quinta-feira, 22 de novembro de 2007

A síndrome B.P.

("Zé Povinho", por Rafael Bordalo Pinheiro)

Não, caríssimos leitores, B.P não tem de estar com uma bolinha vermelha no seu canto superior direito pois não é publicidade a uma qualquer marca de combustível, a sigla surge para designar uma das nossas maiores síndromas: o Bilhete Picado.
Esta síndrome costuma surgir geralmente no fim da adolescência e inícios da idade adulta (idade que corresponde à progressão dos estudos ou integração no mercado de trabalho que, por sua vez, implica um maior uso de transportes públicos). A maleita não escolhe género ou etnia, sendo o seu único hóspede o Português.
Os sintomas vão desde uma vontade incontrolável de entrar primeiro que todos os demais seres humanos (e não humanos também, desde que sejam passageiros, a espécie é indiferente) nos transportes. E entrar primeiro não é o único sinal de alerta: o leitor poderá ficar preocupado se, de repente, da próxima vez que entrar num comboio ou autocarro sentir uma premência em não respeitar o lugar que lhe foi atribuído no transporte. Se é a primeira vez que lhe acontece, então recomenda-se uma terapia moderada: alguns minutos de interiorização que devem anteceder a sua entrada, apelando aos princípios de civismo que desde tenra idade lhe foram incutidos (por exemplo aquele que enaltece a virtude de aguardar pela sua vez de forma ordenada).
Se, contudo, não é um “réu primário” mas antes um reincidente então sugere-se a designada “terapia de choque” (mas atenção, por choque não entenda entrar em choque com os restantes passageiros que por acaso até estão cobertos de razão por você se ter sentado no lugar deles), deverá forçar-se sempre a olhar fixamente para o bilhete e controlar esse ímpeto funesto de não respeitar o lugar. Se ainda assim não resultar, então passamos ao terceiro grau na escala de terapia que é a dita “terapia alternativa” e esta é muito mais simples de executar (talvez não para si mas que terá certamente efeitos imediatos nos outros passageiros): esta terapia é alternativa porque lhe recomenda que utilize transportes alternativos: o automóvel, a bicicleta (e aí ganha pontos pois não só previne embaraços como ajuda o ambiente) ou então a sempre bela alternativa de quando pensar em ir de transporte, ficar em casa.
Atenção. Em caso de continuação da sintomatologia apresentada, favor consultar o seu médico.

Vanessa Limpo

in "Correio de Setúbal", edição de 20 de Novembro de 2007

3 comentários:

paulo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
paulo disse...

Linda, já vi que há texto novo por aqui... mas vim só dizer que vou dormir que tenho lavoura de madrugada.
Beijinhos!

Angelo disse...

Ah, sabias que no Japao, nos transportes suburbanos, nao ha filas? O que me vale e que moro aqui no cu de Judas pelo que ha sempre lugar! :)