domingo, 7 de dezembro de 2008

Pelos cabelos

Já aqui referi algumas das minhas eternas dúvidas existenciais, problemáticas que me assolam de forma continuada e que creio poderem também perturbar a si caríssimo/a leitor/a.
Ora, hoje lanço aqui outra dúvida que há muito me acompanha, algo que ao fim de três décadas de existência ainda não consegui resolver.
Se aqui há uns meses falei da “pandemia” de designar “Pérola” a tantas pastelarias espalhadas por este nosso Portugal, desta feita pergunto-me por que é que grande parte dos nossos cabeleireiros têm o nome “Cristina” ou, na sua forma petit-nom, “Tina” ou “Tinita”. Sei que o leitor poderá desde já dizer que o nome do estabelecimento designa o nome da sua proprietária e assim penso igualmente, ou, pelo menos, seria o raciocínio mais lógico.
Ora, mas se “Cristina” designa o nome da proprietária, então sou forçada a pensar várias possibilidades, a saber:
a A maioria das cabeleireiras portuguesas chama-se? Cristina
b) A maioria das cabeleireiras portuguesas tem como nome predilecto Cristina, daí baptizar o seu estabelecimento com esse nome.
c) Não se me apresenta qualquer outra hipótese plausível, mas, como nunca vi uma enunciação de hipóteses terminar na aliena b, decidi colocar uma terceira.
Se pensar que estou a hiperbolizar, ou que esta problemática não tem qualquer sentido, esteja atento a um qualquer “day Spa”, “Espaço” ou “Hairstylist” (sim, que agora dizer “cabeleireiro” já não está actualizado e daí pulularem desenfreadamente epítetos destes). Mas a minha aflição não finda aqui. Quando não se chama “Cristina”, o dito estabelecimento terá fortes probabilidades de possuir um destes nomes: “Faty”, “Fatinha”, “Mary”, “Sony” e demais nomes baseados ou em diminutivos carinhosos (o que até terá a sua lógica, visto que não convém tratar mal quem estará durante 1 a 2 horas a tratar-nos do cabelo) ou numa versão anglo-saxónica utilizando o mesmo diminutivo mas com a terminação em “y” (não sei se será porque se crê dar mais estatuto ou se não deixaram mesmo pôr o nome que tanto se pretendia: “Cristina”).
Que se pretenda um nome familiar para um estabelecimento que se quer amistoso, acolhedor e apelativo compreendo, que se goste particularmente de nomes pequenos ou diminutivos também entendo, ultrapassa-me, contudo, é a escolha que pende sempre para os mesmos nomes (salvem-se algumas excepções) num país com tantos cabeleireiros.
Ou as Cristinas nasceram com dotes para tratamentos capilares (o que ainda poderá ser objecto de um qualquer estudo genético que aprofunde esta hipótese), ou então a onomástica capilar precisa ser urgentemente revista.

Vanessa Limpo

In, "Expresso Sem Mais", edição de 06 de Dezembro de 2008



Sem comentários: