sábado, 17 de abril de 2010

Palco(s) roubado(s)

(...) Mas naquela tarde não tive pressa. Não tinha pressa do giz no quadro.

Tinha pressa de gente. De palavras.

A palavra urgia. A escrita premente, permanente.

Não devemos atrasar as palavras, sabias?

Elas estão à nossa espera há tanto tempo...

Pacientes, desfiando,

tecendo os seus fios.

Penélopes demoradas, suspensas,

cansadas na sua corrente.

Hoje cheguei cedo, contudo era já tarde.

Tarde para tudo o que queria dizer.

A sala estava fria:

Um caracol sugava a parede,

porto de abrigo de costas doridas.

Entrei,

voltei a sair.

Aquele palco já não era meu.

"Fora de cena quem não é de cena!".

4 comentários:

Patrícia T. disse...

Hum, conheço isto de algum lado... Agora que li o texto (é curioso como a percepção do que "lemos" é diferente da do que "ouvimos") ainda o acho mais extraordinário! Há momentos na vida em que estamos inspirados, e este foi um deles, Amiga!
PS: eu tb acho que "não devemos atrasar as palavras", if you know what I mean...

Vanessa disse...

Como te compreendo e concordo contigo eh eh...e por falar nisso...ando a tratar de umas certs "fotos"...if you know what I mean :)

alma-em-4-corpos disse...

muito, muito bom!!!! saltar fora quando já não pertencemos dentro ...

paulo disse...

isto é produção limpa, imagino! assim sendo, é produção da boa. gosto. achei curiosa a imagem do caracol, mas é a pressa da gente e das palavras que mais importa! às vezes, chega-se sempre tarde, até à vida! e parte-se sempre tão cedo...