sábado, 24 de abril de 2010

Benfica e Bairro Alto

Uma ida ao Bairro Alto. O que vem antes?
Todos sabem e não temem dizê-lo: uma “jantarada” - sendo que o uso do aumentativo abarca em si a noção de abundância calórica e total descontrole alimentar –num dos restaurantes do dito spot de lazer e entretenimento.
Ora um jantar parece ser algo de fácil gestão. É preciso apenas confirmar o número de convivas, marcar dia, hora e local. Após a reserva do restaurante, tudo fica resolvido.
Certíssimo. Apenas nos estamos a esquecer que essa marcação aconteceu em Portugal, mais precisamente numa noite de jogo. E mais precisamente ainda numa noite em que o país não só pára como entra em arritmia colectiva, ou seja, era noite de jogo do “Benfica”. E, como é do conhecimento geral, quando se trata de um jogo do Benfica, o mundo, tal como o conhecemos, pára. Congela. Muitos cérebros entram numa espécie de torpor ou “freeze frame”. E o processo de “descongelamento” demora entre 7 a 24 horas (isto se o resultado for negativo para a equipa encarnada, dependendo ainda do número de golos que se sofre e contra que equipa se perde, se o resultado for positivo, o estado letárgico só passa no campeonato seguinte).
Quando o Benfica joga, até aos restaurantes é permitido esquecerem-se que já tinham feito uma marcação para outro grupo. Ao Benfica tudo é permitido. Até que um grupo que nem tinha reservado mesa, assista ao jogo em detrimento do outro que já tinha previamente marcado a sua degustação.
Mas ainda conseguimos ir mais longe: ainda somos capazes de quando confrontados com esta situação de clara negligência, de pedir ao grupo que chega à hora combinada para jantar no local que tinha reservado, que espere mais um pouco. A falta de vergonha na cara é como as viagens em classe executiva: não é para quem quer, é para quem pode.
Todavia, na “noite “do “Bairro “não encontramos apenas destes episódios caricatos. A regar a noite ainda temos no menu , níveis de oxigénio rarefeitos pela concentração de pessoas por metro quadrado, encontrões à la carte, acompanhados de subtis mas altamente eficazes pisadelas.
Para culminar, ainda podemos ser bafejados com alguns decilitros de cerveja que poderão vir a decorar os nossos casacos e desenvolver dores nos pés que podem durar até 3 dias, visto ser da praxe estar 2 a 3 horas em pé à porta dos bares que se encontram lotados.
Tudo isto de forma rápida (em duas ou três horas consegue-se já ter pelo menos duas nódoas nas mangas e uma pisadela em dois dedos dos pés), fácil e a preços competitivos. Um”lux” que de “frágil” nada tem.

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", ediçao de dia 24 de Abril de 2010

1 comentário:

Fernanda disse...

Mas repara como ninguém roncou para ti, como no Martim Moniz...isso é que era a cereja no topo do bolo!
"Jantarada" é uma palavra linda, sabes? Um português não faz "lanchinho" como o brasileiro, um português faz jantaradas...é mesmo nosso!