sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A minha quinta dava uma novela indiana...

Ultimamente tenho assistido a duas febres. Como que uma espécie de surto epidémico (e não, não vou falar do vírus H1N1), que devasta tudo o que encontra, não deixando lugar na caixa craniana para mais nada (não, também não é sobre a prestação surpreendente do SLB esta época).
Falo de “Farmville”, um jogo virtual que toda a gente (ou quase toda, incluindo eu própria mas felizmente consegui obter o antídoto a tempo para me desligar) joga, jogou, vai jogar e depois, como em todas febres/vícios irá deixar. Ou então…não.
Sei que a ideia de plantar, semear e colher nabos, abóboras, arroz ou dar de comer a patos, cavalos, coelhos e animais afins sempre foi o sonho escondido a realizar de todos nós. Quem nunca pensou em ordenhar ou colher frutos como se não houvesse amanhã que levante a primeira maçã acabadinha de colher.
E assim, e porque me deixei, ainda que por parco tempo, viciar lá dei comigo a olhar para o relógio e sentir que estava atrasada para tratar da minha quinta e dos meus animais, e que se me demorasse muito o meu universo agrícola se expandiria em podridão. E comecei a considerar que estava já a entrar na esfera da psicose quando percebi que falava de couves, feijões que como dizê-lo de forma simpática e indolor: NÃO existem. São virtuais! Não apodrecem porque…não existem…
Mas e porque esta não é a única psicose colectiva do momento, há que mencionar a outra, a que preenche as conversas no metro, nas escolas, nos jantares e demais eventos sociais. Portugal pára para ver uma novela sobre a cultura Indiana. E tal, como aqui há uns anos atrás com uma novela sobre a cultura marroquina, oiço conversas sobre o fascinante mundo Indiano, sobre as roupas, as intrigas e a cultura do dito país. E dizem que a novela é óptima.
Não posso opinar muito pois não vi mais que cinco minutos do enredo. Mas do que sei, continuam a existir amores impossíveis, famílias ricas e pobres (que tomam pequenos-almoços que nem no "Chá da Lapa" se devem fazer), roubos, doenças a explorar e mal-entendidos que levem a pensar que o herói morreu quando afinal até estava bem vivo. Fascinante! E diferente!
Apenas algo me intriga: o país pára pelo fascínio com a cultura, gastronomia e costumes indianos mas quando digo que moro na Mouraria…oiço sempre o mesmo tipo de comentários que terminam, invariavelmente com este remate: “Indianos? E não tens medo?”.
Isto sim, dava mesmo um filme…indiano.


Vanessa Limpo

in "Expresso SemMais", edição de 10 Outubro de 2009.

2 comentários:

Angelo disse...

O teu final está muito bem dito, sim senhor! E é verdade!
E também é verdade que as novelas são basicamente todas iguais...

Essa do Farmville... Já sabes o que penso! E nem sequer alguma vez lhe toquei!
E, mais, retirei quaisquer actualizações dessa cena na minha wall! Fónix!

Fernanda disse...

Em relação ao Farmville, acho que é igual a tudo o que é jogo: playstation não é diferente, a qualidade é que é superior. Não creio que é seja um sonho escondido plantar e colher (para mim, citadina a 100%, não é), mas desde que soube que alemães deram dinheiro aos pais da minha cunhada para irem apanhar laranjas (das verdadeiras) acredito em tudo.
Em relação à psicose da novela, isso já me parece mais embrutecedor, sobretudo porque assisti a esse fenómeno (fenômeno) no Brasil com muita intensidade. Senti-me um alien por não ver nem uma novela...Com tanto cinema, teatro, livro que há, a novela dura eternidades e acaba por fazer das pessoas seres alienados, que gostam das coisas indianas mas não gostam de indianos. Só serve para descontrair.