sábado, 8 de dezembro de 2007

O conduto descodificado!

(Natureza Morta, Vincent Van Gogh)
Do enigma do conduto...
Conduto e enigma na mesma frase? Não, não é um erro de óptica ou uma qualquer gralha. Do cardápio de hoje constam mesmo estes ingredientes.
O que é afinal o conduto? Esta dúvida gastronómica tem-me vindo a assolar há já algum tempo e chegou a hora de a descodificar.
O que vulgarmente designamos de “conduto” é o acompanhamento da refeição. Sim, isto porque quando comemos (que geralmente não é pouco, a bem da verdade) e para que a comida não se sinta sozinha escolhemos sempre mais qualquer coisa, o dito “conduto”. E em que consiste este aconchego para as papilas gustativas? (sim porque a maior parte das vezes não comemos o acompanhamento por necessidade mas por pura…gula). Frequentemente, o conduto não é mais que um festival calórico de alimentos totalmente desnecessários para o bom funcionamento do nosso metabolismo. E conseguimos a proeza de aliar este teor “fútil-calórico” aos malefícios que ele nos traz. Senão vejamos: o dito “bitoque” não passa de um verdadeiro pleonasmo culinário: comemos batatas fritas e ainda arroz (tudo hidratos de carbono) com ovos e carne (proteínas). Ou seja, de uma forma rápida e irreflectida vamos engordando o colestrol, comendo “mais do mesmo”. Legumes, vegetais? Como? Isso não faz parte do menu…onde é que já se viu deglutir algo que faça realmente bem ao organismo? Seria um atentado à bela da “patanisca” ser servida sem ter como “vizinho” uma belo arroz de feijão ou a singular “febra” (só ela merecia outra crónica) sem a sua batatinha e o que seria de um bife do lombo sem o tradicional champignon? Bom, seria no mínimo…. saudável!
Mas o mais extraordinário é que a este lento “homicídio” involuntário a uma dieta saudável, juntamos ainda a pièce de résistance para “arrematar” (expressão que tão querida me é) que não é mais do que a sobremesa. Ora a sobremesa poderia ser fruta e por vezes doce. O que fazemos nós? Exactamente o inverso. Um português não “passa” sem a sua mousse de chocolate (a de manga é para “inglês ver”) ou o “doce da avó” (de quem é que permanece para sempre outro enigma).
Terminada que está a refeição prepara-se o “digestivo” (a ogiva nuclear por excelência no já derrotado estômago). Resta-nos a digestão e esperar pelo acepipe seguinte. E aí o ritual repete-se. Que mais é isto senão uma perfeita “pescadinha de rabo na boca”?
Vanessa Limpo


in "Correio de Setúbal", edição de 4 de Dezembro de 2007


2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei, simplesmente adorei...ta fantastico miga...mas claro q vindo de ti n s podia esperar outra coisa...bjinhos

Mari disse...

Não sei se sabes, mas conduto vem mesmo da margem sul, lá mais por baixo, nos alentejos...e mais, também daí surgiu o apelido de família "Conduto", ah pois é, conheço um senhor que tem esse apelido,lol.
Só tu mesmo pa ires buscar tais coisas :)
Bjufas MJGodinho