sábado, 11 de julho de 2009

Da síndrome do caracol

Nunca como agora a expressão silly season ganhou tanto significado como agora.
Que o Verão acelera os batimentos cardíacos por esses praias fora (pelo menos aquelas em que se tem 50 centímetros de espaço para se estender a toalha), que a vontade de sair à noite aumenta para se aproveitar o “fresquinho” da noite (que agora se confunde com aquele fresco a que chamamos frio de Inverno, mas sendo Verão, fica melhor dizer “fresco) e que muitos andam mais alegres com a perspectiva das férias.
Ora as férias…para o Portuga médio, como se sabe, representa duas coisas: ir para a “santa terrinha”, que costuma ser nas Beiras ou no Alentejo (o Allgarve é para a Maya e a Marta Aragão Pinto) e que significa demorar 48 horas a preparar a bagagem -incluindo comida e bens necessários que, obviamente, existem em grande quantidade no destino para onde vão, mas que mesmo assim, “nunca se sabe e lá é tudo mais barato”- até quando tem o mesmo preço.
O português gosta de todo este ritual, vive com a eterna síndrome do caracol. E a casa às costas não lhe chega. Tem de levar ainda a roupa, a comida, os sacos de plástico, o papel higiénico (na “terra” não há?) e claro, sente-se satisfeito quando o peso do veículo excede em quase 20 kilos a sua capacidade normal. E se houver um acidente? “Não que eu tenho uma condução defensiva”. Sim com 20 kilos a mais tem uma condução defensiva… para as mercearias que vão carinhosamente acondicionadas lá atrás, mas para os seres humanos que consigo viajam, a conversa já será outra.
A outra coisa que o português associa a férias é o campismo. O português não acampa. “Faz” campismo. Torna-se uno com aquele solo, aquelas tendas e roulottes. E claro, os quinze primos, os sogros, os filhos e os tios vão consigo. Não há nada como o calor humano no meio da natureza. E a Camping Gaz. E leva assim o fogão, as mesas, cadeiras, roupas, tachos, panelas, o palitinho, e o repelente para as “melgas”.
E no âmago de tudo isto está a mãe de família. A mulher do “Zé”, que continua a cozinhar (mas agora para 15 em vezes de 4), lavar, passar(?), tomar conta dos filhos (e dos filhos dos outros) e que se mostra feliz, encantada com aquelas férias “sossegadas e baratas”.
E o Zé e os seus primos e amigos lá estão, sentados nas cadeiras de plástico, a jogar à “sueca”, a beber mais meio litro de cerveja, e a pensar, deleitados, na “soneca” que vão fazer. A “Maria”? Essa está perto do alguidar, na sua segunda ronda de loiça.
E que bem se está no campo…

Vanessa Limpo

in "Expresso Sem Mais", edição de 11 de Julho de 2009.

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