Com o Verão às portas, inicia-se uma das épocas favoritas dos portugueses: a estação balnear. A estação balnear em Portugal assemelha-se um pouco à estação do Marquês de Pombal em hora de ponta mas com valores de oxigénio ainda mais rarefeitos, especialmente entre as 12h e as 16h. Isso mesmo: a melhor hora para o cultivo de melanoma da melhor qualidade.
Ir à praia significa não só apreender os mais altos índices de cancro como ainda apanhar congestões, facto que facilmente pode ser comprovando ao confiscar as geleiras dos banhistas (que se deveriam chamar de “melanomistas” dado que a única área do corpo que toca no Atlântico ser o dedo mindinho do pé) podermos encontrar dois quilos e meio de frango, cinco litros de cerveja, cinco a dez sandes (de presunto e fiambre que é para fermentar de vez e permitir uma congestão perfeita) e três ou quatro uvas (afinal, a fruta é importante). Água não é “precisa” pois já basta a que se tem à frente (embora não se beba, a não ser que por engano se entre de facto na água e se engula o tão estimado “pirolito”).
Outro fenómeno interessante é observar as camadas mais jovens da nossa sociedade nos seus rituais de Verão. Antes íamos para a praia ou para destilar e ficar bem passados ao Sol (isso já não é glória desta geração) ou para jogarmos: ou com raquetas, ou voleibol/ futebol. etc. Levávamos os fatos-de-banho, biquínis ou calções, nunca se colocava o protector solar (a paixão cancerígena é já antiga) mas primava-se por envergar as vestes mais práticas possíveis. Hoje em dia assisto a verdadeiros desfiles de moda, colecção Verão/Complicação. Passo a explicar: anexo ao biquíni, vêm uns três quilos de pulseiras, fios, fitas e demais acessórios que, curiosamente, nunca saem dos braços/pernas ou cabeças das jovens banhistas.
Comecei a pensar melhor e de facto, faz sentido: para quê gastar-se dinheiro com ginásios quando podemos carregar com alguidares de acessórios que promovem a manutenção salutar dos bíceps e tríceps? Nada como o bem-estar muscular.
Assim, as jovens lançam-se intrepidamente na água, elas e pulseiras, num hino à sua juventude, ao Verão e claro com a comparticipação da “Parfois”.
Vanessa Limpo.
in "Expresso Sem Mais", edição de 5 de Junho de 2010.
3 comentários:
E pensar que que aqui ainda fui à praia...ao menos para poder comparar e saber se a coisa da «geladeira» é originariamente brazuca, como diz a Pat, cujo lema é «tem geladeira e rádio no máximo é brazuca!»
Agora fizeste-me lembrar os meus tempos de infância quando ia à praia com os meus pais. A minha mãe começava a preparar o farnel 2 dias antes: pasteis de bacalhau, rissóis, depois havia o frnago assado (já no proprio dia e bem cedinho) o pão caseiro, a água, o vinho (só para o meu pai, claro está) e a fruta (normalmente pêssegos lá do quintal). Para tornar a coisa mais séria, havia ainda a manta de retalhos e uma toalha com xadrez vermelhos... Aquilo é que eram pic-niques a valer ;)
Melanomas? Qual quê, a senhora minha mãe não nos deixava pôr o dedo mindinho do pé fora da sombra do chapéu. Ai de nós...
Ah, esqueceste-te dos pretos que vendem cangalhadas e berloques..o célebre cala-te e...hehe
bjos
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