sábado, 28 de novembro de 2009

O papel do Natal

Para quem pensa que venho aqui falar sobre o espírito natalício (seja presente, passado ou futuro numa perspectiva “Dickensniana” que aqui ficaria muito bem e daria não mais mas algum estatuto a esta crónica) ou das prendas, das luzes e demais decorações alusivas à quadra que se aproxima, desengane-se. Não vou versar sobre nada disso.
Vou falar de algo que a cada ano que passa, ganha maior relevância na lista de compras natalícias, algo que apesar da sua inegável utilidade, quando associado à temática do Natal, ganha um estatuto de adorno. E, como sabemos, o adorno é, por definição, algo…como dizê-lo… inútil, supérfluo.
Falo, obviamente, do papel higiénico com motivos natalícios. E já sei que os fãs da “Hello Kitty” e desenhos animados afins que depois são explorados até à exaustão (tanto decorativa como económica) estarão contra esta minha visão detractora do papel higiénico natalício. O fãs e consumidores ávidos “Kittyanos” certamente têm uma “Kitty” natalícia em cada divisão da casa e davam os dedos mindinhos das mãos para que houvesse um papel higiénico da “Kitty” (se não houver mesmo!).
Todavia, analisemos esta problemática a fundo: o papel higiénico tem uma função clara, específica e na maior parte das vezes, eficaz. Regra geral nem nos lembramos da sua importância no nosso quotidiano, senão quando está em falta (é o papel higiénico e os fósforos, mas isso ficará para outra altura, mas pensem nisso...casa sem fósforos…).
Ora se não nos lembramos que o usamos tanto é porque é suposto não nos lembrarmos, afinal está ligado a algo que não é agradável mas que tem de ser feito, daí ser designado de necessidade. Não há necessidade, contudo, de decorar com motivos natalícios, cores, ou padrões algo que terá menos tempo de “vida” que uma Efémera. Comprar rolos de papel higiénico dessa natureza denigre, viola até o estatuto utilitário e altamente perecível que esta ferramenta de limpeza humana acarreta. Já para não dizer que não faz absolutamente qualquer sentido.
Numa época de contenção, em que facilmente se entra em overdose de uso de cupões, talões de desconto e “outras complicações”, creio ser absolutamente dispensável o recurso a algo que não só é mais dispendioso como não abona nada pelo espírito do Natal. Não creio que o “Pai Natal” fique mais orgulhoso por isso, ou que gostasse de ver o seu nome associado a algo cujo propósito é ímpio.
Já sei que me vão dizer que essa premissa é ridícula pois o “Pai Natal” não existe. Mas ridículo por ridículo, prefiro acreditar no efeito positivo que a personagem tem entre as crianças que na utilidade de um rolo de papel forrado a vermelho e com estrelas a brilhar. E que irá para o lixo daí a escassos minutos.
Ridículo, não?


Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de 28 de Novembro de 2009.

3 comentários:

Angelo disse...

O papel higiénico da Hello Kitty existe. Ó se existe.
Tenho 3 rolos ali na despensa. Um já marchou, numa emergência!

Anónimo disse...

Sempre a deixar-me pensativos com as tuas crónicas...

Nokas disse...

Essa é uma das coisas que ainda não vi...mas pensa que é apenas um objecto decorativo, provavelmente não o usam e guardam para o ano, hehe...