“Mas tens a certeza absoluta?”, “Não tenho dúvidas que”, “Com toda a certeza que”. Estas são algumas das frases que mais ouço no meu dia-a-dia.
Todos têm certezas. Absolutas. Sobre tudo e sobretudo sobre todos os outros. Nas notícias dão-nos a certeza que o país se afunda. Na educação temos a certeza que quse tudo está errado e tem de errado. No seio familiar, de certeza que já não se pode ir de férias pois as economias não dão para mais.
Nas conversas de café, nos transportes, nos diálogos que vestem os dias, todos querem imprimir a certeza que estão certos, ou melhor, correctos.
Nada mais legítimo ou humano, Contudo, eu tenho uma opinião que se inscreve mais no campo das Dúvidas que no das Certezas. Foi crescendo comigo ao longo do tempo e transformou-se, qual crisálida, numa postura perante a vida.
Pequena que sou neste cosmos de certeza, ponho o que vejo muitas vezes em causa. Ponho-me causa. E quanto mais o meu microcosmos cresce (que nunca é muito e as dúvidas são fraco adubo) mais diminutas são as certezas. As minhas certezas são Lilliput, as minhas Dúvidas são Gulliver. Golias e David. Como vos aprouver.
A vida e o amadurecimento trazem-nos percursos tão diferentes, trilhos que nos surpreendem. Fazemos o que dissemos nunca fazer lá no Montanha da nossa Infância (nave mãe de todas as Certezas), dizemos o que nunca ousaríamos dizer. Por vezes, agimos exactamente de forma inversa à que sempre acreditámos que iríamos agir.
As minhas certezas ficaram, tal como a minha infância, num canto pequeno da minha memória, em caixas amontoadas de maniqueísmo (primo direito da infância) e amontoados de Absoluto.
Não sei tudo. Tenho cada vez menos certezas, afinal a bitola que uso é de fraco espectro: o (meu) mundo. Não me importa que os que se vestem de Certeza digam que estou errada. Não me incomoda errar, voltar atrás. A meu ver são todos sintomas de autocrítica, reflexão.
Quero coisas diferentes em momentos diferentes. Sou permeável ao mundo.
E essa é a minha única certeza.
Vanessa Limpo
in "Expresso Sem Mais", edição de 22 de Maio de 2010.
1 comentário:
Excelente texto!!
E sabes que só digo isto quanto penso e sinto isto...
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