terça-feira, 30 de junho de 2009

Um tipo de tempero...

Hoje fizeste 63 anos. Amanhã é a M. Menos uns (bons) quantos.
Almoçámos, estivemos juntos como sempre quando cá estás. Sei que nunca te basta. Creio que aos pais nunca basta porque o vosso amor por nós alimenta-se de nós e quando estamos juntos vejo-o crescer.
É bom P. É muito bom. Mas hoje é o teu dia. Hoje o princípe foste tu.
Há dias, houve dias em que não apetecia ver-te, estar contigo. Quem me ler pode-me achar uma cobra daquelas que sibila veneno pela língua mas os 30 anos dão-me esta espécie de segurança (por mínima que seja, às vezes) de me estar a marimbar para o que os outros (ou alguns quantos outros, pelo menos) pensam.
Todos os filhos, aliás todas as pessoas em todo o tipo de relações têm desses dias. Feitos de nuvens e de cinza-escura em que, pela mão da mágoa, desejam esse afastamento, esse titubeante isolar. Recolher obrigatório até que a chuva da Dor passe, tornando-se aguaceiro fraco. Até o sol da ferida ter secado e a saudade voltar a bombear o coração.
Hoje queria muito estar contigo. Aliás toda esta "vez", como nós lhe chamamos. Este "turno" (shift como tu dirias no inglês que te é imediato)chamou mais por ti que outros. Egoísmo meu? Sem margem para dúvidas.
Eu sei porquê. E tu também. Mas se não fosse aos trinta que me torno um pouco (mais) egoísta, então quando seria?
Quando nasci, tinhas trinta e dois. Hoje pensei muito nisso. Talvez pela proximidade em relação a esse número. Estou lá perto e espero lá chegar. Creio que sim, pois como fui enxertada em corno de cabra (salvo seja) creio que chegarei mesmo e muitos mais farei.
Até porque tu o desejas e os desejos dos pais têm muita força.
Hoje estavas (ainda mais) bonito. Claro que já o és e que estou a ser totalmente tendenciosa mas quero bem saber. És meu e eu é que sei.
Hoje quis muito estar contigo. Já o disse? Pelos vistos não foi ainda suficiente pois os caracteres saem à mesma. Falámos dos hamburgers na Costa e nas idas ao Galeto e ao MacDonald's (se este blog vivesse de publiciade já estava bem lançada, com direito a férias numa ilha tropical plena de dengue e malária e tudo) do Saldanha quando ainda não havia outro e era um luxo lá ir, pois os outros colegas da escola nunca lá íam.
Quanto mais cresço do alto da minha baixa estatura mais consciente me torno do "rabo virado para a Lua" que tenho. Já mo disseram muitas vezes, provavelmente não no melhor tom nem com a melhor das intenções mas essas ficam sempre com as quem pratica. E ainda assim foram aceites.
Esta coisa da idade torna-nos mesmo mais tolerantes. Não em tudo. Em certos aspectos até mais intransigentes, mas no que toca à disponibilidade para o que é Diferente de nós, creio que sim.
Discordamos em tanta coisa P. Ainda hoje disseste coisas que se opõem a muita coisa em que acredito. Oiço-te deliciada porque és meu e sei que se o dizes é porque a tua crença assim to dita. Quem sou eu para me colocar acima dos teus 63?
Egoísta que sou queria-te cá, pelo menos, outros 63. Sei que é possível pois nunca acabarás. Para isso tenho uma irmã que anseio que se reproduza (K, esses trabalhos de casa nao estão a ser feitos!!).
Gosto do teu bom coração (é que é mesmo bom, porra), a tua disponibilidade e espírito de sacríficio que não existe quase. E disso sei bem pois vivendo eu de Pessoas, observo-o bem e já o senti na pele. Gosto da tua voz. E das tuas mãos. Não por serem parecidas com as minhas, mas porque se deram às minhas tantas vezes quando era (mais) pequenina. Gosto do teu riso, da tua gargalhada. E dos teus nervos nos jogos do Benfica. Admiro a tua paciência (quem mais iria ao estádio do Bonfim procurar a seguir a um jogo com o SLB um aparelho para os dentes que todos sabíamos ser impossível lá se encontrar ainda?).
Do que gostava? De te ver sempre bem, feliz quando a felicidade o permite e bem de saúde como até agora. Já sabes: mais 63, no minímo. I aim high.
Gostava que não sofresses tanto o Amor. Hoje li numa entrevista de uma conhecida actriz braileira (tem menos um aninho que tu, e ainda está para as curvas, seria jeitosa para ti) que disse algo que só os 62 lhe trouxeram e deixo aqui para ti e para quem se queira permitir viver.
De preferência sem trevas.
"Já sofreu muito por amor?
"Nao. O sofrimento aceitável no amor é um truque romântico, um tipo de tempero, só tem sentido se for em doses homeopáticas. Amor não combina com sofrimento, isso é coisa de masoquista. Discutir, negociar, até brigar, tudo isso faz parte de uma relação amorosa saudável, são coisas que fortalecem. Quando o motivo do sofrimento na relação é a incompatibilidade séria com o parceiro, aí não dá."
E quem fala assim, não é gago.
No mínimo, lúcido. Muito lúcido.
E eu gosto disso. Parabéns P.

4 comentários:

alma-em-4-corpos disse...

atão escreve-se "aguaçeiro" e "cresco"? ai, ai, ai ... sou uma intolerante. vale-te o aniversário do teu progenitor, como atenuante :)
parabéns ao teu pai, só n digo que é o maior pq o meu nasceu 1º e já resgatou esse título :)

Vanessa disse...

Oh my God...é o que dá não reler..vou já tratar disso...
Beijos mil.

Anónimo disse...

Olá. Tá lindo. 1 Beijo grande.

Reptícia

Angelo disse...

Kika, coisas lindas! Até me emocionei, pá!
Sim, que aos 30 um gajo emociona-se!

E que saudades tenho eu dos meus pais! Nem te passa!

Ps - Vês que eu já te tinha dito o mesmo sobre o sofrimento de amor...