Hoje foi um dia bom...cheio...permiti-me dar-me tempo, ao que sou e ao que gosto.
E dando espaço ao tempo para que ele nos inunde de si, tudo corre melhor.
Vistei as máquinas e plataformas do ginásio. Tinha saudades. A instrutora hoje acertou no meu nome. Para ela, eu era Rita.
Tudo bem. Gosto de Rita. Como diria o Bruno Nogueira, é um nome "fofo"...daqueles em que dá gosto mastigar as sílabas. É curioso pois já é a segunda vez esta semana que me trocam o nome. Não me preocupa. A identidade vai para além do nome. Muito além.
Gosto da forma como a nova instrutora dá as aulas. Percebe-se que gosta de as dar. Bastam cinco minutos a um colega de profissão para farejar o suor da entrega no mister. Aos alunos, talvez um pouco mais, mas acabam sempre por chegar lá.
Gosto de ser aluna, sempre gostei, daí ter sempre desejado ser professora.
A base do ensino é a aprendizagem. Gostamos tanto mais de ensinar, quanto mais gostámos de aprender. E, por isso, gosto tanto de me sentir aluna e fazer os exercícios que me são propostos.
Deixo as máquinas, saio e cumprimento a gerente do ginásio. Já tinha notado a minha falta. "Muito trabalho, não é?"... "Sim, muito, todo...".
Sigo o caminho. A A. liga-me. Café ali por perto e duas mãos cheias de (boa) conversa. A A. estava bem-desposta hoje. Gosto de a ver assim. Gosto de ver os que Gosto bem. Sem pretensiosismos de querer parecer "boazinha".
Falámos disso também...das pesoas "boazinhas".
Já falava a grande Sophia nas "pessoas sensíveis"...essas que vestem mantos de bondade e sorrisos a metro e que, são no fundo, tão hipócritas, invejosas, ternas, crúeis, doces, tão humanas como todos nós.
Não acredito que as pessoas são, por definição, "boazinhas". As pessoas, são per si, humanas e a humanidade pressupõe imperfeição, falha, e erro.
Não estamos todos formatados da mesma forma. Não nos regemos todos pelo mesmo código deontológico, é certo. Mas todos somos muito iguais na nossa incompletude.
Não concordo quando se diz que a vida dá-nos apenas o que conseguimos suportar. Balelas. Tenho um amigo meu que esteve seis anos a viajar entre a sua casa e o IPO, a trazer e levar o seu filho-menino-ainda, de um local para o outro. Carregado de Dor e Mágoa. Até ao Fim. Ao esperado e jamais desejado. Àquele fim que ninguém gosta de falar, pois não gostamos muito de levar com a Vida na cara. No corpo. E, sobretudo, no coração. Mas é natural. Afinal, é uma atitude eminentemente...humana.
Ainda assim a Vida vem, acontece.
O A. teve muito mais do que aquilo que deve ser suposto ter de suportar. Não me venham dizer que era a Vida a dizer-lhe que conseguiria aguentar aquela Dor. Poderia ter aprendido de muitas outras formas.
Mas assim é a vida. É natural que assim seja. Afinal a Vida é injusta. E quem disser o contrário, muito provavelmente estará a querer vendder algo.
Tenho uma grande amiga que sofreu uma desilusão laboral. Uma vez mais. Não merecia. Não é justo para ela. Trabalhou com o seu suor e a sua seiva interior. Merecia brilhar pois tem luz para fazer tudo o que quiser.
Sente-se mal. Frustrada. Lesada nas suas expectativas e talvez até nas suas capacidades cognitivas. Põe-se em causa. Esta triste. Ainda ficará triste uns dias. É natural e talvez até recomendável. Afinal é humano lamber feridas até sararem. Varrer, por camadas, a poeira que fica cá dentro. Até que o Alento renasça em nós.
As pessoas não são todas queridas, meigas, doces. Como não são, no seu todo, maquiavélicas, temíveis ou más. Mas há pessoas más. Como há pessoas feitas de doçura e disponibilidade interior para os Outros. Ambos os tipos são imperfeitos.
Porque humanos.
Porque imperfeitos.
Porque...Pessoas.
No meio de tudo isto, há que deixar a vida entrar. E, de preferência recebê-la escancaradamente. Descaradamente. E se é para viver, que seja - como diria o outro senhor - não para embrulhar mas para "viver já".
1 comentário:
Eu costumo dizer, Vanessa, que só é mesmo compale a pena, que só é complicado viver quando já não se consegue falar sobre a Dor, quando ela toma conta de nós, toma espaço e é impossível nos libertarmos desse peso. Nessa altura, as palavras das outras pessoas, sejam elas quais forem, passam-nos ao lado. Nessa altura é inútil ouvirmos que vale a pena viver, que tudo tem sentido, ou «desligarmos» do sofrimento e mantermo-nos à tona, que é o que sempre nos recomendam. A asfixia dessa conclusão é tenebrosa. Acredita.
E não estou a falar de uma desilusão laboral, como deves calcular.
Aprendemos as coisas como está destinado a aprendermos. Pela nossa consciencialização das mesmas.
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