sábado, 24 de maio de 2008

Aparecer offline

Estava eu hoje no meu périplo habitual pelos meus blogs preferidos, ritual quase insconsciente em que mergulho (quase) todos os dias e ao ler o texto escrito por uma amiga nesse seu espaço virtual não pude deixar de concordar com as suas palavras, acenando ao ler o texto como que anuindo e respondendo-lhe directamente através do gesto.
Falava esta amiga, entre outras coisas, no facilitismo e laxismo em que hoje nos encontramos. Já sei o que o leitor espera: mais um aborrecido discurso sobre a (des)graça da sociedade contemporânea e a galopante perda de valores.
Não o maço com tal tema, e daí talvez o faça. Tudo depende do tempo e vontade que tenha para me ler. Hoje ninguém tem tempo, não só para os outros, mas sobretudo e mais grave, para si. E quando falo em tempo, engano-me (coisa rara hoje, quase ninguém se engana, comete erros) quero dizer espaço.
Hoje não há espaço para os Outros em Nós. O Tempo, tal como o entendemos, está sempre lá, ou melhor, aqui e agora. Não é o tempo dos relógios, das filas, das horas de ponta, é o tempo que (nos)damos aos Outros. A disponibilidade para os receber em nós, para os Ouvir e sobretudo para os sentir.
Peço desculpa em tomar o seu tempo, mas penso ainda no fenómeno da Internet (exaustivas as discussões dos seus efeitos nocivos) e nos chats, e em todas as solidões que se vestem por detrás: o subterfúgio da comunicação, o refúgio de tantos cansaços. Comunicamos mascarados de nicks, mudamos o estatuto no MSN como nos aprouver e quando não nos apetece, aparecemos offline. Não sou contra a Net, muito pelo contrário, não sou juíz (falta-me o talento, mas conheço cada vez mais juízes no dia-a-dia), apenas me preocupo com as falsas faltas de tempo, de disponibilidade; tempo que muitas vezes é devorado a tentar comunicar dedilhando palavras ocas, criando uma verdade nova à distância de um ecrã. Talvez seja mesmo preciso “dar um tempo” a tudo isto e mergulharmos num outro tempo, aquele em que nos sentamos, olhamos e encaramos o Outro com, como dizia a minha avó, mais vagar.


Vanessa Limpo

in "Expresso SemMais", edição de dia 24 de Maio de 2008

1 comentário:

didicas disse...

ola! Pois é, esta janelinha torna-nos mais fechados pro mundo exterior. É uma realidade! em certos casos, mais abertos pra outras coisas. Mas tornamo-nos mais fechados pro convivio........ Isto é uma faca de dois gomes, por um lado e bom, por outro mau..........beijocas