quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Não mais que dezasseis anos...

Ela estava sentada à espera do metro. Não tinha mais de quinze ou dezasseis anos. Olhei para ela porque chorava.
Era jovem. Não mais que dezasseis anos. E chorava.
Chorava daquela forma de quem se entrega à dor, se esvazia de si e a água do seu peito tinha de sair. Não havia outro escape. Outra solução. Outro Norte.
Ela desaguava dor. Não mais que dezasseis anos.
Entrou no metro. Continuava a chorar. Sem controlar em contenção, sem conseguir parar. Estava em pé, cabeça baixa, eixo certo para a lágrima correr. Não olhava em volta. Quase ninguém deu por isso.
Não mais que dezasseis anos.
Senta-se de seguida, como que a procurar a melhor posição para a dor (quem disse que era deitada?). Ela sabe -tenro peito dos seus dezassesis anos- que quando dói, não estando parada, acalma o ardor que corre lá dentro. Lá no âmago de si onde a Dor se centra, lançado os seus tentáculos corpo fora, peito fora, rosto fora.
Ela chorava, copiosamente, sentada, envergonhada. Não mais que 16 anos.
Ela sabe já o quanto a Dor dói. Levanta o rosto para ver se no meio desse desaguamento de si para fora, se não se enganou na estação de metro. Quis saber se o ritmo do seu descontrole não se descompassou com o rolar dos carris.
Não. Ainda não era a sua paragem. Baixa a cabeça. Volta a chorar. Pára um pouco e volta, quando lá dentro percebe que é irremediável, embora ainda não acredite que está a acontecer. Dilúvio de si, de novo.
Sai do metro. Estação Alameda. Sei porque saí atrás dela, segui-lhe os passos. Pelo menos até saber que iria chegar à superfície e que a multidão da cidade a protegeria. De si mesma.
Lá ela seria apenas uma miúda cheia de pressa a olhar para o chão. E aí sim, sob a luz lá fora, cheia de cadernos e livros a envolver-lhe os braços e pesar, choraria à vontade. Afinal ninguém vê.
Não tinha mais que dezasseis anos.

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