domingo, 26 de abril de 2009

Weeds

Ainda gostava de saber qual é o problema ou, pelos vistos, a "impossível" coexistência na mesma pessoa em apreciar coisas totalmente díspares?
Oiço frequentemente com tom de crítica, leio em blogues, revistas, etc, uma chuva de crítica ao blogues ditos "de gaja", ou numa versão mais politicamente correcta, blogues femininos.
Critica-se as Pipocas deste mundo e demais blogues, rotulando-os de fúteis, inúteis (passe-se a redundância), desinteressantes e ressabiados...
Diz-se que só podem ser (sim, que mais poderia ser??) mulheres sentidas com a vida, com fraca vida sexual, frustradas, que só sabem colorir com tons de "gaja" (once more) as linhas do que escrevem.
Acusam-nas ainda de não saberem escrever. Duvido que tenham lido os posts até ao fim. O preconceito impede de ler-se um pouco mais, de procurar para além dos sapatos, vestidos ou marcas de óculos-de-sol.
Não há pachorra. A questão da escrita feminina vs masculina é já mais velha que a sede de Braga. Não tenho já a menor vontade de a debater.
Gosto de ler algo que me divirta, me leve para longe do meu comezinho quotidiano mas também não sou assim (tão) estúpida, caramba. Ainda creio ter algum poder de triagem. A minha capacidade cerebral não ficou (ainda) totalmente retida nas cores berrantes, nos posts que versam as últimas tendências da Moda.
Acho uma total hipocrisia que um homem (ou mulher) venha dizer, escrever, seja qual for a forma que se expresse, que é fútil uma mulher gostar de ler revistas cor-de-rosa (mais uma vez a obsessão da cor), ou ler blogues que, veja-se bem, sendo escritos por mulheres, têm uma escrita previsivelmente... feminina, quando depois passo por um quiosque ou vou num transporte e vejo dezenas de pessoas a ler o "Diabo" o "Crime" ou a discutir a arbitrgam do último derby!! E ainda bem para eles/elas. É lá com eles/elas!Não estou acima de ninguém!
Assim, empacota-se tudo na mesmo saco (reciclar e colocar tudo nos sacos certos custa mais), toma-se a parte pelo todo e vai daí, lê-se 2 ou 3 posts e visto que falam de frivolidades, cataloga-se a sua autora. E este discurso aplica-se não só à escrita feminina mas todo o universo feminino.
Eu não sou feita apenas de uma camada ou um prisma. Não gosto apenas de uma coisa ou de um grupo de coisas. Não estagnei, o que sou hoje não é igual ao que era há 3,4,5 ou 10 anos! Não depreendo igualmente que os outros sejam apenas uma e uma coisa apenas. E que o sejam...sempre.
Sim, gosto de ver as montras das lojas de vez em quando, faz-me bem quando o orçamento assim o deixa, presentear-me com uma roupa, espreito alguns programas fúteis na TV como toda a gente faz, leio uma revista menos "digna" do meu grau de instrução, so what?
Isso faz de mim mais estúpida? Mais frívola? Pois que sim, que faça. I won't aprreciate myself less. Impede-me de, em seguida mergulhar numa conversa que considero inteligente e frutuosa com alguém? Impossibilita-me de ler outro tipo de livros, de ver outro tipo de filmes? Mata-me a sede de conhecer sítios, pessoas, espaços que sei serem mais ricos intelectualmente?
Nunca fiz um teste de Q.I e não tenho a menor curiosidade em fazê-lo. Estou satisfeita com o que tenho. Há gente muito mais inteligente, interesante, douta e culta que eu. Consigo viver bem com isso.
Tenho a perfeita noção que nunca lerei todos os livros que quero ler, nem ver todos os filmes que gostava de ver. Sei que ainda sei muito muito pouco, e cada vez sei melhor isto.
Isso vem da idade, de ver, ouvir e estar em sociedade. Vem com experiencia que ainda sendo parca, vai-nos ensinando algumas coisas. Que nunca são as suficientes.
A inteligência, a perspicácia, a tenacidade, e sobretudo, a sensibilidade de nós e dos outros não vem nas revistas do social, nem nos pares novos de sapatos que compramos, é um facto. Mas tendo feito um curso ligado à so called intelectualidade, e com a distância dos anos, também não foi lá, no âmago desses autores, pensadores que me descobri. Não foi isso que me fez seguir o trilho que segui. E ainda sigo e ainda descubro, todos os dias.
O(s) trilho(s)que seguimos são muitas vezes ditados até por circunstâncias que começam por nos ser exteriores e que depois, vamos moldando, torneando, esculpindo. O início é arbitrário mas o fim é sempre nosso.
Isto para dizer que o equilíbrio e a inteligência não se mostram apenas por sinais exógenos. É insultuoso e até redutor rotular alguém pelo o que apresenta num blogue sem conhecer a pessoa no seu todo, sem ler tudo o que escreve ou diz.
É ainda mais insultuoso colocar todas as mulheres no mesmo saco. Claro que há mulheres completamente estúpidas, tontas e incultas.
Todavia há que perceber que embora a raiz seja a mesma, os ramos são todos muitos diferentes. E quem não o quer ver é porque vive rodeado de ervas daninhas.

