terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Agenda...

Desta vez, e para ser actual, resolvi ser original e escrever sobre algo que nunca foi antes debatido. A saber: o dia de Santo Valentim, e conhecido por alguns (poucos, contudo) como dia “dos namorados”.
Eu sei, eu sei, é surpreendente enquanto tema. O dia dos “namorados” e portanto, retirem-se das páginas todos os outros cuja situação emocional não abarque esta designação) celebra-se agora a 14 de Fevereiro, sendo que antes era no dia do outro Santo que constitui real ameaça a São Valentim: Santo António. Pelo menos, em Lisboa.
Sendo que Santo António está para o São Valentim, como as equipas das Segunda Liga para as da Primeira, o segundo ganha terreno de ano para ano. E porquê??
São Valentim tem várias ajudas, aliás se S Valentim fosse um programa de televisão seria o “Quem quer ser milionário”. Tem a ajuda do público que poderá ser personificada pelas lojas que chegadas a fins de Janeiro já estão forradas até ao tecto com ursinhos, cãezinhos, bonequinhos abraçados e claro, os ex-libris da data: corações, florestas de corações que inundam de vermelho todo o comércio. Mas as ajudas para este Santo sortudo não terminam aqui. Há ainda a ajuda do telefone: os namorados quando não sabem o que dar às namoradas ou aos namorados. (situação que acontecem quase sempre e que é arrematada com a célebre expressão: (“ela/ele já tem tudo, que lhe vou dar?) telefonam às cunhada/os, pais, primos dos amados para saberem o que estes querem.
Ora se não sabem o que vão dar à cara-metade (expressão também catita e que se levada à letra pode dar num pós-operatório bem doloroso...parecendo que não, tirar um pouco da cara de outrem e por em metade da nossa deve aleijar um pouco, mas isto sou só eu a pensar alto e como muito tempo livre em mãos), à pessoa com quem vivem ou estão junta/os a maior parte do dia (e dos anos), provavelmente algo não está a correr bem...
Há ainda a última ajuda mas não menos importante: a ajuda dos “50-50” que poderá ser representada pelo desespero já quando o dia chega e a prenda ainda não está comprada ou o restaurante (sim, que dia dos namorados sem partilhar uma refeição mais que cara que nos outros dia do ano e partilhada com metade do país dentro do mesmo espaço físico, não é a mesma coisa!) marcado. Aí recorre-se não à imaginação que se não existiu até então, nessa altura é que não existirá de certeza) e entra-se na primeira florista e paga-se meio salário em rosas com 3 dias, e no entanto, sai-se da loja com o sentido de dever cumprido. Na florista ou na loja de bombons. Temos 50% de hipóteses de brilhar perante o Outro.
Dever? É, de facto, o que parece mais esta data nos últimos anos. Envolta no típico cliché do consumismo fácil, continua, todavia, a lucrar, marcando pontos: jogando com a nossa necessidade de agradar e celebrar datas para que nos lembremos que é importante fazermos quem mais gostamos sentir-se recordado.
Mas aqui que ninguém me ouve...não temos os outros 364 dias do ano para tal? ´É que a mim, parece-me que 364 dias é ainda muito tempo e que olhando com cuidado para as nossas agendas, deveria sempre haver tempo e espaço para quem, no fundo faz parte de nós.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais",edição de 20 de Fevereiro de 2010

2 comentários:

Angelo disse...

Nem mais!!! É isso mesmo!

Mas eu preciso de coraçõezinhos em dia marcado para me dizerem que me amam?! BAH!

Nokas disse...

Lol!! Concordo a 100%!!!