sábado, 6 de fevereiro de 2010

Há duas situações que, por muito corriqueiras que sejam, não cessam de me espantar.
A primeira delas é a desenvoltura que as cabeleireiras têm na sua relação com o seu cliente. Mal pegam nos nossos cabelos e são imediatamente as nossas melhores amigas. Não dos nossos cabelos mas nossas amigas íntimas. Ou assim desejam. Querem saber tudo acerca de nós, inundam-nos com perguntas pessoais que as nossas mães ou tias têm o pudor de verbalizar.
Mais curioso ainda é que quando inquiridas acerca das várias funções do seu mister, respondem, não raras vezes que são como que “psicólogas”. Não sei qual o plano curricular do curso de cabeleireiro mas não estou a ver o Eduardo Beauté deitado numa cadeira a fazer análise. Assim, de repente, não me parece viável.
Se eu quiser ir a um psicólogo não vou procurar nas “Páginas Amarelas” pelo “Tina & Sandra Coiffure” e muito menos pelo “Rosy Day Spa”...lamento, mas não vou. Estou fortemente inclinada a ir à letra “P”...de psicólogo. É uma mania que eu tenho: seguir a lógica das funções atribuídas a cada profissão mas pode ser teimosia pura.
Outra situação que me causa cada vez mais espécie é a entrada para os transportes públicos. Não querendo parecer redundante, trago a lume este assunto pois parece-me que o (mau) comportamento habitual se tem vindo a agudizar.
Um dos comportamentos em questão é o que designei como “efeito aba”. Não, não é publicidade velada a nenhum operador ligado a uma espécie felina. Reporta-se à fila descoordenada que se cria enquanto esperamos por um transporte. Se repararem, chegamos a uma paragem de autocarro, olhamos para ver onde começa a fila e, qual não é o nosso espanto, quando percebemos que não sabemos onde nos colocar pois a fila é qual linha paralela sem início ou fim. A fila está lá, nós estamos lá mas por mais voltas que demos, não sabemos onde começa ou termina. Como que entre abas protectoras, encontramo-nos perdidos na indecisão de avançarmos e passarmos à frente de alguém ou recuarmos e deixarmos que nos passem.
Coloca-se então a questão: Primeiro a paragem ou o peão?. A própria noção de prioridade é aqui posta em causa. Todavia, isso não impede os mais audazes de se lançarem carreira dentro e assim atingirem a glória do lugar para os passageiros portadores de deficiência, idosos ou mulheres grávidas. Ah, o lugar mais cobiçado, não fosse ele o fruto proibido. E assim, finos e seguros, na nossa “aba-redoma” nos aventuramos nós, dia-a-dia, por paragens constantemente conspurcadas.

Vanessa Limpo

in "expresso Sem Mais", edição de 6 de Fevereiro de 2010.

1 comentário:

Fernanda disse...

As cabeleireiras...o que eu já passei com elas e o que já me senti mal. Normalmente todas «já tiveram os cabelos como eu», mas olhando para elas nem se suspeita, pois têm cabelos finos, pintalgados e estragados. Portanto, dá vontade de nunca mais lá voltar...é o que tenho tentado fazer.