"Fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, restos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem.
Olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas (...): nós olhamo-nos; fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábos a sorrir (...) Olhas-me e so tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuvaque não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir : um oceano que nos queima, um incêncio que nos afoga."
José Luís Peixoto
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