Numa época em que tanto se ouve falar da falta de hábitos de leitura dos portugueses, é “agradável” descobrir, mesmo que em contextos do mais sui generis que há (ou surreal mesmo, ousaria, mas deixo a vós, leitores, a palavra final) que estes ainda não esmoreceram de vez.
Estava eu um dia destes numa paragem de autocarro (à espera da dita carreira) quando me deparo com um momento de leitura que me deixou estarrecida mas não menos estupefacta com uma pitada de incredulidade à mistura (o que seria da estupefacção sem uma pitada de incredulidade? Não era a mesma, com certeza). Eis que vislumbro uma funcionária da câmara municipal a ler um jornal diário cujo nome não pode ser pronunciado por motivos de ética de concorrência (o facto de não ter visto, de todo, o nome do diário também ajuda, contudo as questões ética suplantam a razão anterior).
Ora, até aqui nada de especial: uma senhora a ler um jornal diário num local público só lhe fica bem, pensa o prezado leitor. Agora adicione a este quadro a seguinte informação: a senhora em questão trabalhava no departamento de recolha de conteúdos de âmbito anti-higiénico, eufemismo para senhora que recolhe lixo comunitário. E o diário que estava ler foi retirado exactamente do local que está a pensar: o designado “caixote do lixo”.
Ora já existia a expressão junk food para designar comida de preparação rápida e de má qualidade nutricional mas ler jornais retirados de recipientes de lixo confere todo um novo significado ao termo junk. Contudo se pensarmos bem inscreve-se numa política de teor ecológico no sentido em que esta (re)leitura não é mais que um reciclar. Estamos portanto, perante uma inovadora tendência “ecológico-cultural”. No entanto, não vá o Diabo tecê-las, pense sempre duas vezes antes de ter a tentação de levar para casa um jornal que se encontra abandonado num banco público. Tenha medo… tenha MUITO medo.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 16 de Fevereiro de 2008.
3 comentários:
Sim sra...mt bem amiga, continuas no auge...estes textos sao simplesmente deliciosos...
e pra comentar, digo-t q ja nao ha nd q me surpreenda...ha q saber reciclar, isto anda tao mau q qq dia ja n ha dinheiro nem pra comprar um jornal...lol...Bjocas amiga.
Bela prosa, muito bem, minha Faneca!
Ja estava com saudades!
Concerteza que era o "Correio da Manhã"... naquele famoso e não menos informativo suplemento de CÚS... sim de tudo ao léu... a senhora estava a ver se era desta que mudava de vida, passava a fazer outras limpezas (não menos badalhocas). Estava a conferir se o seu (dela) cú viria no tal suplemento... :-) Beijinhos e adorei!!!!!
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