a famosa expressão tão nossa de um dos concorrentes: “A minha mãe diz que gosta muito de o ver trabalhar”.
Esta expressão é espantosa. Atendendo a que me considero uma pessoa trabalhadora (ou relativamente na pior das hipóteses) e que a maior parte da população o é igualmente (tento sempre partir desse princípio, erróneo ou não) e os que não trabalham também o desejam fazer, dizer que gosta de se ver alguém trabalhar é, no mínimo, algo voyeurista. Nesta altura devo estar já a receber alguns comentários da parte dos meus leitores: “Então mas ela não percebe que a expressão se refere a um elogio pelo trabalho de alguém? E ainda deixam esta energúmena à solta!”. Ao que respondo: é claro que sim, o que não significa que a expressão perca o seu valor caricatural. Eu gosto do trabalho dos outros, contudo assumo que fico satisfeita que não me vejam trabalhar (acreditem, poupo-vos horas de terapia!). Todos trabalhamos e no, fundo, todos nos olhamos a trabalhar: no escritório, na fábrica ou numa escola, todavia, não temos o prazer de ver o fruto o nosso trabalho. Em televisão isso é possível pois o conteúdo e o seu resultado confundem-se, são uma e a mesma coisa. Olhar o Malato a apresentar o seu programa é ver o produto do seu trabalho. Daí ser tão sagaz a nossa (outra rica) expressão: “olhamos mas não vemos”.


De: Vanessa Limpo

in "Correio de Setúbal", edição de 5 de Junho de 2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

"A palavra mágica"

(imagem: fonte Google imagens)
"Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre. e minha procura
ficará sendo
minha palavra."

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 1 de junho de 2007

True dream

(Salvador Dali, Sleep, 1937)



MEREDITH: [narrating] "Maybe we accept the dream has become a nightmare. We tell ourselves that reality is better. We convince ourselves it's better that we never dream at all. But, the strongest of us, the most determined of us, holds on to the dream or we find ourselves faced with a fresh dream we never considered. We wake to find ourselves, against all odds, feeling hopeful. And, if we're lucky, we realize in the face of everything, in the face of life the true dream is being able to dream at all."

(narração da personagem "Meredith Grey", na série Grey's anatomy).