sábado, 13 de outubro de 2007

Too fast too luxurious!

(publicidade Time Square Absolut Vodka)

Pode ser grande, pequeno, preto, cinzento (mas a ser cinzento, que seja metalizado), bege (agora na versão hip bege-pimenta), azul, verde, pode ser alemão, francês, italiano. Nós, portugueses, não somos esquisitos, ou melhor, no que toca a viaturas, a única coisa que se torna esquisita para nós é esse grupo de pessoas (serão mesmo humanos?) que não conduzem… e isso não é “normal”, ou melhor, não é visto como normal por toda a comunidade que conduz.
Um português sem carro é pior que um jardim sem flores. Sem essa extensão automobilística de si, não se sente inteiro/a. Falta-lhe qualquer coisa, daí já o leitor/a ter, por certo, ouvido, alguém dizer “parece-me que agora sem o carro que está na revisão, me falta um braço”. Isto é grave! Isto pode não ser um bom prenúncio. Caro leitor/a, se for um destes casos, poderá estar a passar pela designada fase de “ressaca” automobilística. Mas não desanime, a cura existe!
Gostamos tanto de conduzir (mas mais dos carros, tanto que escolhemos os melhores modelos, trocamos variadíssimas vezes, esperamos meses pela tal cor “pimenta” que vimos no anúncio e não nos sai da cabeça) que tratamos o carro como se fosse parte da nossa casa, daí a necessidade do Português de passar ao grau dois da sua relação afectiva com o bólide: a decoração. Sim, não basta ter uma viatura e dizer que se gosta dela, há que a mostrar aos outros. Aí sim, perceberão o apreço que lhe temos. Não basta já estar endividado em prestações, ter discussões com a esposa, andar mal-humorado porque o carro não chegou, não, não é suficiente para mostramos sinais exteriores de amor, é necessário colocar cheirinhos em formas de árvore (algumas das quais com copas quase amazónicas), ou botinhas de madeira, terços (porque nunca se sabe quando precisamos de chamar instâncias superiores), emblemas das ditas “terrinhas” (aí passa-se ao dois em um: mostra-se o apreço pelo carro e pela terrinha) e claro, last but not the least: o emblema que não pode faltar em qualquer carro que se preze! A saber: o emblema alusivo ao clube do coração (e todo o corpo em geral). Viatura que não tenha emblema dos clubes futebolísticos…bem… há grandes possibilidades que não seja portuguesa… ou então outro motivo pode ser… porque pertence a uma mulher (mas aí essa grave “falha” é colmatada com um “ambipur” da melhor marca).
Eu não conduzo (já sei… daí não entender nada desse amor, assumo a minha falha) mas creio perceber que um carro é um meio de transporte…logo… deixa cá ver… a sua função é… isso… transportar… facilitar-nos a deslocação, fazer-nos ganhar tempo para chegar a outro sítio. Com mais ou menos berloques, cores mais ou menos garridas e cheiros a alfazema ou eucalipto, um carro é um meio de transporte. Tudo o resto são desculpas que arranjamos para irmos à boleia dos nossos sonhos…

Vanessa Limpo

in, "Correio de Setúbal", edição de dia 25 de Setembro de 2007

1 comentário:

Anónimo disse...

Hehe...tá demais este teu artigo :)) gostei!Os portugieses conseguem ser mt pirosos...lolol...Beijinhos