quinta-feira, 8 de julho de 2010

"As horas"

O último compasso tem sido o das pautas. O ritmo rima com sons que não me agradam: verificação, validação, avaliação.
São tons sujos, monocórdicos. Baços. Confundem-se (me). Diluem-se
A sala inunda-se em papéis, restos de doces acompanhados das duas pratas destruídas e as canetas têm fome de datas.
Também eu olho para o relógio que bombeia minutos e segundos. Falta pouco já.
Apenas um pequeno oçeano de burocracia me afasta da Terra Prometida.
Os ponteiros marcam cada aproximar de Descanso. Imagino esta dança cronológica no seio do Tempo.
O vento sopra por entre as grades da janela e assisto à valsa das grelhas, planificações e resquícios de lembretes.
Temos sempre tanta pressa de lembrar que até esquecemos os nossos próprios relógios interiores.
Luto contra essa ditadura e lembro-me que é tempo de não me esquecer de mim.
Mais longe do tempo.
Mais perto de mim.

4 comentários:

Fernanda disse...

Não posso deixar de comentar este teu post. Não posso comentar um post sobre adolescentes e peidos, sobre neolítico, lasca e fogo, e não te dizer que és uma poetisa cheia de alma.
Adorei o teu texto!
Bjo saudoso.

Vanessa disse...

Oh "Fê"... eu, poetisa?? Estou tão longe disso... mas obrigada, minha querida.
Beijos.

Jass disse...

Bem, com um texto destes, até validar pautas dá gosto.
Dás a volta às palavras cá de uma maneira... é mesmo qualquer coisa que dá prazer ler :)

Beijicos

paulo disse...

o que uma pauta pode parir!
ah, bendita inspiração.


abraço