Pegar ou largar?
A resposta a esta pergunta pode encontrar-se nas próximas linhas (ou então não será bem a resposta, mas somente uma tentativa de pegar neste assunto que me assola há vasto tempo).
Se há povo que pega somos nós. Nós pegamos em objectos, claro, sendo fiéis ao sentido primeiro do termo mas por que parar aí se podemos pegar em tantas outras coisas. Nós pegamos até nos horários: “A que horas pegas amanhã?”. Ora como é que se pega no “Amanhã” desconheço, contudo se fosse a “ele” não sei se gostaria de ser pegado assim sem dar autorização.
No entanto, vamos mais longe ainda, contudo, chegando a pegar até em nós: “Olhe, Dona Dolores, peguei em mim e fiz-me à estrada”. Num acto de explícito e soberbo contorcionismo, somos capazes do mais improvável, pegando em nós.
Por cá até os vícios se pegam... “e não é que já me pegaste o vício do café logo pela manhã?”ou ainda estados de acentuado torpor físico “não bocejes que isso pega-se!”. Portanto pegar pode ser epidémico, pegajoso, o que parecendo que não, em nada facilita as nossas vidas (a minha por certo não, dado que uma epidemia agora não me calhava nada bem). Pegar é, assim, um acto que pode tornar-se perigoso, por vezes heróico e, amiúde, pouco higiénico. Não se deve utilizar este verbo em vão, os efeitos secundários (que podem ir do simples bocejo à mais alta dose de cafeína) poderão ser nocivos. Eu, por via das dúvidas, não pegarei mais neste tema por muito tempo.
Vanessa Limpo
in "Correio de Setúbal", edição de 2 de Fevereiro de 2008.
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