terça-feira, 13 de julho de 2010

Tough Rider...

Há vários hobbies de estimação sem os quais os portugueses não passam: são o cultivo do melanoma no Verão, como já aqui foi dito, a ausência da noção de prioridade numa fila para qualquer repartição pública (isto em qualquer altura do ano), e, nessa mesma linha de (dês)orientação, a invasão abrupta de faixas de trânsito.
Visto que se encontra cansado após mais um dia de trabalho (ou se for de manhã, terá sempre a desculpa da pressa para ir trabalhar), o cérebro do português encontra-se exaurido e a sua capacidade de escolha e decisão fica retardada. O raciocínio apenas deixa de ficar toldado quando se aproxima o exacto momento em que um desvio aparece. Aí sim, ignorando (por puro esquecimento e jamais por falta de civismo) toda a fila de carros que já se encaminhava para o mesmo destino que naquele momento se lembrou que era também o seu. O que os demais condutores, que se encontravam muito antes na fila para o desvio, desconhecem é que para esse seu colega acometido da síndrome a.a. ( amnésia do asfalto), é que, para ele, o traço contínuo significa isso mesmo: continuar o percurso noutra via e não abster-se de o fazer.
Outros condutores há que sofrem de outra maleita de circulação: precisam de se sentir próximos, como que unidos em perfeita simbiose com os outros. Assim, quando se encontram na estrada, aproximam-se o mais que podem dos carros à sua frente para, deste modo, sentirem aquele “quentinho” no estômago, aquela sensação de conforto inigualável que só uns cinco centímetros de distância da viatura lhes dá.
Portanto se conduzir não tente manter à distância a distância de segurança: ela não será respeitada, e se pensa entrar num desvio conte com altíssimos níveis de a.a. reze a Nossa Senhora do Alcatrão.

Vanessa Limpo.

in "Expresso Sem Mais", edição de 10 de Julho de 2010.

1 comentário:

Cleo Santos disse...

Adorei, como sempre a tua escrita deixa-me a sorrir.

Quanto ao café estou desempregada, portanto é quando quiseres, mas pagas tu hihihi :)