Houve um tempo que a minha janela se abria para um terraço de pedra, jazigo de branco sem fim, que é o branco mais forte.
Da janela via o terraço em frente. À esquerda encontravam-se fecundas as figueiras de Setembro - imponentes, robustas de figo e do sumo da terra.
À direita erguia-se um campo que balançava, hesitante, entre os braços do cultivo árduo e a aridez de sementes esquecidas pelo ar. O mesmo ar que me transportava para a casa vermelha ao lado. Cheia de janelas: uniam-se em grupos de três por andar.Com medo de se sentirem sozinhas, talvez. Janelas vizinhas da minha janela. Sós na sua correnteza vermelha - de cor e de Sol que as banha todas as manhãs.
As paredes são rugosas, duras como a aldeia que as abraça. O telhado tem fome de telhas e a chuva ri-se dele em noites de Inverno.
O sótão bebe a chuva e recebe o cheiro bafiento das tábuas por tratar.
No campo, os gatos brincam com as flores, as abelhas e uma meia caída no chão: cascata de brincadeiras das vizinhas mais pequenas que se divirtem a lançar a roupa ainda assustada com a última lavagem na máquina.
Volto à minha janela. Volto a mim.
Houve um tempo em que a minha janela se abria para o terraço,o Branco, as crianças, o soalho e as outras janelas dançantes.
Houve um tempo que a minha janela se abria, se atirava em precipício para as vidas dos outros.
Rente aos Outros, lá no seu parapeito curioso e branco.
4 comentários:
Don't be sad
Não estou, nem estava quando escrevi esse texto, é apenas e só ficção :)
Não é bem assim, afinal eu também me empoleirei nessa janela...
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