Dos Manjericos e águas-furtadas.
“Santo António já se acabou…o S. Pedro está-se a acabar…”. Ora não precisarei de terminar a famosa quadra popular pois todos os leitores já a conhecem de cor.
Os santos populares são, antes de mais, uma época de coesão, de celebração, não dos santos que dão nome aos festejos (quem se lembra de brindar ao santo António nos arraiais? Quem de facto compraria um manjerico fora da época?) mas do anseio de, durante, uns dias adiar-mos, esquecermos ou sublimarmos alguns escombros não resolvidos.
Os festejos surgem, não de uma vontade de relembrar um ícone religioso mas da necessidade que todos sentimos de celebrar-nos, a nós, aos nossos e até aqueles que não pertencendo à nossa galeria pessoal de afectos, se aproximam de nós nesta partilha e troca de luz, som, regada com o sabor das sardinhas assadas ou do caldo verde que anos e anos volvidos ainda continua a fumegar na tigela da nossa memória.
Somos também mais francos, mais puros e autênticos (“iguais a nós próprios” como se diz muito agora) quando nos esquecemos de vestir a farda do quotidiano cujas bainhas se cosem com as linhas do stress, ansiedade e, sejamos francos, alguma insensibilidade.
Embainhando um copo e uma sardinha somos até capazes de rir, fruir os momentos de folia junto daqueles que, curiosamente, ate nos acompanham no dia-a-dia mas que à luz do verde, vermelho e amarelo que polvilham os arraiais, ganham contornos daquilo que sempre se comprometeram a ser – a nossa (melhor) companhia.
Sendo que nunca fui muito fã de alegria com hora marcada, confesso contudo que gosto de observar e misturar-me neste “Natal de verão”, que em si encerra a promessa de um tempo suspenso, mais luminoso e feliz, ou o desejo de nos apaziguarmos um pouco com o cinzento que cobre os nosso dias. Uma certeza fica e a ela brindamos: para o ano há mais! As águas-furtadas da cidade disso são testemunhas e os santos, ali tão perto, abençoam mais uma rodada de folia.
Vanessa Limpo
in, "Expresso SemMais", edição de 21 de Junho de 2008.
3 comentários:
saiba, gostei muito de seu blog, vou incluí-lo nos meu blogs queridinhos. Sou uma brasileira do Amazonas.
eu detesto magotes de gente aos empurrões e sardinhas caras... nem a partilha salva os santos.
ouve lá que jornal é este onde agora escreves, hein?
gaja, tens um desafio no nosso blogue!
Ai de ti que não respondas!!!!
beijinhos
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