quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"New Emigra"

Com o Verão vêm as férias e agora que estamos no pico de Agosto com ele vem um espécimen que nunca está em vias de extinção, a saber: o “emigrante” ou em português corrente, o “emigra”.
Ora o “emigra” caracteriza-se por uma série de características da nossa mentalidade e cultura que se materializam nesse ser único e cada vez menos raro (crise oblige).
O “emigra” do anos 60/70 era conhecido por incorporar toda uma série de esterótipos que associamos ao Português mediano: o bigode de quase 1,5m com uma espessura respeitosa que dava para aquecer os mais friorentos nas noites frescas de Agosto. Albergava em si uma massa gorda que bem partidinha às postas dava para alimentar Somália e meia e não resistia a ir comemorar o seu regresso à Pátria mãe com idas às feiras, romarias, procissões e bailaricos de aldeia. Tudo muito bem regado com vinho tinto e uns quantos quilos de couratos. Emigrava porque em Portugal as condições de vida não lhe permitiam sustentar a sua “Maria” e os seus 3 a 4 filhos.
Hoje o “emigra” é diferente. Caracteriza-se por ser jovem, geralmente na casa dos vinte ou trinta e poucos. É licenciado, casou-se há pouco tempo, ou ainda é solteiro e como tirou um curso que basicamente não lhe trará qualquer perspectiva de futuro ou estabilidade (mesmo que seja aquilo que sempre sonhou fazer) económica, emigra não para melhorar a sua qualidade de vida mas para tentar tê-la.
O seu projecto de vida não passa por trabalhar na Suíça (por exemplo) durante 20 ou 30 anos e depois voltar a seu lugarejo natal e construir uma vivenda de 7 ou 8 quartos, com jardim e garagem para o seu Audi ou Mercedes e ainda com um telhado de telha preta (porque como toda a gente sabe cá em Portugal no Algarve neva muito de Inverno). O “NE” (new emigra) sabe que o seu futuro passa por continuar lá no “estrangeiro” se quiser continuar a completar a sua nova dentição a preços de amigos, ou a ver o seu filho nascer num hospital em que não façam a sua mulher sofrer 48 horas antes de a levar para uma cesariana.
Sim o “NE” sabe com o que pode contar lá mas sobretudo tem consciência do que não poderá contar se voltar para cá. Se é um “pária” por isso? Se não gosta do seu país? Claro que não. Até porque a língua, a comida, o clima e a hospitabilidade portuguesas são únicas. Apenas sabe que apesar de viver perto da neve e das renas, o “Pai Natal” não existe.


Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", ediçao de 29 de Agosto de 2009.

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