9 comentários:

paulo disse...

sempre gostava de saber quem te chateou para teres tecido este desabafo! é que toda a gente devia saber que além de sermos feitos de contrastes e paradoxos, nunca existe só um prisma. além disso, quem te conhece sabe bem como és sensível, inteligente, dedicada e tudo menos frívola. e a classificação para quem não te/vos percebe ou é estúpido ou misógino.

abraços

Vanessa disse...

Paulinho, creio que houve algo que não entendeste bem em relação a este post, isto não é um desabafo/recado a alguém, pois ninguém me atacou. É apenas uma pequena reflexão sobre a forma como o mundo feminino (neste caso com especial enfoque sobre a escrita) é visto por algumas pessoas.
Nothing personal.

paulo disse...

ah, prontES! fico mais descansado... pensei que tinha de bater em alguém lol

kisses

Angelo disse...

Muito bem dito. E, obviamente, isso funciona em relação à gajas, como os gajos, como... enfim...

J. Maldonado disse...

Quem tem um blog, seja homem ou mulher, pode encarnar uma personagem através do que escreve. Logo, muitas vezes os temas que posta não permitem aferir em absoluto o seu nível cultural.
Não acredito que hajam blogs femininos ou masculinos, o que há sim são diferentes formas de abordagens de temas.
É absurdamente redutor pensar-se que as mulheres só falam de roupas e sapatos e os homens de cultura e de política. Cada caso é um caso, por isso o teu blog está longe de ser enquadrado nos "blogs de gaja", dada a tua finíssima ironia e a variedade de temas que abordas... ;)

Nokas disse...

Hoje em dia (ainda) há em que se preocupe com opinião alheia...
o melhor é ficar imune a esse tipo de pensamento...

alma-em-4-corpos disse...

muito bom texto. para mim, dos melhores que escreveste. para além dos blogues e das palavras, há a "vida" e as acções. somos plural!!!

Fernanda disse...

Se tudo se reduzisse a esse maniqueísmo que descreves, eu era um gajo, não? Cago em roupas e sapatos, nem me chateio com isso. Mil vezes andar tota do que andar de óculos, isso sim, chateia-me muito, ser míope!
Escrita de gaja há, assim como há escrita de gajo, se formos pelos estereótipos, escreverão sobre cus, mamas, futebol e carros.
Também não sei qual é o problema de se falar sobre questões sexuais, mau sexo, más relações, seja o que for...ao menos fala-se disso, a mulher não vive amordaçada a preconceitos estúpidos, portanto cria um blogue e fala disso. Significa uma coisa: nós mulheres somos exigentes, queremos mais e melhor.
Quem quiser que leia, quem não quiser vá ler Platão, que reduziu as mulheres a animais de estimação. E era um filófoso de jeito, fará se não fosse...

Fernanda disse...

Depois deste meu comentário ainda és mais minha fã, não é, Vanessa?

LOL. Beijinhos,
Fernanda