sábado, 21 de fevereiro de 2009

Naperon: rise & fall

Haverá objecto mais simbólico da decoração dos idos de sessenta e setenta (trazendo ainda o seu bolor para a década seguinte) que o mítico naperon?
Baluarte do interior design da época, não havia lar que o não tivesse hasteado em mesas, cómodas, alastrando-se a praga até a outras aquisições de última geração para a altura: a saber, o televisor
Televisor em plena década de setenta sem naperon que o acompanhasse era como se tivéssemos os Dupond & Dupond sem um deles, ou Bucha sem Estica, como se por um processo de osmose (entre o dito aparelho e o puro mau gosto) se fundissem e se tornassem um só.
O que é um naperon afinal? Esta reflexão já merecia destaque. Ora um naperon – francesismo arcaico não é mais que um…guardanapo…um guardanapo gigantesco que cobre alegremente (para ele, não para a mesa, por certo, eu se fosse mesa, garantidamente não gostaria de tê-lo a cobrir-me, …) móveis.
Já sei que vão dizer: "ahh mas é tão bonito!" (dirão isto se tiverem mais de quarenta e cinco anos ou se caíram num caldeirão de naperons em bebés e agora não querem outra coisa) ou então: "mas aquilo usava-se para tapar o pó, para o esconder".
Mas todos sabemos qual era a sua verdadeira função, sim eu descobri-o há muito. Este pano bordado ou rendado, de tez pálida mais não servia para receptáculo de outro "canône" da decoração kitsch: a Terrina- esse pérfido objecto que tantas dores de úmero, rádio e cúbito incluído me deram.
A terrina, tal como o naperon, foram feitas para nos fazerem sofrer (a uns mais que outros, é certo), a pimeira pelo peso, a segunda pelo efeito (in)estético. Ambos desprovidos de qualquer funcionalidade prática. Sim, a terrina servia para se colocar a sopa. M-E-N-T-I-R-A!! A maior fraude de sempre! Em quase vinte anos que tive de conviver com uma ou duas nem uma única vez foram usadas. Mas, lá está, "ficavam tão bem". E "davam muito jeito". Sim, sobretudo ao pó que como se sabe está sempre à "coca" de novos hospedeiros para se alojar.
Mas como em tudo, há sempre a Glória e a Queda. E com os anos 90, veio, finalmente, a derrocada de ambos os objectos. Com o advento das novas tecnologias: computador, plasmas, LCDs e afins, deixou de haver espaço para o naperon e su muchacha, la terrina. A mãe-tecnologia lá sabe o que faz.
"Ámagalhães"!


Vanessa Limpo

In "Expresso Sem Mais", edição de 21 de Fevereiro de 2009.

2 comentários:

Angelo disse...

AH AH! O naperon, coisa mai' kika!
A mim sempre me fez espécie aqueles que se punham nuns cadeirões ou sofás! Ou, pior, fazer de uma tapeçaria horrorosa um quadro! CREDO!!!!

J. Maldonado disse...

Por acaso semprei achei esse elemento decorativo absolutamente inútil e kitsch... :)