sábado, 9 de janeiro de 2010

Portugal a banhos...

O Natal já passou, o Ano Novo chegou e com ele um velho hábito que continua, ano após ano a surpreender a minha capacidade de entendimento.
Quando falta o gás em casa, não raro poderemos assistir a um diálogo aceso entre suponhamos, o “Cajó” e a “Sandra Isabel” sobre a diminuta capacidade de raciocínio da segunda por não se ter lembrado de trocar a “bilha” e como tal, terem agora de tomar banho com água gélida. E quem diz este casal, poderá transpôr o mesmo para o pai (Zé Tó, por exemplo)com a filha (Micaela Sofia) que passa demasiado tempo sob a água tépida que o banho (que demora aproximadamente o mesmo tempo que a elaboração do penteado da doutora Manuela Eanes) lhe proporciona e, deste modo, gasta demasiado gás, precioso butano que será útil para os restantes banhos familiares.
Isto não causa surpresa, o que me transcende, contudo, é a mesma temperatura de água que em casa nos faz espécie e nos traz desconforto numa banheira ou poliban, quando transposta para o oceano Atlântico transmuta-se e passa a ser agradável e até quiçá convidativa. Como é que seis ou sete graus (se tanto) de infindáveis litros e litros de água, intercalados com ondas de não sei quantos metros espalhados pela praia se tornam, subitamente, convidativos ultrapassa-me, todavia todos os anos assistimos a inúmeras reportagens sobre as centenas de pessoas (banhistas, perdão) que se deslocam à praia de Carcavelos (e outras pelo país) para tomarem o primeiro banho do ano.
Entendo que se queiram lavar e até lhes fica bem. O asseio é algo muito bonito e epide(r)micamente saudável. Quanto mais praticado pelo maior número de gente, tanto melhor.
Ora segundo me é dado a compreender esses “banhistas” querem celebrar o novo ano, expiar os males e receber assim –limpos- de braços (e hipotermia) abertos um novo ciclo que se inicia.
Por muito que pense, analise e reflicta não vejo como ir a correr desenfreadamente, juntamente com uma multidão, em direcção a água gelada possa constituir um momento agradável de celebração de um novo ano. Poder-se-á tentar expulsar o vírus da famosa H1N1 ou maleitas afins? Não sei se essas pessoas sabem, mas os choques térmicos são geradores e não propriamente inibidores de gripes. Podem não contrair H1N1 mas de uma influenza de qualidade dificilmente se livrarão.
Quanto a mim, prefiro jogar pelo seguro e líquidos no ano novo, só o champagne que borbulha na taça. Perdão, na flute, que o ano novo requer outra linguagem. Noblesse oblige.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de dia 9 de Janeiro de 2010.

2 comentários:

Nokas disse...

A água tá quentinha nesta altura!!!
;)

Fernanda disse...

Vamos ser francos: quem toma banho no 1º dia do ano (ou no 2º) nas praias de Portugal é um idiota. Um deles irmão do meu avô. Depois venham dizer que a família é o melhor que a gente tem...