A Dona L. trabalha lá na escola. É um daqueles seres quase invisíveis. Não pelo o espaço que ocupa (o do seu coração não cabe no nosso espaço, o espaço teve de se reinventar para saber acolher tanta candura) mas pelo o trabalho que desempenha.
Limpa, varre, colhe o lixo do chão e dos dias.
Sempre com um sorriso. Sempre educada.
Custa-lhe fazer o que faz, não porque a envergonhe. Desde cedo soube o duro preço que ganhar o pão da vida tem e a rudeza do que faz não se confunde com o brio com que se lhe dedica. Trabalho é substantivo comum para ela. Abstractos talvez só os tempos livres.
Desço e subo as escadas. Passo pelos corredores. Lá esta ela, sentinela de chão e paredes. É daquelas pessoas que, num olhar, sabemos ler de um só trago. Não tem um pingo de maldade em si.
A vida foi e é dura para ela. Não se queixa das dores nas costas que deve sentir, das horas a fio que trabalha, do esforço físico que o seu trabalho implica.
E, por isso, ganhei o meu dia quando me disse: "Olá, olha é a professora simpática, como está?".
Digo-lhe que o seu nome é o nome que daria a uma filha. E todo o seu rosto se ilumina. Sorri. E a sua doçura, sorri lá dentro, com ela.
1 comentário:
Estas pessoas aparentemente «invisíveis» têm muito que se lhes diga...
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