terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Osteoporose do ofício...

Digo osteoporose porque de facto não se tratam de "ossos do ofício". Os ossos quando bem alimentados são saudáveis e não nos dão senão pernas para andar.
Todavia estes são os tempos da verdadeira deterioração dos hábitos, costumes e sobretudo valores.
Já sei que este discurso é "disco riscado" mas it's my blog and I write what I want...
Que a Educação vai de mal a pior já se sabe, que as guerras entre ministério e professores tem já barbas (e cada vez mais brancas pois os nervos que nos assolam são cada vez mais frequentes) também não constitui qualquer novidade.
É cansativo, frustrante, desgastante ser-se professor nos dias que correm. Já nem aqui vou dissertar acerca dos recibos verdes, da discriminação e desautorização e descrédito que a classe como um todo enfrenta.
Particularizo. Pois como diz o ditado (passe-se a redundância) "cada qual sabe de si...(...)". Este ano dou aulas nas AECS (actividades de enriquecimento curricular), já o ano passado, a par com explicações e formações (sim que quem já anda nestas lides há uns aninhos sabe que ter-se apenas uma actividade dentro da área é como tentar vender areia num deserto) exerci esta função.
Se ser-se professor é hoje em dia encarado como profissão alternativa a outra qualquer que se poderia ter tido se se tivesse tido "cabeça" para as ciências ou a Informática (disciplinas essas "sérias" e que além de "estatuto" conferem credibilidade profissional e social) ser-se professor de Inglês (disciplina não incluída no pedigree da profissão) é estar-se no grau zero da escala, numa espécie de ofício que existe para "tapar buracos" até porque se neste país para além de treinadores de bancada, o que mais abunda é, igualmente, professores de inglês e línguas em geral de pacotilha.
Formei-me em filologia inglesa e francesa porque quis, porque não me via a fazer outra coisa, motivada veja-se bem por uma coisa antiga mas a meu ver bonita que se chama...vocação. Vocação é aquilo que existe quando não nos vemos a fazer outra coisa que nos possa trazer prazer, satisfação, e uma sensação de bem estar única. Pelo menos é esta a minha verdade e é por ela que me pauto.
Não segui humanidades para fugir à matemática como os letrados (engraçado como as letras estão, de facto, em tudo, irónico, no mínimo) em coisas "importantes" como os engenheiros, matemáticos, cientistas, etc. Foi uma escolha pensada, reflectida, fruto de um amor à escrita, à leitura, à poesia, à língua, ao navegar dentro do Pensamento e da sua subjectividade que só quem está dentro do ramo (ou que não estando, a a ele lhe reconhece o seu valor) consegue compreender.
Por isso custa muito...custa estar sete anos depois do ponto de partida, a ter de me aborrecer com (até) as pequenas coisas.
Chego à Bobadela à hora do costume, dirigo-me à escola, à sala de aula que por acaso até nem é numa escola primária porque as escolas primárias da zona não tem espaço para as actividades e então são realizadas numa escola 2+3 que como qualquer pessoa de bom-senso entende, não é o local adequado para se trabalhar com crianças de uma faixa etária muito inferior à população "local".
Mas também a maior parte das aulas não são dadas num pavilhão comum de salas de aulas, não...porque a própria escola 2+3 que é sede de agrupamento, não possui salas suficientes para o efeito. Dou aulas no...pavilhão de educação física que é excelente (honra lhe seja feita) para...educação física.
Tem, por acaso, duas salas (frias) que servirão, penso seu, na sua génese para as aulas teóricas de educação física. Não são suficientes nem adequadas para a prática de línguas estrangeiras ou educação musical. Nem o ATL da escola primária onde dou outras aulas deveria ser como sala de aula mas também acaba por ser essa a sua função. Crianças a montes, disposição incorrecta e confusão nas cabeças infantis que não destrinçam ainda bem o termo "ATL" de sala de aula de inglês. Inglês é como um ATL...pode-se tudo...
Mas nem foi isso que me fez "saltar a tampa": foi tout simplesment o facto de, mais uma vez, eu chegar ao pavilhão gimnodesportivo com frio, com as varetas moribundas de tanta chuva do meu chapéu, irritada já com o típico atraso do autocarro que traz as crianças das suas escolas primárias até à sede do agrupamento, e ter, de novo, a porta fechada.
Fevereiro, chuva, vento, frio, atraso permanente. E eu cá fora...A empregada tinha aberto a porta mas fechou-se com o vento...não lhe atribuo a culpa...deveria haver uma outra porta para os professores entrarem já que as existentes apenas se abrem por dentro e não há ninguém sempre presente para a abrir. Desorganização, sistemas que se criam apenas para encher o olho dos ministérios, projectos bonitos em papel mas que no fundo são mero chouriço que serve para encher as horas em que os pais não podem estar com os filhos porque neste país estar com um filho mais que 1 hora por dia é "luxo", não deve ser preciso e, por isso ,eles estão tão bem comportados.
Se fosse feito com a seriedade que lhe é devida, planos exequíveis seriam feitos, cumpllicidades efectivas entre os diferentes agentes educativos seriam diligenciadas e verdadeiros progressos seriam consegidos.
Assim eram 9h e 20 da manhã já e estava eu e os meus alunos com idades entre os 6 e os 9 anos ao frio, à chuva, todos como o Outro...à espera de Godot.

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